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domingo, 23 de junho de 2024

Análise da música Chão de Giz, de Zé Ramalho

Zé Ramalho é um consagrado cantor brasileiro. Nascido no interior, em uma cidadezinha com um cruzeiro na serra, em Brejo do Cruz, Paraíba, ele, desde os anos 1970, alcança gerações em todo o país com com suas músicas marcantes e a sua reverente voz.

No ano de 1978, lança uma de suas mais marcantes canções: Chão de Giz.

Sobre a canção ele abre a sua intimidade, por meio de metáforas (figura de linguagem). O artista narra a própria história de amor que vivera no passado, ainda nos anos 1970, quando foi morar em João Pessoa. Ele saiu do interior do sertão para buscar uma vida melhor na capital paraibana. Aos 21 anos, Ramalho conhece uma bela mulher, mais velha que ele, casada e que a conhece no carnaval pela qual se apaixona.

Acontece que esse amor platônico e arrebatador torna-se impossível, pois sua amada paixão é casada com um homem da sociedade e rico. Ele sabia que ela jamais deixaria o marido para ficar com ele, Zé Ramalho, que era pobre. Ele se sentia usado por ela. Assim, o caso que tomava proporções enormes foi terminado. Ramalho ficou arrasado por um tempo e teve que se mudar, visto que morava próximo à casa da mulher casada a qual amava. Nesse meio tempo, o cantor compôs chão de giz.

Letra e análise da canção Chão de Giz, de Zé Ramalho

Letra: Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz

Análise: o eu lírico entende que está vivendo uma solidão após o término do relacionamento com a mulher pela qual se apaixonou e espalha as coisas que ganhou dela (lembranças, fotografias) sobre o chão, formando assim um chão de giz com as coisas que ele espalha pelo chão.

Letra: Há meros devaneios tolos a me torturar

Análise: Enquanto ele olha para os objetos espalhados pelo chão, o eu lírico entra em confusão mental com os seus pensamentos e emoções, que o torturam ao lembrar de cada lembrança e foto que os vê sob o piso de casa.

Letra: Fotografias recortadas em jornais e folhas amiúde

Análise: o autor-narrador recolhe algumas fotografias e as rasga, tornando-as em pedaços miúdes e pequenos, espalhados como se fossem pedaços de jornais.

Letra: Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

Análise: Ele decide guardar algumas lembranças e fotografias da sua amada em um pano de guardar confetes de carnaval, que foi na festa na qual ele a conheceu.

Letra: Disparo balas de canhão, é inútil, pois existe um grão-vizir

Análise: As balas de canhão disparadas por Zé Ramalho na verdade são investidas de amor que ele faz em sua amada, fazendo insistências para ela deixar o marido para ficar com ele, mas as investidas são inúteis, pois existe uma desvantagem dele para o marido dela, que é um homem rico ou autoridade (grão-vizir), enquanto ele é um homem simples e pobre.

Letra: Há tantas violetas velhas sem um colibri

Análise: violetas velhas na verdade quer dizer que há tantas mulheres mais velhas igual a que ele está amando solteiras e sem marido (colibri é um beija-flor).

Letra: Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de Vênus

Análise: O narrador entra em desespero ao lidar com a perda da sua amada, vendo que ela não desiste do homem rico. Ele cita uma camisa de força para se referir que aquele amor seria uma loucura para ele, e a camisa de Vênus seria uma proteção para o seu coração contra aquele amor impossível. Vênus é um planeta que fica próximo ao Sol e que tem a sua atmosfera superaquecida e forte/densa, e Ramalho gostaria de ter um coração forte e quente para poder vencer esse amor platônico. Na astrologia, Vênus é o planeta do amor, do romance, das parcerias, do dinheiro, da beleza e dos prazeres.

Letra: Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro

Análise: Ramalho entende que não vai ficar com a mulher apenas por sexo. Um cigarro seria aquele tempo em que é usado o produto apenas para relaxar e depois jogar a sua bituca fora, seria uma analogia às relações sexuais que a mulher queria ter com ele e nada mais que isso.

Letra: Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu baton

Análise: O cantor entende que não vale a pena beijar por beijar, ou fazer sexo por fazer. O gastar do batom seria o gastar das energias corporais para a finalidade apenas da relação sexual.

Letra: Agora pego um caminhão, na lona, vou a nocaute outra vez. Pra sempre fui acorrentado no seu calhanhar

Análise: Ao deixar João Pessoa e voltar para o seu interior, em um caminhão de lona, conhecido no interior como pau de arara, ele começa a ter novamente confusões com os pensamentos e se sente abatido (nocaute) ao lembrar de sua ilusão pela mulher que tinha dono. Ele lembra também que sempre foi acorrentado no sentimento que tinha por ela e o quanto isso o amargura.

Letra: Meus vinte anos de boy: that’s over, baby. Freud explica…

Análise: Ele relembra que antes de conhecer a mulher, aos seus vinte anos, tudo era normal, mas que aquele tempo de paz em seu coração acabou (that’s over, baby > acabou, meu bem). O narrador também cita Freud para buscar uma explicação para o seu comportamento incompreensível em relação a esse sentimento que o maltrata.

Letra: Não vou me sujar fumando apenas um cigarro, nem vou te beijar, gastando assim o meu batom

Análise: Ele entende que é necessário seguir sem ela, visto que ela não abandona o seu marido rico, e que fazer sexo apenas por fazer (fumar apenas um cigarro) não vale a pena para ele, e que não vale apenas alimentar um sentimento que não vai levar a nada porque ela prefere ficar com o seu grão-vizir (beijar e gastar o batom).

Letra: Quanto ao pano dos confetes: já passou o meu carnaval

Análise: Ainda sobre as lembranças e fotografias que ele guardava dela dentro de um pano de confetes, ele alega que desapegou desses objetos, os eliminando de alguma forma (passou o carnaval).

Letra: E isso explicar porque o sexo é assunto popular

Análise: Zé entende que ela queria apenas sexo com ele e que isso para ela poderia ser normal – transar por transar – e que talvez esse fosse o pensamento de muitos daquela época, e que ele buscava compreender mais sobre isso.

Letra: No mais, estou indo embora…

Análise: O eu lírico se ver liberto do amor ao deixar a capital paraiana e deixando para trás também o seu amor impossível. Ele finaliza a sua narração em tom amargo, confuso, mas esperançoso com o futuro que o aguarda pela frente.

Se gostaram desta análise, compartilhe com os seus amigos. Até a próxima, gente!

Autor: Walisson Jonatan de Araújo Maia

Fortaleza, 26 de setembro de 2023

Walisson Jonatan de Araújo Maia
Wallysson Maiahttp://lattes.cnpq.br/8683005938555663
Wallysson Maia (pseudônimo de Walisson Jonatan de Araújo Maia) é pós-graduado em ciências políticas e pós-graduado em língua portuguesa.

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