Desde o início da pandemia da Covid-19 os mercados de todo o mundo passaram por diversas turbulências, muito por conta das incertezas do futuro e das crises geradas pela pandemia e pela necessidade de isolamento e de medidas de restrições para combater o vírus. Isso fez com que os mercados focassem e trouxessem para o debate novas medidas de proteção e, também, temas importantes para a sociedade. A COP 2021, por exemplo, realizada recentemente em Glasgow, na Escócia, foi o centro das atenções durante os dias em que ocorreu, com os líderes de todo o mundo debatendo soluções para o desenvolvimento sustentável das nações.
E o que se viu, foi a população e a juventude de todo o mundo saírem do evento frustradas com a falta de avanço nas pautas ambientais, acordos bilaterais, e, principalmente, medidas e investimentos para frear as mudanças climáticas. Essa frustração deixa claro que o futuro terá como tema central o desenvolvimento sustentável, e um grande aliado deste debate deve ser o mercado.
Hoje já existem aspectos que propõem para o mercado uma maior responsabilidade ambiental, por exemplo o índice ESG. Fruto dos termos em inglês Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), ESG vem sendo cada vez mais mencionado nas reuniões de negócios de grandes corporações. Isso porque no Brasil e no mundo cresceu a exigência de investidores e consumidores para que as empresas assumam uma postura voltada ao desenvolvimento ambiental, com atenção para as contribuições sociais e ações de governança.
Em 2021 o tema e a pauta ESG foram essenciais para fortalecer discursos e estratégias de crescimento, como a descarbonização das grandes corporações, por exemplo. Além de agregar nos pilares de atração e retenção de colaboradores que buscam trabalhar em empresas que investem em soluções sustentáveis e que usam tecnologia e inovação no dia a dia, seja para home office, para delivery, para wellness e claro para a mobilidade nas cidades, algo cada vez mais desejado, não só pelas empresas, mas também pelo cidadão. Companhias e corporações que possuem o índice ESG estão sendo mais procuradas para investimentos, principalmente startups com tecnologia verde e sustentável, as GreenTechs, que estão surfando numa liquidez nunca vista antes. Também os fundos de investimento se adaptaram a essas novas tecnologias. Outro movimento que aumentou foi dos Corporate Ventures, onde as empresas estão acelerando novos negócios e startups relacionados a tecnologias verdes, e se tornando sócios, nos mesmos modelos dos ventures capitals.
As estratégias e posicionamentos ESG vão ajudar muitas companhias a encontrarem seus propósitos e alinhar os discursos com seus consumidores de forma orgânica. Um bom exemplo é o Banco Itaú, com a VEC (plataforma de compartilhamento de EVs) e também patrocinadores do Tembici, maior plataforma de compartilhamento de bikes da América Latina. Ambas iniciativas já aparecem nas pesquisas de “share of mind” de marcas. O Tembici, possivelmente por estar há mais tempo no mercado, é a lembrança mais frequente entre os entrevistados. Num processo recente de trainee do banco, muitos candidatos responderam que trabalhar em um local que apoia a sustentabilidade e investe em melhorias de mobilidade urbana os atraíram e será um fator motivador para eles fazerem carreira na companhia.
A pandemia trouxe uma visão mais colaborativa para todos os setores da sociedade, e as empresas entendem seus papéis como “movie makers” para geração de impacto social e de diversidade. Hoje é comum passar na timeline do Linkedin ações relacionadas a mães que trabalham em casa e cuidam dos filhos ao mesmo tempo, lideranças femininas, processos seletivos para negros, deficientes físicos e questões de empoderamento de minorias. Essas pautas, quando bem executadas, estão agregando inclusive nos valores das ações das empresas na bolsa. Cito o exemplo na Natura com a campanha de dia dos pais onde após a divulgação dos comerciais com influenciadores transgêneros as ações fecharam o dia com uma alta de 6,73%, a R$ 47,09. Esse valor representa a maior variação positiva entre os papéis que compõem o Ibovespa no ano.
Este cenário mostra que as empresas precisam incluir metas sociais em sua rota de crescimento, para se adaptar à nova realidade da sociedade e atrair investimentos.
*Guilherme Cavalcante é CEO e fundador do app UCorp. O executivo tornou-se especialista em desenvolver modelos de negócios e produtos digitais com foco em mobilidade. Guilherme é formado em formado em Tecnologia e Mídias Digitais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), e possui pós-graduado em Design de Projetos Especiais pela BAU-Barcelona e Inteligência de mercado pela Universidade de São Paulo (USP).
Autor:
Guilherme Cavalcante