Estamos vivendo num tempo de extrema e de aceleradas transformações, não só por conta da pandemia da COVID-19, mas também pelo anseio da humanidade em serem criadores e não criatura.
A interpretação da Bíblia Sagrada passou a ser uma euxegese em vez de uma exegese que analise por completo os aspectos, culturais, sociais, políticos e econômicos de quando foi produzida a sua redação. A literalidade da interpretação, não pode ser relegada e reduzida somente a pontos de interesse ideológicos.
Hoje o universo evangélico e gospel, subjugou a palavra, o verbo encarnado, não é mais Cristo o centro da Igreja, e sim a prosperidade, o dinheiro, a fama e o status de evangélico, de pastor, presbítero, missionaria e apóstolo. As empresas evangélicas se tornaram neste tempo o investimento mais lucrativo. A cada esquina vemos uma Igreja, um ministério novo, isso me mostra a ausência de líder máximo, de um fermento que realmente unte todos os trigos e, que não rechace o joio. Eu enquanto trigo, nada posso fazer, em relação ao joio, a não ser mostra-lhe todos os dias minha luz, minha viscosidade minha beleza e dizer ao joio que ele pode sim se tornar um trigo.
A necessidade de um representante da grande massa evangélica, que ansiava por um chefe de estado que professasse a fé cristã, permitiu que Bolsonaro a exemplo de Constantino em 312 D.C., ao ter um sonho com uma cruz antes de uma batalha, e ao vencer diz ao povo que foi permissão do Deus cristão, e o povo sedento de um tempo de anistia proclama este líder então seguidor de Cristo.
A mensagem de Jesus de Nazaré de nada tem haver com os feitos, mandos e desmando de Constantino, assim como não tem hoje com Bolsonaro.
A política de Jesus, não foi uma politica armamentista, excludente, preconceituosa e machista, bem polo contrário lemos nas páginas do Novo Testamento, as mulheres, as viúvas, os pobres e marginalizados sendo o foco de preocupação do Mestre.
Ser cristão é mais do que se batizado no rio Jordão, por um pastor. Porque isso até um cachorro pode ser, e a minha pergunta é: este cachorro herdará o Reino dos Céus? Se pensarmos em humanidade sim, pois os animais ditos irracionais são os que praticam muito mais empatia, solidariedade e amor pelo próximo e, respeitos pelas diferenças muito mais do que um homo sapiens.
Sou Cristão porque acredito muito mais na essência humana, e no valor conceitual da palavra humano, do que nas diferenças étnicas, culturais, de credo e de do bem-estar de gênero.
Sou Cristão, pois, creio que nada posso sem Ele, e que mesmo com todas as minhas idiossincrasias ele me ama.
Sou Cristão porque, sei que sou pecador e que meu julgamento perante uma atitude de meu próximo me afasta da presença do Pai.
Sou Cristão, pois creio veementemente que sou livre para ser quem desejo ser, com minhas falhas, acertos, erros, dores, angústias, certezas e incertezas da vida.
Sou Cristão porque existe amor em mim, e não ódio ou sequer desprezo pelos que se colocam do outro lado do rio.
Sou Cristão porque acredito na humanidade, nas pessoas, e tenho o sonho de viver num mundo melhor, ou pelo menos deixar um mundo melhor para minha descendência.
Sou Cristão porque não entendo a cultura como inimiga e sim como possibilidade de interdependência.
Sou Cristão, porque não tenho um olhar, uma visão unilateral da vida e sim uma visão holística e generalista, do que é ser, ser humano.
Eu não sou Bolsonarista, porque não vejo em suas ações, falas, gestos, atitudes o amor que Jesus de Nazaré, nos ensinou e nos deixou como legado.
Eu não sou Bolsonarista porque a despeito de minha fé da minha crença e adoração, eu acredito na ciência.
Eu não sou Bolsonarista, pois sei que todas as formas de amar tem sua raiz no “Ser Amor” (Cristo).
Eu não sou Bolsonarista, porque ao lado da Bíblia que leio todas as manhãs, não tem uma 765 carregada. Pois a segurança que necessito está em Cristo em mim. “(,,,) Se o Senhor não guarda a cidade, em vão vigia a sentinela.” (SL, 127: 1b)
A necessidade de domínio e poder de grandes líderes gospel do nosso país permitiu que satanás enganasse e ludibriasse a muitos. O Apóstolo Paulo em sua segunda carta a Igreja de Coríntios escreve assim: “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras.” (11: 13-5).
Já a filósofa e doutora em educação Nadja Hermann escrevendo sobre a sociedade contemporânea nos adverte: “Existe uma inegável insistência em valorizar mecanismo de homogeneização dos indivíduos. Todos precisam ser iguais e caso fugam desta proporção moral, serão os diferentes, e os diferentes não podem existir numa sociedade de iguais. Essa construção dos laço humano gera frieza e distanciamento, pois ao “atender demandas universais, negligenciam as particulares dos contextos e sacrificam a alteridade”.
O movimento Bolsonarista, se fez presente em nossa sociedade com o intuito de justapor todo um trabalho com um viés mais populacional, iniciado por Fernando Henrique Cardoso e, posterior a ele Lula que consolidou políticas sociais, onde a máquina pública passou a dar uma atenção, mesmo que germinal, para àqueles de que fato a alimenta.
E neste 2022 é o tempo de sermos cristãos, independente se você é evangélico, católico, espirita, candomblecista, umbandista, agnóstico ou ateu, é tempo de unidade na pluralidade como bem salienta Afonso Garcia Rúbio, até porque o verdadeiro cristianismo não é uma religião é uma filosofia de vida, ou melhor uma filosofia da vida. Pois o Jesus de Nazaré, O CRISTO, foi é e sempre será a essência da humanidade, “o qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”( CL. 1:15). E quando se entende o verbo encarnado, não há espaço para mitos.
Por isso, sou Cristão e não Bolsonarista!!!
Autor:
Rafael Mello, Educador, Teólogo e Psicoterapeuta.