Chernobyl está localizada na Ucrânia, a 110 quilômetros ao norte de Kiev, e às margens de um lago artificial criado para refrigeração de sua usina nuclear. Entre os dias 25 e 26 de abril de 1986, o mundo conhecia o poder devastador da energia nuclear da pior maneira: em um acidente radioativo, na cidade de Prypiat, na Ucrânia, antiga república da União Soviética. A tragédia, que viria fazer parte da cultura pop, vitimou muitos civis e militares, o que ficou conhecido como o pior desastre nuclear da história.
O contexto histórico no momento era o da Guerra Fria, disputa político-ideológica-cultural-econômica pelas superpotências do pós-Segunda Guerra Mundial, entre os Estados Unidos da América (capitalismo/liberalismo econômico) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (comunismo/estatização dos meios de produção). A corrida armamentista acirrou os ânimos de todo o planeta, pois era temido um confronto militar entre as duas nações, o que viria a causar uma Terceira Guerra Mundial com o poder mais destrutivo: as armas nucleares.
Mas nem só de destruição vivia-se a empresa nuclear. Entre 1972 e 1977, era criada a Usina Nuclear de Chernobyl, que era responsável pelo abastecimento de 10% da energia consumida pela Ucrânia na época. Os avanços na ciência soviética ficaram notórios na medida em que os comunistas demostravam domínio sobre a energia nuclear.
Esses avanços foram de fundamental importância para a época, pois a energia nuclear, apesar dos elementos radioativos, representava uma maneira mais eficiente e limpa de se produzir eletricidade. Diversas outras usinas estavam espalhadas pelo território soviético, e também no território dos Estados Unidos, que se tornou uma referência na produção desse tipo de energia.
Na madrugada do dia 25 de abril de 1986, uma pequena equipe de operadores na central nucelar de Chernobyl, para conseguirem realizar um teste no sistema elétrico do setor número 4 da usina, e, desrespeitando uma série de normas e procedimentos de segurança, causaram o maior acidente nuclear da história da humanidade.
Ao todo, foram desrespeitadas seis (6) normas de segurança, normas essas que foram de fundamental importância para o trágico episódio:
Com o intuito de aumentar a potência de energia do reator, o setor 4 passa a operar por 9 horas sem a refrigeração de segurança (1); depois da meta diária atingida com a alta potência do reator, é feita a tentativa de diminuição de produção e energia para uma baixa potência, mas acontece que esse tipo de reator é instável e opera de maneira manual, mas não se pode operar o reator a baixa frequência por longo tempo (para a produção de energia durante a noite e a madrugada), e por ter operado em alta potência durante o dia, ele deveria ser imediatamente desligado por 24 horas para retornar à normalidade, porém, não foi desligado (2).
Para fazer a potência voltar a subir, sem desligar o reator, o chefe de turno levanta cada vez mais barras do núcleo do reator, até que não restam senão 18 barras – mas as normas de segurança determinam que devem ficar no mínimo 30 barras no núcleo – (3). Durante a madrugada, o reator tem estabilidade de 200 megawatts, mas como as bombas de refrigeração estiveram paradas por horas, era proibido fazê-las voltarem a funcionar todas ao mesmo tempo por causa das vibrações que são produzidas nas tubulações da água de refrigeração, devendo obedecer a uma ordem crescente (4).
A quinta negligência (5) por parte da equipe foi ter ignorado o disparo automático do alarme advertência do reator, que alertava o aumento brutal do volume de água no núcleo, o que levou a uma queda da pressão do vapor nos separadores que levavam a água para resfriar o núcleo do reator. Quando o alarme dispara e os giroflex (luzes de alerta) acendem indicando que o reator seria automaticamente desligado, a equipe dá comando nos painéis para que o alerta seja ignorado e o reator passe a funcionar com baixa refrigeração, poucas barras em seu núcleo e alta pressão no núcleo.
A sexta e última violação das normas aconteceu quando os operadores, com a intenção de reiniciar o teste, desativaram o sistema de parada obrigatória de emergência do sistema do reator, que era determinado pela parada da turbina (6).
Era 1 hora, 23 minutos e 4 segundos do dia 26 de abril de 1986, quando a equipe inicia o teste de produção de energia com baixa refrigeração, poucas barras no núcleo e alta potência do reator. O mundo estava a 36 segundos do maior acidente nuclear da história.
Com a baixa refrigeração, o volume de água do reator diminui (sob efeito do calor, a água entra em seu estado gasoso), o combustível do núcleo superaquece e a potência do reator sobe lentamente. O chefe da equipe de operadores, que burlou as normas de segurança, pelo seu poder hierárquico, frente ao comportamento atípico do reator, fica aflito e pressiona o botão de emergência para fazer baixar as barras de controle no núcleo e assim parar o reator, mas a manobra feita tarde demais entra em seu estado crítico: as barras do núcleo são derretidas pelo calor da alta potência e pela ausência de refrigeração no núcleo e ficam paradas a um quarto da descida, pois o núcleo já estava deformado. Diante da situação desesperadora, o chefe de turno dá ordem para derrubá-las por gravidade (o que deveria parar o reator), mas as barras não descem.
É 1 hora e 24 minutos e 3 segundos, uma bolha enorme de hidrogênio é formada pela violenta reação entre o vapor da água de refrigeração e o combustível do núcleo explode. Fragmentos do núcleo, pedaços de grafite e de combustível, levados a temperatura muito alta, são projetados na superfície, provocando grandes incêndios na usina.
Setenta toneladas de produtos radioativos são espalhados em volta da central, além disso, cinquenta toneladas de gases radioativos e fumaças formam uma imensa nuvem que vai cobrir o céu da Europa durante muitos meses. A radiação do acidente é sentida após semanas em sensores de radiação do Japão, do Reino Unido e até dos Estados Unidos.
Pela primeira vez, uma série de erros humanos provoca uma tragédia com dimensões maiores do que a de uma catástrofe natural.
De fato, o desastre de Chernobyl é incalculável quanto as perdas, e até hoje a radiação é sentida nos arredores. Uma pena todas as mortes e destruição do local.
Obrigado pelo seu comentário, Ana!