Em uma noite fria de uma cidade do interior, em meio à uma rua deserta, a luz dos postes serve como solitária iluminação, enquanto o vento sopra forte o suficiente para agitar os galhos das árvores espalhadas ao redor.
Em meio ao vento, bem no meio dessa cidade, um banquinho vazio aguarda a chegada de Thiago, um homem de 20 e poucos anos, que caminha pelo silêncio das ruas.
Seu moletom largo e suas olheiras cansadas são reflexo do péssimo dia que teve, e tudo o que ele quer é um lugar tranquilo para descansar e acender seu cigarro de palha.
“Que sorte”, pensou ele ao ver o banquinho.
Ao se sentar, tira o cigarro de palha e o acende.
Seus tragos o trazem paz, e o vento e silêncio também não são de se jogar fora.
“Ei”, ele escuta em um cochicho.
No susto, Thiago olha em volta. Mas não vê ninguém.
Nem pela esquerda, nem pela direita; ninguém.
“Tô doido”, pensou. E devia estar. Seu chefe já estava deixando-o nervoso, e ele havia pego seu namorado o traindo não fazia muito tempo.
Só quem não o abandonou foi a palha. Talvez fosse ela quem o chamou?
“Ei”, o chamam mais uma vez.
Não era a palha. Dessa vez, os pelos do braço de Thiago começam a se arrepiar, e ele prefere sair dali.
Ele caminha, é claro, na direção contrária ao que ele acredita ser a voz que o chama. Não fica claro para ele se é um homem ou uma mulher. A voz, na verdade, não lembra nem um nem outro.
É apenas isso. A voz.
“Ei”.
Dessa vez, Thiago nem a busca. Começa a andar mais depressa, e bate em sua cabeça para arrancá-la de dentro pra fora.
“Ei”.
Ele aperta o passo, com sua palha já apagada pelo forte vento, mas que não sai de sua mão por nada.
“Ei”, chamam. E agora, Thiago vê de onde veio.
Uma porta aberta em frente a um casarão abandonado, suas luzes são as únicas acesas na rua em que Thiago acabou indo parar.
“Eu conheço aqui?”, ele se pergunta. A cidade não é grande, e ele vive lá desde que se conhece por gente. Como é possível que não conheça aquele lugar?
“Pode vir”, a voz o chama.
Sem saber porquê, Thiago se acalma.
Até o vento parou de tanta serenidade que invadiu as ruas vazias com aquele chamado.
Thiago acende novamente sua palha, respira fundo e, sem pensar duas vezes, segue para a porta aberta do casarão vazio.
Ela se fecha logo em seguida.
Alguns dias depois, a polícia abre mão das buscas por Thiago.
O consenso geral é de que ele quis ir embora, mas sua família não acredita que ele os deixaria. Eles não sabem, é claro, do episódio da traição.
Na verdade, nem sabiam que ele gostava de homens.
Seu chefe, enquanto isso, já contratou um substituto e não perdeu tempo em dizer que o problema é do funcionário que não quer trabalhar.
“Igual ele tem mil”, diz pra si mesmo.
E a vida da cidade seguiu. Ninguém nunca mais viu ou ouviu dizer algo sobre o saudoso Thiago.
Sobre a voz na pracinha e sua veracidade?
Algumas pessoas insistem em dizer que já a ouviram, mas que nunca foram atrás para saber de onde veio.
Quem a ouviu, porém, afirma com plena certeza de que é a voz de um homem que encontrou a paz.
Perfeito ??
Nossa, eu adorei Má . Parabéns
Ansiosa pele próximo
Realmente impressionante !