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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A fadinha das sapatilhas: os primeiros passos de Elisa Neves no maior balé do mundo

Conheça a trajetória da pequena bailarina carioca até chegar à Escola Bolshoi do Brasil aos 10 anos de idade

Ela tem a firmeza e a suavidade de quem aprendeu com o balé que a vida exige passos certeiros nas decisões e leveza para ser conduzida pelas oportunidades. Com uma postura impecável e uma flexibilidade impressionante, Elisa Neves é reconhecida como “a bailarina” por onde passa. 

É que a menina não precisa de sapatilhas, collant e tutu para espontaneamente fazer movimentos e posições que repete desde os três anos de idade, quando começou a dançar. “Ela parece ter uma música interna própria. Quando me dou conta está dançando pelas avenidas, na ponta dos pés pelas calçadas, como se de repente o corpo pedisse um movimento sem se importar com quem está em volta, esta é a Elisa”, conta Elaine Neves, mãe da bailarina. 

Quando Elisa foi matriculada no balé, a família não imaginava que a criança tinha algum talento excepcional não revelado. Era para ser uma atividade física que proporcionasse bem-estar, percepção de espaço, treino de equilíbrio, desenvolvimento da coordenação e todas as buscas que uma mãe faz ao buscar uma modalidade para os filhos desta idade. “Acontece que não demorou muito e passei a ser comunicada pelas professoras que ela tinha um potencial maior, que deveríamos incentivar”, relembra a mãe da menina, que a cada aula parecia entrar num universo particular de onde Elisa custa a sair. Elisa foi crescendo e com ela também a vontade de treinar mais e mais. Atualmente horas diárias de ensaios, a pedido da menina, que segue uma alimentação saudável, brinca como qualquer criança da idade dela, tem tempo para descanso e dedicação aos estudos, mas renuncia a qualquer outra coisa para colocar corpo e alma disponíveis ao balé. “Eu cheguei a me preocupar com o excesso até que fui convencida de que as potencialidades precisam ser reforçadas, estimuladas e tomei consciência do privilégio de poder fazer isso por Elisa”, conclui a mãe. 

Neste mês, Elisa deu um passo além. Passou na última seleção da Escola Bolshoi do Brasil, que contou com uma rigorosa etapa anterior na qual fez os pais saírem de carro do Rio de Janeiro até São Paulo, em pleno expediente de trabalho porque teria uma audição. “Meus pais são meus principais apoiadores, mas sei que não foi fácil atender ao meu pedido repentino”, comenta Elisa. 

Depois de algumas horas de estrada lá estava a garotinha, fazendo poses no saguão do Teatro Alfa, ansiosa para assistir ao espetáculo Giselle, apresentação que antecedeu a pré-seleção de candidatos nascidos entre 2005 e 2013. “Nesta etapa, profissionais do Bolshoi analisaram habilidades físicas e artísticas de cada um, como por exemplo, flexibilidade, atuação, postura e biotipo”, explica a pequena bailarina que não esconde o nervosismo que sentiu. “O teste aconteceu no dia seguinte da apresentação que assisti com 80 bailarinos que fazem parte do elenco de Giselle, uma remontagem da obra que tem quase 200 anos de história e é uma das preferidas de várias companhias de balé do mundo. Então, eu estava completamente inspirada apesar do coração acelerado. A cada passo que fazia lembrava do que tinha visto no palco e me imaginava nele um dia”, conta Elisa, que voltou para casa contando as horas para o resultado que só saiu dois dias depois. 

“Quando abri o site e vi meu nome, não contive a emoção. Porque o balé está em mim e cada conquista neste sentido tem um significado grandioso. É como se tudo que eu sinto que nasci pra ser se confirmasse um pouco mais”, traduz Elisa. 

Mas era só o início. Logo depois, a audição final, em Joinville, Santa Catarina. Outra vez, a família partiu para mais uma viagem e lá Elisa deslizou suavemente como se voasse sem sair do chão. A fadinha das sapatilhas encantou os jurados e foi outra vez aprovada. “Ser selecionada pela Escola Bolshoi do Brasil é o melhor presente que eu poderia receber”, comenta Elisa emocionada. 

Relatos como de Elisa chamam a atenção de especialistas que estudam Sentido e Propósito de vida, uma das áreas mais pesquisadas nos últimos tempos. Cientistas do desenvolvimento humano se debruçam sobre as evidências de que algumas crianças já nascem convictas dos dons que possuem, mas estudos indicam que esses talentos podem permanecer adormecidos por uma vida inteira e muitas vezes sequer serem expressos, caso não exista uma experimentação das inteligências múltiplas. 

Nem todos os contextos sociais permitem investimentos extracurriculares, a escola por sua vez, na maioria dos casos, dispõe de um currículo limitado e que não abrange todas as capacidades e potencialidades humanas. “Isso significa que podemos estar diante de verdadeiros artistas, gênios, nomes que marcarão o tempo e a história sem sabermos até que eles tenham uma oportunidade de serem quem são”, afirma a pesquisadora em Psicologia Social, Carla Furtado. 

A iniciativa da Escola Bolshoi já incluiu crianças e adolescentes que como Elisa sonham viver do balé pelo mundo e muitas vezes são descobertos em projetos sociais espalhados por comunidades carentes. “Pra mim é um privilégio ter sido incentivada pela minha família, ter uma condição que me permite fazer o que amo e ainda conviver com outros meninos e meninas que podem me ensinar muito sobre a vida por terem origem em realidades tão diferentes e nunca desistirem dos seus sonhos”, completa a bailarina. 

Autoria:

Ageimagem

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