20.6 C
São Paulo
sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Ônibus

O Senhor que entrou no ônibus era desses magros, altos e meio desajeitados. Carregava consigo um microfone e uma caixinha de som. Perguntei-me em que posição, do que esse homem trabalhava, visto que precisava desse aparelho todo.

Eu poderia ter pensado qualquer outra coisa; talvez aquele homem nem trabalhasse. Entretanto, eu duvido bastante de qualquer pessoa que esteja em um ônibus às sete horas da manhã e não seja um trabalhador.

Encostou as costas em um dos corrimões e ajeitou aquele microfone em seu rosto. Ligou a caixinha.

–     Bom dia, na paz de Deus.

Ah, pronto. Era um pregador desses fanáticos, trabalhador que nada, era pobre dotado de oralidade. E você sabe, que pobre sem instrução e que tenha eloquência, é muito provável que se torne pastor. Esse do ônibus era um sem muito sucesso dentro do ramo, visto que provavelmente não tinha uma igreja, o que significa não ter uma cartela de clientes, quer dizer, fiéis fixos.

Deus é bem miserável. Naquele dia no ônibus eu só sabia reclamar, ser pobre é difícil demais. Brigo com Deus todos os dias. Isso eu admiro no pregador de ônibus, ele conseguia ver Deus em qualquer lugar, até mesmo em um ônibus cheio de gente. Eu digo isso porque me espanto. Você já reparou na cara de quem pega ônibus às sete horas da manhã, se tem um lugar em que Deus não está é ali.

Deus deve estar na cama de quem dorme, viu. Mas, enfim. Deus é miserável com muita gente, e preguiçoso.

Mas, sabe que é o mais curioso de tudo. Aquele homem de boa oralidade, que fala de Deus, conseguiu mais dinheiro em 10 minutos, do que eu em um dia inteiro de trabalho. Se isso não é ser ungido e abençoado, eu não sei o que é.

Será que Deus está com vagas abertas?

Autor:

Felipe Rocha de Oliveira 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio