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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Nikolas Ferreira e o Pix: Uma aula de como viralizar mentira e encher o bolso do crime

Nunca foi tão divertido (ou trágico, para quem ainda acredita em bom senso) assistir ao Brasil confundir uma norma técnica com um plano diabólico digno das melhores ficções da internet. Eis que surge Nikolas Ferreira, nosso autêntico menino-propaganda do absurdo, instigando o caos digital e travestindo fiscalização bancária de ataque à liberdade do povo. Com o dedo nervoso no celular e a criatividade tóxica à flor da pele, Nikolas fez um vídeo indicando que o governo queria taxar o Pix – e viralizou como só desinformação de alta qualidade consegue: mais rápido que a transferência de uma laranja para as contas do PCC.

Em poucos dias, o circo estava armado: deputados bolsonaristas celebravam, perfis indignados bradavam em defesa do povo, e a Receita Federal cedia à pressão da histeria coletiva, anulando qualquer tentativa de trazer luz ao submundo das fintechs. E quem comemorou? Adivinha. Não, não foi o trabalhador informal nem o pequeno comerciante — foi o Primeiro Comando da Capital, que ganhou de brinde meses de livre trânsito para lavar bilhões sob o olhar benevolente dos heróis das fake news. Se há lobby mais eficiente para o crime organizado do que um deputado viralizando mentiras, está faltando criatividade nos roteiristas de Narcos.

Enquanto Nikolas e seus fiéis seguidores davam pulos de alegria em comemoração à “vitória contra o sistema opressor”, reservatórios de dinheiro sujo eram abastecidos com rigor suíço sob o manto gentil de Faria Lima, que se revelou mais útil ao crime do que qualquer facção poderia planejar. O mais irônico é que tal norma derrubada não inventou moda: apenas projeções às fintechs ou que bancos já fazem há mais de 20 anos — informar movimentações acima de R$ 5 mil. Um mínimo de transparência que, por aqui, é tratado como atentado à liberdade. No fim das contas, Nikolas proporcionou tão-somente à elite da lavagem de dinheiro o que ela gostaria de pedir no Natal: impunidade embalada viralmente e com lacração de Instagram.

Os números não mentem (pelo menos, eles não): só na cadeia dos combustíveis, o PCC lavou R$ 52 bilhões enquanto a turba do Pix taxado xingava o vento. Uma única fintech, graças também a esse mês de “liberdade”, limpou R$ 46 bilhões em nome da economia criativa do crime. Tudo isso, claro, aos custos do cidadão comum, que ficou mais uma vez com o papel de palhaço na tragicomédia digital brasileira. Nem a Faria Lima escapou: virou palco da maior operação contra o crime já feito no país, mostrando que ninguém está a salvo quando o influenciador resolve substituir o delegado.

A cereja do bolo ácido foi o próprio chefe da Receita Federal, que precisou desenhar o óbvio: as fake news “prejudicaram o uso do Pix, obrigaram o governo a recuar, e os únicos vencedores foram os criminosos”. Mas Nikolas — esse prodígio da retórica marota — insistiu na pose de herói digital, indiferente à fartura do crime organizado. Se cada mentira viralizada rendesse royalties, Nikolas já teria garantido o PIB do PCC por mais uma década.

No fim, restou ao governo correr atrás do prejuízo, restaurando as regras e tentando fechar a porta arrombada por um Congresso obcecado em criar história a qualquer custo. A lição é simples, mas parece inexoravelmente ignorada: notícias falsas não só desinformam — elas financiam e empoderam quem mais deveria ser combatido. Na era Nikolas Ferreira, só resta saber quem será o próximo deputado a criar tendências para o crime, sempre com aquele toque de ironia involuntária que só o mesmo o Brasil saberia proporcionar

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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