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sábado, 20 de julho de 2024

Eu até pensei que era final do Mundial

Na quarta-feira, após terminar a aula de Microeconomia, liguei a televisão e procurei nos canais esportivos o enfrentamento entre Olimpia e Fluminense. As perspectivas eram muito positivas, além da interessante vantagem construída no jogo disputado no Rio de Janeiro, o tricolor estava praticando um bom futebol. Além disso, na véspera, o América Mineiro havia se classificado para a fase de grupos contra um adversário, o Barcelona de Guayaquil, que havia chegado às semifinais da Libertadores do ano anterior. Ventos auspiciosos sopravam na competição para os clubes brasileiros.

Eram 25 minutos do tempo inicial quando comecei a ver o jogo. De imediato, pela narração, percebi que havia algo errado. O tricolor suportava a pressão paraguaia, que na ausência de técnica mais apurada, cruzava bolas ininterruptamente na área do Fluminense. Além disso, o narrador insistia que a defesa estava sólida, que os minutos passavam e o relógio era favorável ao clube carioca. Achei muito estranho, afinal são palavras que costumam ser usadas nos minutos finais das partidas e não na metade do tempo inicial.

O Fluminense, preocupado em manter a vantagem construída no jogo inicial, atuava de forma retrancada em busca de uma única bola, o gol salvador. Naquele momento pensei que assistia o poderoso “Olimpia de Munique” contra o Fluminense na final do Mundial de Clubes. Eu entendo os clubes brasileiros atuarem fechados e em busca do contra-ataque quando enfrentam um grande clube europeu, mas o Olimpia do Paraguai? Faça-me o favor! Mesmo jogando em Assunção, é inaceitável assumir postura de time pequeno.

O clube carioca entrou em campo com a clara proposta de jogar recuado e explorar os contra-ataques. É uma estratégia válida, mas ela precisa contar com atletas rápidos e em perfeito estado físico para que a equipe consiga assustar e conter o seu adversário. Caso contrário, ela se torna uma armadilha perigosa, especialmente na medida em que o oponente percebe que os riscos de sofrer um contragolpe são escassos. O Olimpia rapidamente percebeu a inoperância do ataque do Fluminense e, mesmo sendo tecnicamente inferior, conseguiu sufocar a equipe das Laranjeiras.

É verdade que o gol de David Braz, anulado logo nos minutos iniciais, em lance questionável, poderia ter alterado o rumo da história. No entanto, isto não esconde a inoperância ofensiva e a partida desastrosa realizada pelo Fluminense. Na maior parte dos 90 minutos, a equipe carioca apenas correu atrás dos paraguaios.

Luiz Henrique e Arias, que deveriam dar velocidade aos contra-ataques do Fluminense, estavam recuados em demasia. Além disso, o meu xará, vendido para o futebol europeu, ainda sentia a entrada criminosa que sofreu na partida da semana anterior. Arias, por sua vez, não repetiu as boas atuações anteriores quando saia do banco para colocar fogo nas partidas.

Em vários momentos do jogo, até Cano, atacante do Fluminense, se encontrava na intermediária defensiva. Numericamente, o Fluminense teria adotado um sistema 5-4-1, no entanto, quando todos os atacantes estão em sua intermediária defensiva, esses números não fazem o menor sentido ou, ao meu ver, poderia ser esquematizado em um 4-6-0.

Se Luiz Henrique e Arias não estavam bem, os laterais, que também poderiam puxar os contra-ataques e, desta forma, reduzir a pressão sobre a defesa, também tiveram uma noite muito apagada. Calegari pouco produziu e o Olimpia deitou e rolou nas costas de Cris Silva. Os dois gols saíram em cruzamentos que o lateral do Fluminense foi incapaz de marcar.

Em uma das raríssimas oportunidades de contra-ataque, o jovem Gabriel Teixeira, que havia acabado de entrar em campo, recebeu uma bola que William roubou no meio de campo e perdeu um daqueles gols que ficará ecoando por muito tempo na cabeça dos torcedores.

A situação tornou-se ainda mais dramática quando, ao meu ver, equivocadamente, Nino, defensor do Fluminense foi expulso. Não discuto a falta e a expulsão em si, mas na origem da jogada Nino sofreu uma carga do jogador paraguaio e o juiz deu vantagem para o atleta tricolor, equivocadamente.

Quando o Fluminense conseguia tomar a bola, faltou o jogo apoiado, a aproximação entre os atletas para a troca de passes mais curtos e as triangulações. Se tivessem atuado desta forma, teriam ficado mais tempo com a bola, o que reduz o risco de sofrer um gol, e que também gera maior desgaste físico no adversário que precisa pressionar a marcação continuamente. Correr atrás da bola cansa!

Os caminhos que levaram à vitória do Olimpia sobre o Fluminense não são difíceis de entender e podem ser sintetizados no velho ditado: “água mole, pedra dura, tanto bate até que fura”. O jogo de ataque contra defesa dava sinais, desde o primeiro tempo, que o Fluminense se encaminhava para uma tragédia. De tanto insistir, nos últimos minutos, o clube paraguaio chegou ao segundo gol e só não se classificou sem a necessidade dos pênaltis porque David Braz salvou o tricolor já nos acréscimos.

Nos pênaltis, os atletas mais experientes, que deveriam trazer equilíbrio emocional nos momentos mais tensos, foram os que erraram as cobranças. William, que havia entrado bem no jogo e Filipe Melo perderam as duas primeiras cobranças. Com a vantagem e tranquilos, os paraguaios fecharam a série em 4X1 e avançaram na competição.

Eu gosto dos trabalhos desenvolvidos pelo Abel, mas desta vez ele se equivocou na estratégia para o jogo, em sua manutenção após o retorno do intervalo, na escalação e nas substituições. Já perdendo por 1X0, gol marcado ao final da primeira etapa, o Fluminense manteve a mesma mentalidade de jogo. O Olimpia, em diversos momentos, tinha 10 jogadores no ataque pressionando e recuando ainda mais o Fluminense.

O tricolor jogará agora a Sul-Americana e, sejamos francos, com possibilidades de título muito mais elevadas do que na Libertadores. No entanto, e aqui se encontra o problema, financeiramente a desclassificação pode ser entendida como uma tragédia. O clube carioca montou um elenco mais caro que o habitual apostando em uma campanha mais longa na principal competição do continente. A fase de grupos da Sul-Americana representará aproximadamente um valor três vezes menor do que o clube conseguiria na Libertadores, ou seja, ela não paga a atual folha salarial do clube. Será preciso muita tranquilidade nas Laranjeiras, afinal os bons ventos que sopraram até agora podem virar uma grande e perigosa tempestade.

Autor:

Luiz Henrique Borges

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