São inúmeros os problemas causados pelo uso, ou melhor, pelo mau e excesso de uso de aparelhos celulares por crianças e adolescentes, entre eles, problemas de visão e postura, além de afetar o desenvolvimento cognitivo e a socialização. Todos esses problemas afetam também os adultos. Mas são justamente os jovens que foram proibidos de usar esses aparelhos nas escolas – Lei 15.100/25 -, com a justificativa de que isso favorece a distração. A indisciplina e a falta de foco dos alunos em sala de aula têm muitas causas e aparelhos eletrônicos não são os únicos objetos a atrapalhar a dinâmica em sala de aula e a concentração dos jovens. Celulares são usados como babás eletrônicas. Veja em qualquer restaurante ou pizzaria, famílias reunidas, onde os adultos conversam e as crianças são isoladas – pelos pais – e usam os celulares para se distraírem. Se nem os pais controlam o uso, repetindo, o mau uso desses aparelhos, será o professor o responsável por isso?
Até porque a tecnologia está aí e é uma poderosa aliada do processo educacional. As crianças usarão o celular por toda a vida e esse aparelho, cada vez mais sofisticado, exige alfabetização tecnológica. Não faz sentido tira-lo de sala de aula e mantê-lo nas atividades do dia a dia. Trabalhar com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ainda é um tabu nas escolas. Professores e gestores não são treinados para isso. Alguns docentes mais jovens, que dominam a parte mecânica dos aparelhos eletrônicos fazem sucesso nas escolas ajudando os professores mais velhos a usar lousas eletrônicas e softwares educacionais, ou ainda o diário eletrônico, semelhante aos nerds nas empresas que tem o falso orgulho de possuir um pretenso poder e de um conhecimento que seus pares e superiores não possuem. Mas isso é diferente de dominar metodologias educacionais utilizando os TICs (celulares inclusos). Passar um filme no projetor ou usar figuras em power points toscos não é aprimorar o processo educativo, e sim um uso inadequado dos antigos recursos áudio visuais, se não tiverem uma estratégia pedagógica adequada e desenvolver o espírito crítico.
Os alunos deveriam estar sendo ensinados a pesquisar nos aparelhos portáteis e a ter discernimento em torno das informações que pesquisam. Isso é papel da escola. Saber diferenciar fonte fidedigna e ciência da picaretagem; fake news, da verdade. Muitos de seus pais também são vítimas das desinformações. Não passaram por um processo de educação midiática, que se fala tanto e contaminam os filhos com preconceitos e opiniões tipo “a terra é plana” ou “vacinas tem chips”, que “aprendem” pelo mau uso do acesso à informação via celulares e computadores. Felizmente, aquela lei admite a liberdade de cátedra do professor, e permite o uso dos celulares em sala de aula se os docentes assim desejarem, por incluir os aparelhos em alguma estratégia pedagógica. Como isso é mais difícil de executar, é cômodo entrar na onda da proibição e voltar as aulas expositivas.
Autor:
João Marcos Rainho, jornalista e professor