O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), promovido pelo governo federal por meio de decreto, gerou forte reação no Congresso. Mais de 20 projetos já foram apresentados para tentar derrubar a medida. Apesar da pressão política, integrantes da equipe econômica acreditam que o decreto será mantido.
Enquanto parlamentares debatem os efeitos políticos da decisão, economistas alertam para suas consequências práticas. João Victor da Silva, analista de mercado da Orsitec, é categórico: a elevação do IOF encarece o crédito, pressiona a inflação e mina a confiança na condução da política econômica brasileira.
O que é o IOF e por que ele importa
O IOF é um imposto federal que incide sobre diversas operações financeiras, como crédito, câmbio, seguros e investimentos. A nova medida eleva a alíquota para várias dessas operações, gerando reflexos imediatos no bolso do cidadão.
Para pessoas físicas, o aumento de 3,5% incide diretamente sobre compras internacionais com cartão de crédito, cartões pré-pagos, remessas de dinheiro para o exterior e aquisição de moeda estrangeira. “Fica mais caro viajar, estudar fora ou simplesmente enviar recursos para parentes no exterior”, resume João Victor.
Pressão sobre empresas e riscos econômicos
O impacto também se estende ao setor produtivo. O aumento das alíquotas sobre operações de crédito, tanto no Brasil quanto no exterior, eleva o custo do capital para as empresas. “Considerando que já estamos em um ambiente de juros elevados, adicionar esse IOF ao custo de crédito desestimula investimentos, ocasionando menos geração de emprego”, explica o economista.
Além disso, o aumento do custo das empresas tende a ser repassado ao consumidor, pressionando ainda mais os preços e alimentando a inflação. “É uma medida que encarece o crédito e afeta toda a cadeia econômica”, avalia.
Credibilidade e volatilidade
Outro ponto crítico destacado por João Victor é o efeito da medida sobre a percepção de estabilidade econômica. Segundo ele, decisões fiscais tomadas de forma abrupta, sem uma estratégia clara, comprometem a confiança dos investidores — tanto nacionais quanto estrangeiros.
“A falta de previsibilidade gera apreensão. O vai-e-volta sobre alíquotas do IOF em fundos e investimentos no exterior mostra uma condução improvisada da política econômica”, aponta. Para o analista, esse tipo de instabilidade pode levar à depreciação do real, à fuga de capitais e ao aumento dos preços internos, agravando ainda mais o cenário econômico.
Caminhos para o equilíbrio fiscal
João Victor também faz um alerta estrutural: insistir em aumentos de impostos para equilibrar as contas públicas é um caminho cada vez mais estreito. “A carga tributária brasileira já é extremamente elevada. As medidas de ajuste pela via da arrecadação estão se tornando inviáveis e produzem efeitos recessivos”, argumenta.
A solução, segundo ele, passa necessariamente por uma reavaliação dos gastos públicos. “O único ajuste fiscal sustentável no longo prazo virá com a redução e racionalização das despesas do Estado”, conclui.
Sobre o especialista:
João Victor da Silva é bacharel em Economia e Relações Internacionais pela Boston University (Summa Cum Laude), mestre em Relações Internacionais pela University of Chicago e mestre em Finanças pela University of Miami. Atua como Analista de Mercado na Orsitec, com foco em macroeconomia e reforma tributária.
Autora:
Sandra Domit