Chove em São Paulo. O trânsito como sempre, fica mais caótico ainda. Os poucos pássaros que habitam a cidade se recolhem. Em vista de outros dias, pode-se dizer que a cidade está em silêncio. Exceto pelas buzinas dos carros e as sirenes das ambulâncias. No momento estou em paz. Degusto devagar uma garrafa de vinho. Copo a copo! Penso. Reflito. Aí sinto que minha alma chora. Sabe por quê? Porque a pouco quase tropecei em um morador de rua, deitado na calçada. Molhado! Talvez com fome! E eu, satisfeito após um suculento almoço. Algumas imagens se formam em meus pensamentos. Este individuo que as pessoas o evitam ao passar por ele, já foi um bebê. E certamente, o seu nascimento, foi um dia de festa. Ele trouxe alegria para alguma família. A família dele. Qual será sua história? Como ele desceu tanto na pirâmide social. Ele foi abandonado? Ou ele é que, por algum motivo muito forte, abandonou tudo. Nunca vou saber? Provavelmente ele teve uma bela família. Provavelmente ele até uma certa idade fez planos. Será que teve uma namorada. Será que queria se casar? Queria ter um bom trabalho? Queria ser alguém na vida. Penso e as lágrimas internas emergem em minhas pupilas. Não posso fazer nada. Não posso mudar a vida dele. Encho o copo, e o degusto com uma certa raiva! Quero aplacar uma dor que surge de mansinho dentro de mim. Uma dor que me faz pensar que sou um inútil!? Sou humano e nada posso fazer por este ser humano. Esvazio o copo e ligo para a prefeitura resgatá-lo. O que fiz não é nada. Penso qual será o destino deste homem, que um dia trouxe esperança para uma família. Então só me resta admitir que a minha alma vai chorar muito, porque há muitos indivíduos nessa situação em minha cidade. Que Deus abençoe a todos, e principalmente esses que se perderam pelo caminho…
