Com o objetivo de refletir sobre a exclusão afetiva vivida por mulheres negras em diferentes esferas da vida, será realizada no dia 7 de junho, às 11h, a conversa “Mulher Negra, Afetividade e Solidão“, com a artista e ativista Panmela Castro e a educadora e comunicadora Pâmela Carvalho, com mediação da coordenadora de comunicação da Rede NAMI Maybel Sulamita. A conversa, gratuita e aberta ao público, será realizada na exposição “Direito ao Afeto“, de Panmela Castro, em cartaz até o dia 2 de agosto de 2025, no Pavilhão Victor Brecheret, no Parque da Catacumba, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro.
Com curadoria de Keyna Eleison, a exposição transforma flores enviadas pelo público em pinturas feitas pela artista Panmela Castro, em um ritual de escuta, cuidado e presença. Inspirada em um manifesto elaborado pela artista, a mostra parte da premissa de que “o afeto não é privilégio – é um direito fundamental.” A frase sintetiza um percurso iniciado anos antes com a série “Mulheres Negras Não Recebem Flores”, nascida após a viralização do texto da escritora Gabriela Moura, que denunciava a exclusão afetiva de mulheres negras. “Sou uma mulher negra, e por muito tempo fui ensinada a não esperar cuidado. Essa exposição é uma forma de dizer que merecemos afeto, sim. E que merecemos recebê-lo em vida, em público, em gesto. Flores são só o começo”, afirma a artista.
Desta forma, integrando o programa educativo da exposição, a conversa ampliará as discussões sobre o tema, debatendo as estruturas que negam às mulheres negras o direito de viver o afeto como um princípio fundamental. O debate não se limita aos relacionamentos amorosos, mas abrange também as relações familiares, profissionais, comunitárias e institucionais. “Assim como bell hooks nos lembra, o amor não é apenas uma emoção, mas uma prática política. O programa educativo de Direito ao Afeto propõe exatamente isso: transformar o afeto em espaço de reflexão, ação e escuta coletiva.”, diz Panmela Castro.
“Falar da solidão da mulher negra numa exposição sobre afeto como direito é não só urgente, mas também revolucionário. A gente vive num país onde o afeto ainda é distribuído de forma desigual, como se fosse privilégio de alguns e não direito de todes. E quando falamos de mulheres negras, estamos falando de corpos que historicamente foram ensinados a servir, mas quase nunca a serem cuidados, amados, desejados ou priorizados. A solidão da mulher negra não é só estar sem companhia – é estar à margem do imaginário do amor, é ser invisível aos olhos do afeto.”, ressalta Pâmela Carvalho.
Ainda como parte da mostra, no dia 12 de julho de 2025, às 13h, será realizada a Oficina de Modelo Vivo Botânico, que convida o público a desenhar e pintar flores e plantas do Parque da Catacumba, ao lado da artista Panmela Castro, que também estará presente na exposição em alguns finais de semana realizando pinturas ao vivo.
Com realização do Arte Clube Jacarandá, Lagoa Aventuras e Panmela Castro Cultura e Arte, a exposição está instalada em um parque ecológico e convida o público a desacelerar e refletir sobre o que significa ser visto, celebrado e cuidado. A mostra também se conecta a discussões contemporâneas sobre os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis) e justiça climática. Segundo dados da ONU, mulheres negras e indígenas são as mais afetadas pelas crises ambientais.
SOBRE AS PARTICIPANTES DA CONVERSA:
Panmela Castro é uma ativista e artista visual que tem como força motriz o afeto, as relações de alteridade e o senso de pertencimento. Sua prática abrange estudos de performance e se desdobra em diversas mídias, como pintura, escultura, instalação, vídeo e fotografia, unificada pela ideia como elemento comum em sua produção. Suas obras estão presentes nos principais acervos do Brasil e também em coleções internacionais. Com mestrado em Processos Artísticos Contemporâneos pela UERJ e pós-graduação no curso de Direitos Humanos, Responsabilidade e Cidadania Global pela PUCRS, Panmela é reconhecida internacionalmente por seu ativismo no combate à violência doméstica em sua instituição de direitos humanos intitulada Rede NAMI. A artista foi homenageada em inúmeros prêmios e listas incluindo o título de “Young Global Leader” do World Economic Fórum (2013), “150 Women That Are Shaking The World”da revista norte americana Newsweek Magazine (2012), DVF Awards (2012), Medalha da Ordem ao Mérito Cultural Carioca (2022), Prêmio Marielle Franco (2022), além de ter Hillary Clinton inaugurando uma galeria de artes e ativismo com seu nome na embaixada internacional de Mulheres da Vital Voices em Washington DC.
Pâmela Carvalho é educadora, historiadora, gestora cultural, pesquisadora ativista das relações raciais e de gênero e dos direitos de populações de favelas. É mestre em educação pela UFRJ. É coordenadora do Centro AfroCarioca de Cinema, responsável pelo Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul. É Conselheira (Suplente) Estadual de Políticas Culturais do Rio de Janeiro e moradora do Parque União, no Conjunto de Favelas da Maré, Rio de Janeiro.
Maybel Sulamita é historiadora, curadora e pesquisadora. Possui doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestrado em História pela UNIRIO e especialização em Relações Étnico-Raciais pelo CEFET/RJ. Suas pesquisas estão voltadas para gênero, arte contemporânea, direitos humanos, trajetórias negras e cultura afro-diaspórica.
SOBRE O ARTE CLUBE JACARANDÁ
O Arte Clube Jacarandá foi fundado em 2014 por um grupo de artistas visuais amigos, que decidiu criar uma plataforma onde se pudesse discutir arte, fazer exposições, criar espaços de reflexão e editar publicações. Rapidamente a ideia ganhou corpo, com um evento na ArtRio daquele ano, e dali em diante foi realizada uma série de exposições, em diversos locais, e a publicação de oito edições da revista “Jacaranda”, com a participação de artistas, curadores e pesquisadores. O Arte Clube Jacarandá inicialmente ficou sediado em um palacete em Santa Teresa. Em 2016, se instalou na Villa Aymoré, um conjunto histórico de casas, tombado, no bairro do Catete. Desde 2023 tem espaço expositivo permanente no Pavilhão Victor Brecheret, no Parque da Catacumba, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro. Para 2025, está prevista a construção de uma nova sede, também no Parque, com projeto de Zanini de Zanine e Pedro Coimbra.
SOBRE O PARQUE DA CATACUMBA
O Parque da Catacumba passou a ser administrado integralmente pela Lagoa Aventuras em 2023, mas desde 2008 a empresa atua no local com atividades de turismo e aventura. O Parque é um amplo espaço bucólico com alamedas e praças que abrigam esculturas, mirantes, parquinho infantil, banheiros, bebedouro, bicicletário e fraldário. Um dos principais atrativos é a sua trilha para os Mirantes do Sacopã e Urubu. A história do local remonta ao início do século 20, com a Chácara da Catacumba pertencente à Baronesa da Lagoa Rodrigo de Freitas, que teria deixado em testamento suas terras para seus ex-escravizados, que passaram a ocupá-lo após sua morte. Em 1964, Carlos Lacerda, governador do então Estado da Guanabara, iniciou um processo de desmanche das favelas, removendo seus habitantes para “conjuntos habitacionais” distantes. Em 1970, na gestão de Negrão Lima, a favela foi removida e o local batizado de “Parque Carlos Lacerda”, em homenagem ao seu antecessor. A inauguração foi em 1979, pelo prefeito do Rio, Marcos Tamoyo. Depois da remoção da favela, o morro passou por um processo de reflorestamento, por um programa de contenção de encostas, ganhou diversas esculturas e um pavilhão para exposições artísticas. Na década de 1980, o Parque da Catacumba abrigou shows musicais e exposições gratuitos, ao ar livre, tornando-se um ponto importante de arte e cultura.
Serviço: Conversa “Mulher Negra, Afetividade e Solidão”
Dia 7 de junho de 2025, às 11h
Entrada gratuita
Pavilhão Victor Brecheret, Parque da Catacumba I Av. Epitácio Pessoa, 3000, Lagoa – Rio de Janeiro – RJ
Exposição Direito ao Afeto, de Panmela Castro
Curadoria: Keyna Eleison
Visitação: até 2 de agosto de 2025
De terça a sexta-feira: às 11h e às 15h (mediante agendamento prévio: https://lagoaaventuras.com.br/produto/exposicao-direito-ao-afeto/)
Sábados e domingos: das 10h às 16h (sem necessidade de agendamento)
Classificação indicativa: Livre
Realização: Arte Clube Jacarandá, Lagoa Aventuras e Panmela Castro Cultura e Arte




Autora:
Beatriz Caillaux