Na antiguidade, a velhice era considerada o período de maior sabedoria e por isso, os mais jovens se reuniam em volta de um ancião na busca de conhecimento. No decorrer do tempo, as coisas foram se modificando e a importância dos idosos foi dando lugar a outros interesses mais atraentes, como as ferramentas tecnológicas. Essa nova realidade foi logo assimilada pela sociedade e também pelos próprios idosos que, em muitos casos se consideram incapazes e doentes e por isso pessoas que ainda poderiam ser produtivas, ou seja, pessoas com boas condições físicas, muita experiência e sabedoria, se dão por vencidas e sem mais nenhuma perspectiva na vida. Porém isso vem mudando de uma forma grandiosa. Eu posso me considerar um grande exemplo dessa transformação, porque quando eu pensava na velhice sentia calafrios, pois me imaginava dentro de casa, sem utilidade e, naturalmente, doente. Esse processo perdurou por muito tempo, até que entendi que o envelhecimento é um processo irreversível e natural, porém ser velho é uma opção pessoal. Com esse novo entendimento, eu trabalhei profissionalmente até os setenta e um anos de idade e com muita disposição e lucidez. Entretanto, quando parei, voltou toda aquela crença da inutilidade da velhice. Nesse contexto me veio uma pergunta fundamental: o que vou fazer agora? Porque ainda estou saudável e sei que posso ser útil e contribuir de alguma forma com a sociedade. Então, fui buscar nas minhas memórias algo que pudesse ter deixado para trás e, que por algum motivo, não tivesse sido viabilizado. Desse modo, logo me lembrei do sonho de escrever um livro e até já havia iniciado há anos e desistido por falta de recursos acadêmicos para isso. Aí veio outra pergunta: e o que fazer? Desistir? Não, isso não fazia parte do meu pensamento. Nesse contexto me lembrei de outro sonho que alimentava desde a infância, fazer um curso superior, que por vários motivos até então não havia conseguido concluir nenhum. Imaginemos eu, com setenta e um anos de idade, abraçar um desafio de tamanha envergadura? Desse modo, tive que fazer uma opção das mais importantes e difíceis que já havia tomado. Porque exigiria um esforço sem precedente para conseguir as ferramentas indispensáveis para dar curso a esses objetivos. O primeiro passo foi me dedicar com toda a alma aos estudos que perpassaram da filosofia, sociologia até a teologia. Um ano depois me matriculei em um curso superior de filosofia, com excelentes resultados até esse momento. Dessa maneira, em três anos de uma possível “inutilidade” eu já escrevi uma trilogia infanto-juvenil, já publicado, um livro de contos em fase de preparação na editora para publicação e, em breve, mais dois romances que estão em revisão, serão também publicados.
Eu quis mostrar esse exemplo, para chamar a atenção das pessoas no sentido de desconstruir essa concepção errônea de que ser velho é ser doente. Até porque existem muitos outros exemplos de pessoas que ascenderam à prosperidade após completarem sessenta anos.
Portanto, se faz necessário repensar o conceito sobre a velhice e ao mesmo tempo ter um olhar mais amoroso com aqueles que realmente necessitem de maiores cuidados. Isso porque cada caso é diferente do outro, conforme o tempo, o ambiente e o contexto em que se encontra. Todavia, são todos capazes e podem contribuir com as suas experiências e conhecimentos que adquiriram ao longo da vida.
Autor:
Luiz Cunha
Muito boa sua crônica, e de fato, evlhice não é doença… as pessoas que tendem a complicar tudo…