Análise Fílmica de “Casablanca” (1942):

"Casablanca" é uma das obras mais icônicas do cinema

"Casablanca" (1942):

“Casablanca” é uma das obras mais icônicas do cinema, situada no contexto da Segunda Guerra Mundial e envolvendo temas como amor, sacrifício e luta pela liberdade. A trama, ambientada no Marrocos, mostra Rick Blaine (Humphrey Bogart), um cínico dono de bar, envolvido em um triângulo amoroso com Ilsa Lund (Ingrid Bergman) e Victor Laszlo (Paul Henreid), um líder da resistência. A análise do filme envolve tanto o aspecto narrativo quanto o técnico, destacando os elementos sociais e estéticos que o tornaram um clássico.

Críticas Sociais Presentes no Filme

Embora “Casablanca” seja, à primeira vista, um drama romântico, ele também carrega críticas sociais sutis sobre os dilemas éticos e políticos em tempos de guerra. Lançado em 1942, quando os EUA acabavam de entrar na Segunda Guerra Mundial, o filme aborda questões de lealdade, nacionalismo e sacrifício pessoal pelo bem maior. A figura de Rick Blaine, um americano que inicialmente se mantém neutro e cínico, simboliza a hesitação inicial dos EUA em se envolver diretamente na guerra. No entanto, conforme Rick se envolve na luta de Victor Laszlo contra os nazistas, o filme reflete a crescente percepção de que a intervenção na guerra era inevitável e moralmente necessária.

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Outra crítica social relevante é o tratamento dado aos refugiados. Casablanca, como cidade de passagem para aqueles que fogem da Europa ocupada, é um espaço de transição onde se revela o desespero dos refugiados. O filme traz à tona as dificuldades que essas pessoas enfrentavam para escapar da guerra, destacando temas como corrupção, ganância e o tráfico de vistos, sugerindo a insensibilidade burocrática dos governos em tempos de crise.

Movimentos de Câmera

Michael Curtiz utilizou com maestria a câmera para realçar as tensões dramáticas do filme. Em especial, os movimentos sutis e os enquadramentos meticulosamente planejados são cruciais para o desenvolvimento emocional dos personagens.

Os planos-sequência e os travellings horizontais ajudam a capturar a dinâmica do bar de Rick, criando uma sensação de ambiente vivo e tenso, onde todos os personagens estão interconectados. A câmera também frequentemente foca em closes de personagens para intensificar a carga emocional, especialmente nos momentos de maior conflito entre Rick e Ilsa.

Uso dos Closes

Os closes desempenham um papel fundamental em “Casablanca”. Eles são utilizados para destacar momentos de introspecção e emoção intensa. Dois exemplos emblemáticos:

O close em Rick quando ele vê Ilsa pela primeira vez no seu bar. A câmera se aproxima lentamente do seu rosto, capturando sua surpresa e dor reprimida, refletindo o choque do reencontro.

O close final em Ilsa e Rick no aeroporto, quando Rick toma a decisão de deixá-la partir com Laszlo. Esses closes enfatizam o sacrifício emocional de Rick, além de simbolizar a importância de um bem maior (a luta contra o nazismo) sobre o desejo pessoal.

Os closes, portanto, são usados de maneira estratégica para expressar as complexas emoções dos personagens e intensificar os momentos de maior carga dramática.

Iconemas Presentes no Filme

Na análise fílmica, os “iconemas” são elementos visuais recorrentes que, além de possuírem significados intrínsecos, evocam temas mais amplos na narrativa. Em “Casablanca”, há vários iconemas que, ao longo da história, assumem uma carga simbólica.

O piano de Sam (Dooley Wilson): Representa a nostalgia de Rick e Ilsa, especialmente durante a canção “As Time Goes By”. Ele é o ponto focal de memórias compartilhadas, mas também funciona como um lembrete do tempo que nunca poderá ser recuperado.

Os papéis de trânsito: Simbolizam a liberdade em um sentido literal (os papéis que permitem a saída de Casablanca) e figurativo (a possibilidade de escapar da guerra e do sofrimento). Eles se tornam o objeto mais valioso do filme, transcendendo sua mera função burocrática para representar esperança e sobrevivência.

A garrafa de álcool de Rick: Representa a tentativa de Rick de afogar suas mágoas e sua atitude cínica em relação à vida e ao amor. No entanto, à medida que o filme avança, o uso do álcool como uma fuga emocional diminui, simbolizando a transformação interna do personagem.

A iluminação sombria e os contrastes de luz e sombra: Esses elementos visuais reforçam a natureza ambígua e moralmente complexa da história. O uso da iluminação frequentemente coloca os personagens em silhueta, sugerindo que eles estão lutando com dilemas internos e escolhas difíceis.

Considerações

“Casablanca” se destaca não apenas por sua narrativa romântica e heroica, mas por sua abordagem social crítica. Combinando temas de sacrifício, lealdade e a luta por um bem maior, o filme oferece uma reflexão sobre os dilemas morais em tempos de guerra. Tecnicamente, os movimentos de câmera, especialmente os closes, são fundamentais para construir a tensão dramática e emocional. Além disso, os iconemas reforçam os temas centrais da obra, criando um filme atemporal que continua a ressoar com o público.

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