12.3 C
São Paulo
sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Nicholas Ferreira e a arte de vender fumaça em frasco de “valores”

Nicholas Ferreira parece ter descoberto o TikTok mental perfeito: basta manipulador pânico moral barato, uma pitada de fake news fresquinhas e um cenário escolar imaginário onde professores, coitados, viram vilões de novela mexicana. Dessa vez, a acusação é digna de roteiro de filme ruim: os docentes estariam passando pornografia na sala de aula e incentivando os alunos a se beijarem. Quem precisa de provas quando se tem uma plateia ávida por escândalo? Afinal, no reino da “verdade alternativa”, o papel passado é apenas burocracia esquerdista.

É engraçado — mentira, é patético mesmo — ver Nicholas tentando colar na onda da popularidade de criadores de conteúdo como Felca, que levantam discussões sobre séries sobre a adultização da infância. Só que enquanto Felca analisa o problema com dados e senso crítico, Nicholas chega com sua prancha de isopor furada, tentando surfar no tsunami das redes. Resultado: em vez de surfista, soa mais como aquele tiozão barrigudo que “pega jacaré” na piscina de criança e depois diz que venceu o mar.

Mas não nos enganemos: o objetivo não é “proteger crianças”. Isso é só embalagem brilhante. O que está dentro é a velha estratégia denunciada por Paulo Freire: o medo de uma educação libertadora, que ensina a pensar e a questionar. O truque é antigo: se desacredito o professor, desacredito o pensamento crítico; se desacredito a escola, transformando a ignorância em projeto político. Nicholas não odeia a “adultização” — ele odeia a possibilidade de que os estudantes cresçam pensando por conta própria.

Gramsci já avisou: quem controla o discurso cultural controla o poder. Nicholas sabe disso, ainda que cite teóricos só quando aparece em “frases motivacionais” no Instagram. A cruzada dele contra docentes nada mais vai fazer que um teatro para manter a audiência dividida entre como que ao circo para rir e como que vão para bater palma achando que é missa.

E, cá entre nós, a performance é risível: lá está Nicholas, de microfone em punho, falando que os professores estão “corrompendo inocentes”. Falta só balançar um crucifixo e vender água ungida no final. A cruz contra a educação virou, basicamente, um stand-up político, com direito a plateia cativa que ri de qualquer piada, mesmo quando não tem graça.

Aliás, vale lembrar: Nicholas já é quase um “atleta olímpico” no esporte nacional do século XXI — a disseminação de notícias falsas. Se fake news fosse modalidade dos Jogos Pan-Americanos, ele voltaria pra casa com tantas medalhas que precisaria de mala extra. É esporte invicto da mentira instantânea: espalha barcos mais rápido do que aluno copiando matéria da Wikipédia na véspera da entrega. A cada acusação sem prova, ele reforça sua posição de líder absoluto no ranking dos campeões da desinformação.

No fim, o que fica é meio óbvio: a luta não é contra um suposto “kit pornografia”, mas contra o kit básico de pensamento crítico. E nisso Nicholas é consistente: quanto menos seus seguidores refletirem, mais eles acreditarão que o palhaço é rei.

Sabe aquele ditado “ao preferir de estudar, ficou inventando moda”? Parece ter virado o método. A diferença é que Nicholas transformou isso em profissão: inventar moda, vender polêmica e chamar de “defesa da família”. Enquanto isso, a educação verdadeira, aquela que liberta, segue sendo atacada — porque gente livre pensa, e pensar demais é tudo que Nicholas e companhia não querem.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio