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segunda-feira, 29 de julho de 2024

Alcoolismo e seus reflexos

Se por ventura resolvêssemos realizar uma pesquisa em qualquer parte do mundo e em diferentes classes sociais , ouviríamos:

_ Eu bebo para esquecer, porque estou feliz e comemorando, porque estou triste, com raiva, com uma angústia no peito que não sai, porque é gostoso, divertido, socialmente quando quiser parar eu paro,…

_A vida é minha, quero viver a vida, o tempo passa muito rápido preciso aproveitar todos os momentos,…

Motivos não faltariam e a nossa pesquisa estaria com dados carregados nas justificativas.

Tudo bem.

Agora vejamos os reflexos destas justificativas.

Acidentes, muitas vezes fatais, doenças com poucas ou nenhuma chance de cura, perda da autoestima, da identidade pois não o chamam mais pelo nome e sim por bêbado, cachaceiro, vagabundo ,… “amigos” para lhe incentivar a beber não faltam chegando a lhe pagar as bebidas mais caras, incentivando-o, assim, a continuar vivendo a vida, curtindo e se divertindo.

Quando o indivíduo decide “afogar” as mágoas, frustrações, traumas, insegurança, baixa autoestima ou quer apenas viver o momento, não se importa com os que estão ao seu redor principalmente os que diz amar.

Se está sozinho o caminho da dependência o ajuda a suportar a solidão e é o meio mais fácil de se agrupar, pois com um copo de bebida na mão, os “amigos” aparecem e ele vai se afundando cada vez mais, os amigos ocasionais vão mudando de rosto e ele nem percebe.

Se tem uma companheira, também não se importa, se o acompanha neste caminho ela é maravilhosa, perfeita, a parceira ideal, mas se for o inverso, é desprezada.

Muitas vezes agredida, violentada, obrigada a conviver com os vexames que ele provoca nas reuniões sociais e familiares, perda de emprego, endividamentos nos bares, doenças que vai adquirindo em detrimento do álcool no seu corpo, muitas vezes amputando algum membro, sequelas de avcs, acidentes ocorridos no momento do embalo, dificuldades financeiras pois tudo que ganha gasta nos bares.

Se a companheira permanece ao seu lado apesar de, adoece, vive triste, assustada, apreensiva, envergonhada, culpa-se por não poder reverter este quadro.

Se não consegue suportar e resolver optar pela separação, também adoece, pois as marcas ficaram impregnadas no seu coração e as vezes no seu corpo, fica seletiva em se envolver em um novo relacionamento, ou está tão carente que basta que alguém lhe trate melhor que acaba se envolvendo podendo nem perceber que está entrando em um caminho talvez até mais violento que o anterior.

Se tiver filhos neste relacionamento, o estrago é irrecuperável. A dor destas crianças é intensa por estarem no meio de brigas, violências físicas e psicológicas, falta de atenção, vexames por causa da bebida, espancamentos vindos de quem lhes deveria proteger. O medo é tanto que quando ouvem o portão se abrir já sabem o que vai acontecer.

Vivem assustadas, apreensivas. Reagem a tudo de diferentes maneiras, fogem de casa, suicidam-se, tornam-se adultos violentos, sádicos, tratam as companheiras da mesma maneira que presenciara no seu ambiente familiar, também vão querer “viver a vida”, não se importando com conselhos de ninguém ou então se tornarão apáticos, tristes, com fobia social vivendo sempre isolado, doenças psicossomáticas podem ser desenvolvidas como depressão, gagueira, melancolia profunda, medo de tudo e de todos.

Viver a vida, curtir o embalo do momento é importante só se o indivíduo conseguir dimensionar os “estragos” que acarreta ao seu redor e parar antes que não possa mais.

Como viver a vida se quem eu digo amar está sofrendo?

Vive amedrontada com a minha presença? Está comigo por medo e não por amor? Se não valorizo o amor dos meus pais, amigos verdadeiros que estão presente diariamente na minha vida, dos meus familiares, se não dou bons exemplos para o meu filho?

Orgulho em se achar acima do bem e do mal, egoísta em não realizar a empatia, ingrato em destruir um corpo perfeito que Deus lhe concedeu, a vida que lhe cobra deveres e não apenas direitos. Viver a vida é ter responsabilidades, é respeitar os seus limites e do outro, é saber que cada ato tem consequências e que a vida passa rápido demais sim e é mais um motivo para viver apresentando exemplos dignos e responsáveis.

Alcoolismo é uma dependência conjunta, o alcóolatra e àqueles que dizemos amar.

Autora:

Teresa Armando Elios da Silva, assistente social e gestora do terceiro setor.

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