A imaginação é, a meu ver, a mais poderosa e a menos conhecida das muitas capacidades mentais dos seres humanos, todas altamente desenvolvidas quando comparadas às das outras espécies animais. Se, por um lado, a inteligência é que nos permite investigar o plano da grande construção universal, e até nele interferir, desde o aspecto macro das galáxias, aos mínimos detalhes da arrumação genética do vírus que ameaça nos destruir, para vencê-lo, por outro, foi sempre a imaginação, o pensamento criativo, que orientou por que caminhos a humanidade deveria trilhar para ter sucesso na sua corajosa caminhada pelos atalhos arriscados da vida neste planeta. Entendo-a como misteriosa e responsável pela ousadia da nossa raça.
Levou-me a essa conclusão, a recente escolha do Lema para o ano rotário 2022-2023 da Presidência do Rotary Internacional, cujos mandatos são de um ano, iniciando-se a cada 1º de julho. O próximo será assumido por Jennifer Jones, a canadense que como todos os seus antecessores, em solenidade com audiência e expectativa mundiais, apresentou à comunidade que irá liderar, a ideia-força expressa numa frase, resultado das suas reflexões, como novo dirigente, quanto ao momento da instituição, do mundo e de como o Rotary poderá melhor cumprir seus objetivos humanitários e em prol da paz mundial, por ele perseguidos há 117 anos.
A primeira mulher a presidir Rotary International divulgou, em 20/01/22, seu lema: “Imagine Rotary” (original em inglês), que para o nosso idioma passou a “Imagine o Rotary”. Talvez esse tenha sido o menor dentre as dezenas de lemas rotários. Ficamos, todos os rotarianos do mundo, frente a um convite: Imaginar o Rotary. Por quê? Para quê?
Há 51 anos, John Lenon, nos convidou a imaginar o mundo com sua canção-poema, “Imagine”, por liberdade, paz e amor. Tal como Lenon, Jennifer sabe que imaginar pode não ser um exercício inócuo, e ela também procurará, daí, extrair consequências.
A imaginação consciente é feita de pensamentos e é de tal forma poderosa que a própria religião admite que podemos pecar por “pensamentos, palavras e obras”, como aprendi mesmo antes da consciência estar pronta para tais conceitos. As realizações, das mais simples às mais complexas, nascem de projetos que nada mais são que produtos materializados a partir da imaginação dos projetistas, nas mais diversas áreas das atividades humanas.
Percebo a ocorrência de manifestações, do que me parecem ser fenômenos da imaginação, que ocorrem sem a participação da consciência. Longe de ser negacionista, pelo contrário, tenho formação cartesiana, com base nos primórdios do Iluminismo, mas acho que o sonho e a hipnose, são manifestações desse tipo, o que para mim soa como mistério, pois não vejo claramente (talvez por ser leigo) seus mecanismos. Entendo que a imaginação é terreno de fuga, de alienação para aqueles que seguem incapazes de lidar com as realidades do cotidiano ou de superar situações traumáticas.
Recentemente esteve na moda a programação neurolinguística que possibilitava, entre outros feitos, o treinamento de esportistas apenas com práticas mentais, por vias imaginativas. Um coach americano, Anthony Robbins tornou-se famoso com livros e apresentações desses temas. Tenho conhecimento que em quase todas as modalidades esportivas resquícios desses ensinamentos permanecem vivos.
Na primeira década dos anos 70, surgiram nas universidades de todo o mundo, a divulgação dos sistemas de meditação com base em filosofias orientais, que prometiam relaxamento físico e psicológico com consequente melhora no rendimento intelectual. Noto que a meditação ganhou espaço na sociedade ocidental. Se antes guardava algum apelo místico, hoje é um processo quase mecânico, que trabalha com a imaginação e tornou-se produto de consumo nas sociedades modernas.
A essas práticas meditativas associa-se também a Visualização Criativa, que nada mais é que antecipar mentalmente a realização de eventos futuros, numa espécie de lubrificação dos caminhos neurais e emocionais para enfrentar situações que possivelmente ocorrerão. Algo que se faz também com a utilização dos videogames, para condições específicas de treinamento.
A presidente de Rotary International 2022-2023, com seu desafiante lema pretende que a comunidade rotária mundial imagine o Rotary perfeito: Aquele que ao receber as demandas por serviços humanitários que lhe chegam dos cinco continentes, possa atendê-las, a todas, por maiores que sejam. Ela sabe que o primeiro passo para que isso aconteça é imaginar que, de fato, já estejamos preparados para tanto.
O “Imagine” de Lenon e o de Jennifer como forma de otimizar o futuro, vale para o mundo, vale para o Rotary, vale para a família, para o indivíduo e para um país.
Agora, Imagine o Brasil!
Imagine o Brasil com um povo feliz, sem fome, sem miséria. Atendido por bom sistema de saúde e por escolas competentes. Com as desigualdades econômicas e sociais colocadas em patamares das sociedades civilizadas. Com a natureza desfrutada para nosso bem-estar, sem depredá-la. Que esses estejam entre nossos objetivos nacionais, colimados por todas as correntes político-ideológicas, que se comprometerão a sempre terem atitude positiva na sua consecução, mesmo quando fora do poder.
Você acha que o seu candidato esposaria essas ideias e trabalharia para alcançá-las mesmo se não for o eleito?
Crônicas da Madrugada.
Autor:
Danilo Sili Borges, membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA.. Brasília – Jan. 2022.