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sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Jeito modesto de pedir presentes

Morava naquela rua há muito tempo. Ao lado de casa, havia uma que alugavam-se. De tempo em tempo os vizinhos eram diferentes. Entre religiosos e não, sempre me via em meio a perturbações, entre o som do culto e os conflitos familiares. Por conta da segunda, era frequente a presença de viaturas policias.

Dentre aqueles que ali moraram, foi marcante a temporada da família de Messias, um adolescente de boa aparência e muito educado quando queria. Sua maior fraqueza era a desorientação comportamental. Parecia carregar problemas psicóticos.

A mãe falava que concebera cinco filhos e enumerava-os como um, dois, três quatro e cinco. Dizia que o número cinco, a menina, era quem lhe dava menos trabalho.

Na contagem da mãe, Messias era o número quatro. Era, igualmente, o que lhe trazia mais aporrinhações. — Penso que seja por conta do fato de quando estava sendo gerado, o pai dizia que seria uma menina, justificava.

De fato, Messias era problemático. Ao que parece, gostava de causar. Aliás, causava problemas todos os dias no âmbito familiar, na vizinhança ou em qualquer lugar que estivesse.

O adolescente não era dado a escola. Vira e mexe, a mãe era convocada a comparecer à coordenação escolar quando era notificada das ausências ou atos indisciplinares de Messias. A pedagoga aconselhava:

— Messias, é preciso estudar para se dar bem na vida.

Em uma dessas ocasiões, Messias, que conhecia bem a vida particular da pedagoga, contesta:

— Se estudar é para se dar bem na vida, por qual motivo você é pedagoga?  

Sem resposta, o encontro se deu por encerrado e Messias continuou cultivando problemas.

Fato curioso é que o número quatro, como dizia a mãe, parecia um sujeito de sorte. Dentre os membros da família era o que apresentava melhores roupas e sapatos. Trazia cordão ao pescoço, pulseira nos pulsos, além de anéis. Tudo de boa qualidade. Também era comum sua frequência a lanchonetes ou encomendar lanches entregues em domicílio.

Dentre os predicados de Messias, o principal era o uso de expressões chulas e agressivas em sua comunicação ou em momentos que lhe eram exigidas explicações de atitudes inconvenientes.

Messias era rapaz de sorte. Recebia muitos presentes, o que incomodada à mãe e aos demais familiares. Explicava que eram produtos de sua rede de amizades.

Enfim, aproxima-se a data de seu aniversário. Mesmo em tempo de crise, Messias exigira da mãe festa para comemorar. E teve.

Às vésperas do festejo o padrinho lhe contata para saber o que gostaria de ganhar como mimo para marcar seus quinze anos. Dentre as valiosas opções dadas pelo padrinho, modestamente Messias responde:

— O senhor escolhe, padrinho. Sei que tem bom gosto.

Chegada a data tão esperada, antes que a comemoração iniciasse o presente chegou.

Era uma caixa de sapatos. Messias não revelou o conteúdo contido nela. Tratou apenas de mantê-la em lugar secreto e seguro. Mas fiquei sabendo que a caixa estava abarrotada de garoupas fresquinhas e muito bem acomodadas. 

A festa? Apesar de vizinho mais próximo não fui convidado. Mas com certeza bombou.

Pelo menos foi o comentário de um amigo que fora chamado a participar do evento.

Autor:

Pedro Paulino da Silva

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