Nicholas Ferreira parece ter descoberto o TikTok mental perfeito: basta manipulador pânico moral barato, uma pitada de fake news fresquinhas e um cenário escolar imaginário onde professores, coitados, viram vilões de novela mexicana. Dessa vez, a acusação é digna de roteiro de filme ruim: os docentes estariam passando pornografia na sala de aula e incentivando os alunos a se beijarem. Quem precisa de provas quando se tem uma plateia ávida por escândalo? Afinal, no reino da “verdade alternativa”, o papel passado é apenas burocracia esquerdista.
É engraçado — mentira, é patético mesmo — ver Nicholas tentando colar na onda da popularidade de criadores de conteúdo como Felca, que levantam discussões sobre séries sobre a adultização da infância. Só que enquanto Felca analisa o problema com dados e senso crítico, Nicholas chega com sua prancha de isopor furada, tentando surfar no tsunami das redes. Resultado: em vez de surfista, soa mais como aquele tiozão barrigudo que “pega jacaré” na piscina de criança e depois diz que venceu o mar.
Mas não nos enganemos: o objetivo não é “proteger crianças”. Isso é só embalagem brilhante. O que está dentro é a velha estratégia denunciada por Paulo Freire: o medo de uma educação libertadora, que ensina a pensar e a questionar. O truque é antigo: se desacredito o professor, desacredito o pensamento crítico; se desacredito a escola, transformando a ignorância em projeto político. Nicholas não odeia a “adultização” — ele odeia a possibilidade de que os estudantes cresçam pensando por conta própria.
Gramsci já avisou: quem controla o discurso cultural controla o poder. Nicholas sabe disso, ainda que cite teóricos só quando aparece em “frases motivacionais” no Instagram. A cruzada dele contra docentes nada mais vai fazer que um teatro para manter a audiência dividida entre como que ao circo para rir e como que vão para bater palma achando que é missa.
E, cá entre nós, a performance é risível: lá está Nicholas, de microfone em punho, falando que os professores estão “corrompendo inocentes”. Falta só balançar um crucifixo e vender água ungida no final. A cruz contra a educação virou, basicamente, um stand-up político, com direito a plateia cativa que ri de qualquer piada, mesmo quando não tem graça.
Aliás, vale lembrar: Nicholas já é quase um “atleta olímpico” no esporte nacional do século XXI — a disseminação de notícias falsas. Se fake news fosse modalidade dos Jogos Pan-Americanos, ele voltaria pra casa com tantas medalhas que precisaria de mala extra. É esporte invicto da mentira instantânea: espalha barcos mais rápido do que aluno copiando matéria da Wikipédia na véspera da entrega. A cada acusação sem prova, ele reforça sua posição de líder absoluto no ranking dos campeões da desinformação.
No fim, o que fica é meio óbvio: a luta não é contra um suposto “kit pornografia”, mas contra o kit básico de pensamento crítico. E nisso Nicholas é consistente: quanto menos seus seguidores refletirem, mais eles acreditarão que o palhaço é rei.
Sabe aquele ditado “ao preferir de estudar, ficou inventando moda”? Parece ter virado o método. A diferença é que Nicholas transformou isso em profissão: inventar moda, vender polêmica e chamar de “defesa da família”. Enquanto isso, a educação verdadeira, aquela que liberta, segue sendo atacada — porque gente livre pensa, e pensar demais é tudo que Nicholas e companhia não querem.