20.9 C
São Paulo
sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Banco do hospital

O hospital, a carteirinha de sangue.

Só abrirá às quatorze horas o Banco de Sangue do Hospital Santo Amaro. Enquanto existe escrita, é possível destrinchar tudo que se passa na cabeça durante a espera. Um pouco cansada, dorme mal e hoje acorda descompensada.  

Por que doar sangue? O sangue é uma substância atraente do corpo humano. Saber que cem mililitros salva uma vida – anima! -, além disso, são coletados quatrocentos e cinquenta mililitros nossos, ou seja, anima quatro vezes e meio mais. Nesse momento, falta meia hora. É preciso comprar um presente. Olhar o mar (o mais importante) e pagar o boleto. Quiçá, hoje, correr à tarde, naquela brisa fresca. Faltam 25 minutos. À princípio, temos uma visão do tempo muito errônea. Parece que ele demora, ou, às vezes, passa rápido demais. No entanto, o tempo tem seu próprio tempo. É engraçado esse pensamento: “O tempo tem seu próprio tempo”.  

Na sala de espera do hospital, o tempo é tão importante. Haja vista aqui, em que ficar neste lugar com tanta proximidade dos doentes diferencia-se, por mais que já internada algumas vezes alguém possa ter estado – na atmosfera atual, há consciência dos doentes. Vê-se cá: uma maca no corredor com uma pessoa, seu pé está para fora. À espera do Banco de Sangue para pegar a carteirinha. Nota-se, também, que a logística arquitetônica desse hospital é confusa, parece um labirinto. Uma criança está chorando. Dois profissionais estão presentes: médica e médico. Ademais, são seis portas brancas e parecem que fazem um jogo de palavras cruzada, pois ficam cruzando as portas. Em cima delas há uma luzinha. E, então, quando pisca a luz vermelha um dos dois vai lá. Além disso, têm os limpadores… 

Sob outro ponto de vista, os trabalhos têm algo a mais? Como é ser um médico? (15 minutos) Emocionante, possivelmente? Você dorme trabalho. Come trabalho. Trabalha trabalho. Qual deve ser a sensação de levar uma maca com uma pessoa morta. Perder alguém? Depois de anos de trabalho, já devem ter encontrado um analgésico para isso. Têm adultos que chegam aos 60 anos e não sabem como morrer. Enfim, quem sabe?  

O hospital está quieto, amedrontador, igual aquelas enormes ondas que você assiste na TV, na qual se apavora caso a onda se transfigure do meio televisivo para sua realidade e a afogue. 

Não sei nada deles e eles nada de mim, aparentemente, estou atrapalhando. Por fim, porém, estou sentada na cadeira de plástico vermelha de pernas pretas no corredor vazio e com pouca luz, esperando minha carteirinha de sangue.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio