Existe uma geração que acorda cansada, passa o dia exausta e vai dormir com a sensação de que não deu conta de tudo.
Ela vive espremida entre boletos, cuidado com os filhos e responsabilidade com os pais.
É a geração sanduíche — e ela está derretendo por dentro.
No livro Diversa-IDADE, que escrevi com a Tati Gracia, falamos dessa geração com a urgência que o tema exige.
Não como uma categoria sociológica, mas como gente real.
Gente que sente culpa por falhar, vergonha por pedir ajuda e cansaço por carregar o mundo sem ter onde se apoiar.
Essa geração tem nome, mas também tem rosto:
É formada majoritariamente por mulheres.
Mulheres que trabalham fora, cuidam da casa, gerenciam a agenda dos filhos, acompanham exames e remédios dos pais, fazem compras, ajudam nos temas da escola e ainda tentam manter o bom humor nas reuniões de Zoom.
Estão em colapso.
Mas disfarçam com um sorriso.
Porque a sociedade romantizou o “dar conta de tudo” como virtude — quando, na verdade, é uma sentença de exaustão.
Exaustão crônica tem gênero, tem CPF, tem endereço.
Enquanto debatemos produtividade e performance, muitas dessas mulheres estão falhando — não por incompetência, mas por falta de rede de apoio.
No livro, deixamos isso claro: ninguém sustenta três gerações sozinho.
E o que essas mulheres precisam não é de mais cobrança, mas de compreensão.
De acolhimento.
De alívio.
De políticas públicas que enxerguem o cuidado como um trabalho.
E de empresas que parem de tratar esse esgotamento como “falta de foco”.
A geração sanduíche não precisa de flores.
Precisa de rede.
Willians Fiori é neurocientista, psicanalista e pesquisador da saúde emocional nas relações intergeracionais. Professor no Hospital Israelita Albert Einstein e coautor do livro Diversa-IDADE, atua na construção de diálogos e estratégias para apoiar cuidadores, mães, filhas e profissionais que vivem no limite da exaustão silenciosa.
