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terça-feira, 19 de novembro de 2024

O dia em que li a hora da estrela de Clarice Lispector

Sim, o titulo esta totalmente certo devido ao fato em que em uma tarde li a obra completa. A história não é contada em muitas paginas e a leitura fluiu muito bem, apesar de a própria autora afirmar que a chamam de hermética (alguém com difícil linguajar escrito, podemos assim dizer) na sua única entrevista para a televisão, na TV Cultura. Mas como eu cheguei até a obra prima de Clarice Lispector?

Primeiro eu a conheci e de fato me apaixonei por sua personalidade, acredito que pessoas de personalidade forte e ao mesmo tempo humanas me cativam muito. Justamente na sua entrevista à TV Cultura com o repórter Júlio Lerme a conheci. Na época em que tinha redes sociais via por vezes ou outra frases em sua autoria, no entanto nunca busquei sua literatura. De certa forma fiquei hipnotizado com aquela mulher que falava estranho parecendo um sotaque estrangeiro, mas logo em seguida descobri que é apenas língua presa, pois muito nova chegou às terras brasileiras. O interessante é que tudo ocorreu por recomendação do YouTube, olha só, os algoritmos da plataforma disfarçados de destino queriam me levar até algum lugar.

Logo em seguida tive contato com alguns textos espaços como Se eu fosse eu (pensei que ia ficar doido, quase me fez chorar) e Perdoando Deus (jamais esquecerei o final deste texto). Decidi depois ler uma obra sua. Cheguei à saraiva mais próxima de casa e o único exemplar que havia ali era apenas um de nome A hora da estrela. Ao chegar a minha casa e abrir o livro vi que possuía mais treze títulos de forma a facilitar o entendimento da história e realmente tudo fazia sentido.

Afirmo com toda a certeza que é um dos livros mais diferentes que já arrisquei ler na vida. A escrita é totalmente diferente de muitas obras brasileiras, a riqueza de detalhes apaixona. A hora da estrela é um livro narrado por um escritor chamado Rodrigo S. M onde conta todo o processo de escrever a história, mas na verdade era uma maneira de Clarice nos contar de forma indireta sobre a dor do parto de uma nova obra. Há uma longa introdução até Macabéa ser apresentada e a história de fato começar. Ela e uma moça jovem que saiu de Alagoas e foi residir no Rio de Janeiro, morando exatamente na Rua do Acre.

Por meio de Macabéa, Clarice expõe uma dura realidade. A moça era muito pobre, trabalhava para ganhar menos de um salario, comia apenas cachorro quente com coca cola por ser mais barato, era daquele tipo de pessoa facilmente impressionável e não dava conta de si, acordava cedo e ficava escutando a radio relógio e queria ser artista de cinema. Acredito que Clarice contou muito de si nesta história, devido as suas origens e também posso afirmar que em muitos momentos me identifiquei muito com a protagonista.

Alguns pontos levam a historia até o ponto principal que ocorre no final (algo que jamais vou aceitar). O namorado de Macabéa a trai com sua colega de trabalho e devido a isso e de forma a sentir menos remorso indica Macabéa para uma consulta com uma cartomante que lhe disse coisas lindas e só assim Maca pode cair em si diante de muitas coisas na vida e uma centelha de mudança emana de seu coração. No entanto, ao sair da findada leitura de cartas, Macabéa se depara com algo que jamais imaginaria. Não posso relatar aqui para não cometer spoiler, mas quem já assistiu a entrevista dela antes de ler o livro pode imaginar o que se passa a seguir.

Sinto-me confortável para dizer que odiei o Olímpico, “namorado” (quando você ler entenderá o porquê coloquei entre aspas) de Macabéa. Antes de terminar o namoro e após anunciar a traição, olha o que ele disse:

“Você, Macabéa, é um cabelo na minha sopa. Não da vontade de comer.”

Senti muita raiva nesta hora. Mas o livro é assim, emoções a flor da pele mesmo e talvez isto seja resultado da enorme vivencia da autora, que lançou este livro justamente pouco antes de sua morte, em 1977.

Quando finalizei o livro sente que estava enfeitiçado, poderia descrever a narrativa como demoníaca no sentindo em que te hipnotiza. Não satisfeito com a minha ressaca literária deste livro que tive o prazer me embriagar, dois dias depois me lancei de vez em um novo clássico brasileiro e baiano chamado Torto Arado, mas a resenha se encontrará em breve!!

Autor:

Cristian Jesus

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