As técnicas de aprendizado de máquina, uma forma de inteligência artificial, estão fornecendo novas ferramentas que ajudam os arqueólogos a decifrar textos antigos.
O exemplo mais recente é uma inteligência artificial criada pela DeepMind, subsidiária da Alphabet, que ajuda não apenas a restaurar antigas inscrições gregas, mas também fornece pistas acerca de quando o texto foi escrito, com uma acurácia ao redor de 30 anos, além de indicações acerca do local de onde o texto provem.
Quando encontrados, esses textos estão frequentemente danificados, tornando o processo de decifrá-los extremamente desafiador. O fato de quase sempre estarem inscritos em pedra ou metal impede a datação por carbono-14.
Para resolver esses problemas, normalmente são usadas técnicas manuais de comparação com outras peças, envolvendo estilo dos caracteres, material usado e outros, mas nas ocasiões em que há falta de partes dos textos, isso se torna ainda mais difícil.
A nova inteligência artificial foi batizada como Ithaca, uma pequena ilha grega do mar Jônico onde teria vivido Odisseu, o herói da obra de Homero. Ela foi treinada com o uso de um conjunto de dados de cerca de 78 mil inscrições gregas antigas, cada uma delas com metadados que descrevem onde e quando foi escrita. Como todos os sistemas de aprendizado de máquina, Ithaca procura padrões nessas informações, criando modelos matemáticos, que por inferência sugerem o conteúdo faltante no textos, bem como sua data e local de origem.
Em um artigo publicado na revista Nature, os cientistas que criaram Ithaca dizem que ela é 62% precisa ao sugerir caracteres que complementam textos danificados. Pode também indicar as origens geográficas de uma inscrição com 71% de precisão e datar um texto com acurácia ao redor de 30 anos.
São números promissores, mas é importante lembrar que Ithaca precisa da experiência humana, pois suas sugestões são baseadas em dados coletados por métodos tradicionais, e seus criadores, cientes disso, a estão posicionando como mais uma ferramenta de trabalho para os arqueólogos e não como algo absolutamente automatizado.
A experiência ganha em seu desenvolvimento e uso pode ser levada para outros campos, como o da investigação forense.
Autor:
Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor de empresas e diretor do Fórum Brasileiro de IoT.