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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Baleias, Foz do Iguaçu e o Problema Ambiental

Dado o título que introduz este desabafo que decidi chamar de crônica, talvez interessados – mas não entendidos – de assuntos do meio-ambiente cheguem até aqui de para-quedas. Neste caso, peço desculpas meio sinceras e os convido para sentar comigo na mesa do bar da esquina e oferecer dez minutos de ombros e ouvidos amigos.

Hoje, sexta-feira, cheguei mais cedo no trabalho (não porque eu seja exemplar, mas porque quero ir embora mais cedo também) e por alguma razão difusa da qual não consigo me lembrar, coloquei-me a pensar sobre o uso do termo “encalhamento” para fazer referência aos solteiros e assim como quase tudo o que nos concerne por parte da tradição social, achei um absurdo. Mas ainda não é esse o ponto.

Encalhar, no sentido estrito do verbo, significa alguma coisa relacionada a navios – no sentido figurado, o que quase sempre interessa, significa “não ter continuidade, ficar preso ou embaraçado”. É a ideia do produto na prateleira do armarinho longínquo em Foz do Iguaçu que está lá desde a fundação do mundo e não sairá se não por interesse específico de um comprador raro ou com destino à doação,à lixeira, ou sabe Deus o quê. É ser a coisa invisível no meio da pluralidade sufocante de coisas visíveis. Talvez o lugar e a prateleira sejam eternos.

A questão é que além da ideia subentendida de que um ser humano necessariamente precisa de um relacionamento amoroso para ter continuidade, o sentimento de ineficiência e rejeição sobrepassa os termos e as eras. É um problema do ambiente em que vivemos e fomos criados. Hoje, sexta-feira, isso pesa como nunca e os casais passeando de mãos dadas ressonam como o auge do privilégio e o lembrete estrito do fracasso.

Uma pessoa encalhada é, em tese, uma pessoa que não foi escolhida. E o peso de “não ser escolhida” é mais grave nas costas de muitos (principalmente mulheres) que o próprio Everest seria. Se a sensação de sobrar nos times da Educação Física ou nos grupos de trabalho é péssima, imagine isso se perpetrando! Inconscientemente, passamos a nossa vida tentando ter atributos e critérios suficientes que façam alguém dizer “eu quero você”. Infelizmente, isso está quase sempre ligado à aparência física porque no fundo, apesar dos discursos dissonantes, nós acreditamos que a primeira impressão é a que conta e que ela é necessariamente visual. A afirmação aurea de alguém te ama pelo que você é, no fundo, quase sempre carrega a premissa do deleite visual.

Muitos de nós tem dito que não se importam enquanto, secretamente, aceitam menos que deveriam e/ou criam máscaras para se esconder da verdade. Alguns de nós tem dito “eu me escolho, eu me amo, eu sou o suficiente” de maneira sincera e elogiável, enquanto o discurso de outros é pautado na necessidade de esconder a fraqueza ou na necessidade de autoafirmação por meio dos clichês da solteirice convicta.

Francamente, a todos nós: o encalhamento importa sim.

Mas não (só) desse jeito.

O importante é não ficar encalhado: na própria vida, nos próprios medos, nas limitações e nas prisões da rejeição. O importante é não permitir que qualquer coisa afete sua continuidade, te faça preso ou embaraçado. Com ou sem relacionamento, uma vida encalhada é o mais triste dos desfechos.

Por fim, há quem se apegue na escolha de terceiros para bradar em alta voz que “encalhado? nunca fui!”. Se o primeiro passo para o sucesso relacional é a beleza, o último deveria ser a coragem: a de “voltar à prateleira” porque o “sim” de alguém tem custado sua paz, sua saúde, sua integridade e sua vida. As pessoas têm dito por aí que o preço de uma

Vida nova é a antiga… E o preço da continuidade é a decisão de se desfazer do pseudo porto-seguro.

Autora:

Camila Amizadai.

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