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terça-feira, 27 de agosto de 2024

O buscador (6)

O pátio da escola estava cheio; todas as classes estavam presentes, com todos os alunos e professores. A bandeira do Brasil foi hasteada, o hino nacional cantado, embalado na música que ecoava nos autofalantes espalhados no local.

Passando esses dias em frente da escola onde fiz o 1º grau (na época era primário e ginásio); me vieram algumas lembranças.

A primeira delas que veio, foi essa, quando numa comemoração cívica, fui escolhido para declamar o poema A PÁTRIA, de Bilac.

Cheio de confiança, e habituado a fazer leituras na classe, iniciei:

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que “calorrrr”…

Calor é a última palavra que lembro desse poema, pois quando “puxei o r” exageradamente, caipira como era e sou, uma voz no meio das centenas de outras crianças que ouviam no pátio, repetiu: calorrrrr…

Terminei o poema naturalmente, mas até hoje me lembro daquela voz que ecoou, procurando imitar o meu sotaque, que talvez tenha sido um pouco exagerado…(rsrs)

A partir de então, até hoje sempre que vou fazer leituras ou falar para outras pessoas, procuro controlar o meu “r”.

No meu caso, acredito que não fiquei traumatizado por isso, mesmo porque continuei falando em público quando necessário, sendo sempre o orador das minhas turmas. Mas é incrível como até hoje, depois de tantos anos, me lembro desse fato. Dependendo da forma que eu assimilasse essa situação, eu poderia ter muita dificuldade, ou simplesmente não ter mais “coragem” de falar em público.

Uma coisa que isso me ensinou, foi sobre o poder das palavras, e o efeito que podem exercer sobre as pessoas. Apesar de relembrar esse simples fato do tempo de criança; poderia citar inúmeros exemplos corriqueiros no dia a dia, em que as palavras estimulam, incentivam, motivam, ou então desencantam, aborrecem e frustram.

Isso vale em qualquer situação, seja em nosso ambiente de trabalho, seja em nossas relações pessoais, familiares ou estudantis.

Acredito que o ideal é que seja dito tudo o que for necessário, mas de forma clara, no momento adequado, e nunca dirigido à pessoa; mas ao fato e a situação em si. Não falar de forma precipitada, impulsiva ou agressiva, e sim de forma ponderada, sensata, construtiva. Afinal, em muitas situações estão em jogo a auto estima e amor-próprio das pessoas.

Temos consciência do poder e influência das nossas palavras na vida daqueles que nos cercam, e de que podemos interferir na qualidade de vida das mesmas? Isso é importante? Devemos nos preocupar com isso?

É possível nos expressarmos sempre com equilíbrio e moderação?

Isso faz parte da minha busca! Será que estou sendo ficcionista?

Autor:

Edivaldo Santin

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