Em Rei Lear, Shakespeare manda uma frase que parece ter sido escrita para hoje:
“É a praga dos tempos quando loucos conduzem os cegos.”
Essa fala vem de Gloucester, depois de ficar cego – literalmente. Mas o que ele começa a enxergar ali é muito mais profundo: o mundo está sendo guiado por líderes insensatos, e as pessoas seguem sem questionar. Essa cena de tragédia e desordem casa perfeitamente com o que estamos vivendo agora, em 2025, com Donald Trump de volta à presidência dos EUA.
Trump retomou com tudo sua agenda de tarifas e protecionismo. Taxas sobre produtos chineses, europeus, e até de aliados históricos. A ideia é “proteger o trabalhador americano”. O resultado? Instabilidade nos mercados, inflação, tensão entre nações e medo real de recessão global. As decisões parecem vir mais do instinto e da ideologia do que de qualquer análise racional das interdependências econômicas do século XXI.
E aqui a gente conecta com Platão. No Mito da Caverna, ele fala sobre pessoas que vivem acorrentadas, vendo só sombras na parede, acreditando que aquilo é a realidade. Quando alguém tenta sair e ver a verdade, a luz dói, incomoda, e os outros preferem continuar na escuridão. Trump não é quem rompe correntes. Ele fortalece as correntes. Ele alimenta as sombras.
Muitos seguem cegamente porque “sair da caverna” exige pensar, refletir e questionar – o que é desconfortável. E é assim que os loucos seguem no comando, e os cegos continuam seguindo, acreditando em soluções fáceis pra problemas complexos.
O que vemos hoje é a política conduzida por impulsos, por narrativas simplificadas e por uma recusa em olhar para a realidade como ela é. Shakespeare e Platão avisaram. A gente só precisa querer escutar.
Qualquer coincidência com o governo brasileiro anterior é mera semelhança.
Autor:
Marcelo Carvalho-Bastos é engenheiro químico, com MBA em Administração e Sistemas de Informação e especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental. Atuou em projetos nas áreas de engenharia química, tecnologia, meio ambiente e biotecnologia. Atualmente, dedica-se ao estudo e ao desenvolvimento de projetos em cinema e audiovisual, com foco em documentário, roteiro e edição de vídeo.