Há mais de dois anos ocupando o responsável papel de Cônsul-Geral da República da Lituânia em São Paulo, comecei a conhecer este país vasto e diverso que é o Brasil. Vinda de um pequeno país bem na Europa Central – o Instituto Geográfico Nacional Francês determinou que o centro geográfico da Europa fica a 20 km da capital lituana, Vilnius – fico ainda bastante impressionada com as enormes distâncias por aqui, que só podem ser percorridas de avião. Em meu país e em toda a Europa, é muito fácil viajar de carro ou trem. Apesar das diferenças e distâncias que separam os dois países, estamos unidos por valores democráticos comuns e por uma comunidade de lituanos brasileiros concentrada em São Paulo, que celebrará no próximo ano o centenário da sua imigração. Podemos, é preciso dizer, estreitar laços, ampliar nossa proximidade.
A Lituânia recuperou sua independência da União Soviética há 35 anos, se juntou à União Europeia e à OTAN, criando todas as condições para crescer, implementar reformas importantes e cooperar estreitamente com parceiros. A independência, em 1990, foi seguida por mudanças significativas: transição da economia planificada para o mercado livre, posterior estabilização e integração à UE e rápido crescimento, com ampliação do PIB superior a 21 vezes desde então.
Vivemos, todos sabem, difícil situação geopolítica na Europa, mas nosso país continua a enfocar parcerias e atrair investimentos estrangeiros significativos, aposta em ciência e tecnologia e tem emergido como um dos principais países para negócios, garantindo um impressionante 2º lugar no Relatório Global de Empreendedorismo GEM (Global Entrepreneurship Monitor) 2024/2025.
Atuar no campo diplomático traz dimensões variadas e todas para mim muito interessantes. Como exemplo, viajando pelos estados brasileiros, fiquei impressionada com a ênfase e os potenciais do setor de biotecnologia brasileiro. Acredito que a Lituânia deveria aprender com o Brasil ao passo em que pode oferecer algo nessa área – o setor de biotecnologia lituano é o que mais cresce em toda a União Europeia. Nosso país vem desenvolvendo mecanismos de estímulo às ciências da vida, com a ambição de o setor chegar a 5% do PIB até 2030 – atualmente, esse valor atinge 2,6%.
Podemos também destacar conquistas de cientistas lituanos reconhecidas internacionalmente, como o desenvolvimento do CRISPR-Cas9, uma das ferramentas mais poderosas da genética na atualidade, que valeu o prêmio Kavli de Nanociência concedido ao professor Virginijus Šikšnys, do Instituto de Biotecnologia da Universidade de Vilnius.
O Brasil conta com interessantíssimas estruturas do conhecimento como por exemplo aquelas vinculadas ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações como é o caso do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), e há enorme potencial para que se constituam parcerias com o nosso país. Podemos e queremos tomar parte e contribuir com pesquisas que se desenvolvem no acelerador de partícula Sirius, em Campinas, um dos mais avançados do Mundo.
Quero também me valer de algumas informações organizadas pelo professor Gediminas Račiukaitis, presidente da Associação Lituana de Lasers. A Lituânia tem uma completa estrutura de pesquisa e indústria de alta precisão, e o segmento de lasers conta com mais de 50 anos de história, sendo diferenciado em termos de pesquisa e soluções, provendo dispositivos para 95 das 100 melhores universidades do mundo. Tem como principais países receptores desta tecnologia os Estados Unidos, Alemanha e a China. Neste segmento, a Lituânia tem orgulho de ter conquistado o SPIE Prism 2024, o “Oscar da indústria do laser” – pelo desenvolvimento de equipamento, destacado na competição internacional anual que homenageia os melhores produtos ópticos e fotônicos do mercado.
A Lituânia tem soluções de laser para medicina de precisão, indústria automotiva, de defesa, ou também, em um exemplo mais “prático”, sistemas para análise de qualidade na produção leiteira. É um enorme universo, composto por cerca de 60 empreendimentos com cessão de dispositivos a laser e tecnologias relacionadas para empresas líderes e institutos de pesquisa em mais de 80 países ao redor do mundo.
E se o Brasil tem um agronegócio que é referência mundial e cada vez aposta mais na tecnologia e sustentabilidade, também há elementos tecnológicos lituanos com potencial para contribuição com este setor. Destaco a produção de fertilizantes, com o desenvolvimento de novas linhas de produção que reduzem a poluição ambiental, novas tecnologias que permitem a redução do consumo de energia e reciclam os resíduos da produção. E, também, a ênfase a bioestimuladores, que promovem o crescimento das plantas e aumentam sua resistência a doenças, reduzindo significativamente a necessidade de fertilizantes. País de apenas 2,8 milhões de habitantes, a Lituânia é hoje o 13º maior exportador de fertilizantes do mundo.
Se há um rearranjo global nas trocas comerciais, como se desenha na atualidade, podemos apoiar o Brasil para o desenvolvimento industrial, o agronegócio, para as universidades e centros de desenvolvimento científico.
Há muito a se explorar em termos de potencial intercâmbio de estruturas de tecnologia e pesquisa e produção industrial no Brasil e na Lituânia. Nosso pequeno país tem muito a mostrar e contribuir com este país em que vivo atualmente, sendo os segmentos que mencionei apenas breves exemplos, e de forma hospitaleira, abro as portas de nosso Consulado para apresentar a Lituânia e pontuar com vigor que estamos abertos à construção de parcerias.
Autora:
Audra Čiapienė é cônsul geral da República Lituana em São Paulo