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terça-feira, 26 de novembro de 2024

Fui para Ilhabela. Acampar

Fui com meu marido e algumas amigas. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi: vou conhecer um dos lugares mais maravilhosos do litoral norte de São Paulo, pisar em praias de areia branquinha e macia, entrar numa água transparente com lindos peixinhos coloridos nadando alegremente em volta dos meus pés, caminhar por uma trilha maravilhosa sob um céu azul celeste e entre árvores frondosas que soam o canto dos passarinhos.

Na verdade, esse foi meu segundo pensamento. O primeiro foi que iria chover, pois havia previsão de chuva para o feriado de finados. Finados sempre chove.

Na ida: Tomei Dramin, pois sofro de enjoo em carros e outros transportes quando o passeio dura mais de duas horas, e a viagem para Ilhabela duraria, no mínimo, três horas. Entrei no carro, fiquei no banco de trás com meu marido e a sobrinha de uma amiga, enquanto nossas outras amigas foram na frente, uma dirigindo e a outra conversando. Dormi no carro. Babei. Fiquei nervosa. Tomei outro Dramin com medo de o primeiro perder o efeito (não façam isso), fiquei grogue e dormi mais. Perdi todas as paisagens lindas que iam se desdobrando pelo caminho. Acordei na balsa, mas sinceramente, não lembro se saí do carro ou não.

Na chegada: Fizemos uma trilha tortuosa de aproximadamente uma hora, a pé, carregando a barraca que nossa amiga (a motorista) emprestara, nossas mochilas e o peso de nosso corpo. Quando chegamos na área do acampamento, um lindo dálmata veio nos cumprimentar. Fizemos carinho nele, ele nos mostrou seu dono, que nos apresentou a área em que ficaríamos e o refeitório do acampamento. Agradecemos, bebemos água e começamos a montar nossas barracas. Durante a montagem, reparei que meu calcanhar estava sangrando. Pensei que o havia machucado na trilha, até que olhei direito e vi uns três borrachudos fixados no local das feridas.

Na estadia: Trilhas infinitas para chegar às praias. Na verdade, não chegamos a nenhuma praia, pois a mais próxima ficava a cinco horas de caminhada.

Enquanto isso, os borrachudos faziam uma sangria caprichada nas minhas pernas, e cada centímetro delas coçava e ardia. Ardia se eu coçasse e ardia se eu não coçasse. Algumas das amigas que haviam levado um bom repelente mal foram picadas. Eu e meu marido não levamos nenhum. Subestimamos a ferocidade desses insetos. E descobrimos que óleo de citronela não funciona – pelo menos não em borrachudos mutantes. Minha menstruação desceu e pensei em pendurar no pescoço um absorvente usado para ver se os borrachudos esqueciam um pouco das minhas pernas (é sangue que vocês querem? Então tomem sangue!), mas não o fiz. Em vez disso, resolvi reclamar a viagem inteira. Passamos fome, pois havíamos levado uns miojos para passar os três dias lá e, como a cozinha do acampamento era comunitária, ficava difícil encontrá-la vazia e com uma panela disponível. Não chegamos a nenhuma praia, mas encontramos uma cachoeira maravilhosa perto do nosso acampamento, há poucos minutos de caminhada. Ouvi passarinhos, deitei na água transparente sob o céu azul celeste e relaxei. Não tinha borrachudos. Um oásis. Quando voltamos para nossa barraca, insetos, calor e desconforto. E gente na cozinha.

Na véspera do retorno: Tempestade. As barracas ficaram inundadas. Molhou nossas roupas, nossos miojos, nossas mochilas… Explodiu um gás ou algo parecido no acampamento e alguém ficava berrando o nome de alguma Juliana que devia estar sob a tempestade sozinha no escuro. Os donos do acampamento ficaram com dó e disponibilizaram uns quartos para passarmos essa última noite. A dona até liberou o uso de cannabis e bebida. Nossas amigas e os borrachudos ficaram para curtir. Acho que a Juliana também. Eu e meu marido resolvemos que era melhor dormir.

Na volta: Paramos numa praia para assar uns marshmallows. Fizemos uma pequena fogueira – bem pequena, mas foi um grande feito conseguir acender uma fogueira com a madeira úmida da tempestade do dia anterior e com o vento gelado que soprava do mar. Comemos os marshmallows, passamos frio e admiramos as paisagens. Não lembro se alguém entrou no mar. Eu não entrei. Os marshmallows estavam incríveis. Não sei se fazer fogueira lá é

permitido, mas reforço que foi pequena e que não deixamos absolutamente nenhuma sujeira.

No fim de tudo: Aproximadamente trinta picadas em cada perna e vinte em cada pé. Sem exagero. Ao chegar a São Paulo, ainda tomei mais uma picada, da injeção de corticoide para aliviar as coceiras. Uns dois ou três quilos perdidos. Umas meias e um edredom mofados. E um baita trauma de acampamentos. Ilhabela é realmente um lugar maravilhoso, de paisagens e praias de beleza indescritível, mas é preciso ir preparado. Leve pelo menos um bom repelente. Escolha um lugar que não tenha cozinha comunitária e que fique perto da praia. E veja lá o feriado que você vai escolher, finados sempre chove.

Autoria:

Georgia Campanelli.

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