Dentre tantas coisas que nos aconteceu nos dois últimos anos, o que marcou-me primeiro foi a quantidade de valas feitas vista do alto. Enquanto as mãos cansadas dos coveiros não mais tinham forças, entrava em cena a escavadeira para abrir os sete palmos para cada corpo. Não só isso, a mesma vinha tapando os buracos de forma menos humanizada – o foco era a produtividade. Eram tantas diariamente, que precisava ser objetivo, se não acumulava aos montes.
Mesmo com a esperança trazida pelos pesquisadores, as dores ainda aumentavam a cada perda. A vacinação avançava a passos curtos e lentos, enquanto as mortes atingiam números desacreditáveis. Na nova onda, pessoas próximas começavam a “ir” deixando famílias e amigos. Aqui morrer tornava-se banal. Enquanto isso o mundo parecia pedir socorro. Não bastasse o vírus e suas mutações, a natureza seguia e permanece sendo degrada sem nenhum pudor.
Em chamas a terra arde, ecossistemas são devastados pelo fogo, homens dirigentes apoiam a degradação das florestas, sobretudo da Amazônia. Canalhas engravatados trabalham na contramão da tutela, criando mecanismos para legalizar aquilo que é imoral: “passando a boiada”. Tal “boiada” passava e passa bem longe dos pratos dos brasileiros.
A desgraça era pouca, agora luta-se para ter acesso ao osso com fiapos de carne. O que era descartado o capitalismo arrumou um jeito de precificar. O pobre desse mais um degrau e fica miserável. O miserável…
Discursos lançados são apenas para cumprir protocolos. O importante mesmo é o business representado pelo touro dourado da B3. Nunca se ganhou tanto dinheiro diante de tanta desgraça. A corda está esticada a um ponto que não sabemos até quando suportará anomalia.
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Autor:
Dione Castro
28/12/2021
Ótimo artigo, e uma pena tudo que tem e vem ocorrendo em relação a pandemia… enfim, a que ponto chegamos?