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terça-feira, 27 de agosto de 2024

O menino que queria escrever (Vila São Bento)

Entre os 7 e 10 anos de idade, residia na Vila São Bento, divisa com o Morro São Bento, em Santos – SP, perto do centro da cidade, um menino.
Ali, as casas pareciam estar penduradas nas encostas do morro.
Casas simples, mas confortáveis. Era um Lar.
Havia uma pedra ao lado da casa em forma retangular e lisa semelha a uma lousa escolar.
O menino escrevia na pedra com um pedaço de giz como se transmitisse uma notícia.
Escrevia e somente ele lia. Não havia leitores para aqueles escritos.
Tampouco comentava o que costumava escrever na pedra.
Todos os dias a mesma coisa. Escrevia e lia, como se estivesse editando um jornal.
O passar do tempo nunca o fez esquecer a casa.
Era bem pequeno ainda.                                                         
Naqueles idos, os vizinho pediam uns aos outros uma xícara de arroz, açúcar, café, etc.
Emprestar era um eufemismo para o verbo “dar”.
As devoluções nunca se davam na mesma proporção.
Havia um congraçamento entre aquela gente simples e trabalhadora.
Não havia discussões, muito menos brigas.
Todos partilhavam as mesmas dificuldades.
Era comum morar no mesmo terreno cerca de três ou mais famílias.
Todas acomodadas, quando muito, em casas de um quarto, sala e cozinha.
A vida era bem simples.
À noite,  conversavam no quintal. Não havia ainda televisão.
O menino cresceu, não se tornou jornalista ou escritor, mas fica o registro de que já havia um viés que nunca foi desenvolvido.
Havia ali um desejo velado para uma profissão que não se realizou.
Faltou lapidar aquela intuição.
A pedra possivelmente ainda está lá.
De quando em quando, bate uma vontade e saudade de visitar a casa e a pedra para relembrar os tempos áureos de uma infância feliz, mas tudo mudou. As pessoas não são mais as mesmas.
A vida manda sinais, nem sempre a compreendemos.
Inimaginável nos tempos modernos a vida que se tinha àquela época.
Tudo era  diferente e havia uma mágica indescritível de como ver a vida, vivê-la e senti-la.
O binóculo da vida não alcançava tão longe quanto hoje.
A informática aproximou as pessoas de longe e afastou as de perto.
Enfim, não se pode atribuir uma comparação perfeita entre um e outro modo de viver.
Assim, forja-se no passado um presente que nos levará ao futuro, ainda que tudo esteja encoberto pela névoa da incerteza.

Autor:

Odair Ferreira Ramos.

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