Dizem que a política é a arte do possível — e às vezes também do inacreditável. Lula e Donald Trump trocando afagos diplomáticos é, no mínimo, um daqueles episódios que fariam Maquiavel abandonar o café e abrir um whisky por puro espanto. O ex-sindicalista vermelho e o magnata cor de laranja conversando civilizadamente soa quase como se o gato e o rato tivessem marcado um happy hour. E o mais divertido nisso tudo é ver quem ficou de fora da festa: nossos heróis autoproclamados da “nova direita” tropical — Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo — assistindo de longe, roendo as unhas e soltando indiretas no X (antigo Twitter, onde todo ressentimento encontra abrigo).
A ironia é deliciosa. Durante anos, os dois juraram fidelidade incondicional ao oráculo de cabelo oxigenado. Fizeram lives, palestras, podcasts, rezas e até juras de amor político prometendo reconstruir o Ocidente cristão sob a inspiração de Trump. Era quase uma devoção mística: cada “God bless America” vinha acompanhado de um “amen” tropical. E agora, quando o ex-presidente americano resolve conversar com Lula — aquele mesmo Lula que para eles personifica o comunismo, o Foro de São Paulo e o “marxismo cultural” ao mesmo tempo —, o chão se abre sob os pés dos discípulos.
Eduardo Bolsonaro, o “bananinha”, foi à Flórida tantas vezes que deveria ter virado residente honorário. Mas, curiosamente, nunca conseguiu uma reunião privada com o ídolo. Trump deve tê-lo confundido com algum turista insistente pedindo selfie no saguão do hotel. Já Paulo Figueiredo, o influenciador que se define como “analista político internacional” (traduzindo: alguém que grita em inglês com sotaque do Leblon), vive pendurado em lives tentando provar que não, Trump não traiu o movimento conservador mundial — ele apenas está sendo “estrategicamente cordial”. Pois é, se autoengano fosse PIB, o Brasil estava rico.
Enquanto isso, a política segue seu curso real, não o imaginário das lives. Lula e Trump trocam agrados porque entenderam que poder não combina com fanatismo. O petista quer vender imagem de estadista global; Trump quer limar a fama de isolacionista maluco. É cálculo frio, pragmatismo, pura sobrevivência. No jogo grande da política internacional, não há espaço para os meninos da retórica inflamável e das teorias de conspiração transmitidas via YouTube.
O resultado é tragicômico: os apóstolos da “direita trumpista” brasileira descobriram, do jeito mais humilhante possível, que o Messias deles é um aliado volúvel. E da próxima vez que aparecerem na Flórida, talvez encontrem apenas o segurança do clube de golfe dizendo: “Mr. Trump is busy talking to President Lula”.
Ironias da história: enquanto Lula joga xadrez diplomático, os discípulos de Trump continuam brincando com bananas.

