27.3 C
São Paulo
terça-feira, 4 de novembro de 2025

Bananas, Trump e o diálogo improvável

Dizem que a política é a arte do possível — e às vezes também do inacreditável. Lula e Donald Trump trocando afagos diplomáticos é, no mínimo, um daqueles episódios que fariam Maquiavel abandonar o café e abrir um whisky por puro espanto. O ex-sindicalista vermelho e o magnata cor de laranja conversando civilizadamente soa quase como se o gato e o rato tivessem marcado um happy hour. E o mais divertido nisso tudo é ver quem ficou de fora da festa: nossos heróis autoproclamados da “nova direita” tropical — Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo — assistindo de longe, roendo as unhas e soltando indiretas no X (antigo Twitter, onde todo ressentimento encontra abrigo).

A ironia é deliciosa. Durante anos, os dois juraram fidelidade incondicional ao oráculo de cabelo oxigenado. Fizeram lives, palestras, podcasts, rezas e até juras de amor político prometendo reconstruir o Ocidente cristão sob a inspiração de Trump. Era quase uma devoção mística: cada “God bless America” vinha acompanhado de um “amen” tropical. E agora, quando o ex-presidente americano resolve conversar com Lula — aquele mesmo Lula que para eles personifica o comunismo, o Foro de São Paulo e o “marxismo cultural” ao mesmo tempo —, o chão se abre sob os pés dos discípulos.

Eduardo Bolsonaro, o “bananinha”, foi à Flórida tantas vezes que deveria ter virado residente honorário. Mas, curiosamente, nunca conseguiu uma reunião privada com o ídolo. Trump deve tê-lo confundido com algum turista insistente pedindo selfie no saguão do hotel. Já Paulo Figueiredo, o influenciador que se define como “analista político internacional” (traduzindo: alguém que grita em inglês com sotaque do Leblon), vive pendurado em lives tentando provar que não, Trump não traiu o movimento conservador mundial — ele apenas está sendo “estrategicamente cordial”. Pois é, se autoengano fosse PIB, o Brasil estava rico.

Enquanto isso, a política segue seu curso real, não o imaginário das lives. Lula e Trump trocam agrados porque entenderam que poder não combina com fanatismo. O petista quer vender imagem de estadista global; Trump quer limar a fama de isolacionista maluco. É cálculo frio, pragmatismo, pura sobrevivência. No jogo grande da política internacional, não há espaço para os meninos da retórica inflamável e das teorias de conspiração transmitidas via YouTube.

O resultado é tragicômico: os apóstolos da “direita trumpista” brasileira descobriram, do jeito mais humilhante possível, que o Messias deles é um aliado volúvel. E da próxima vez que aparecerem na Flórida, talvez encontrem apenas o segurança do clube de golfe dizendo: “Mr. Trump is busy talking to President Lula”.

Ironias da história: enquanto Lula joga xadrez diplomático, os discípulos de Trump continuam brincando com bananas.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio