No turbilhão de entretenimento nostálgico que domina as plataformas em 2025, “X-Men 97” não é só mais um reboot disfarçado de homenagem. Ela é, ao mesmo tempo, uma carta de amor aos seus fãs originais e uma audaciosa provocação às ideias que permeiam nossa sociedade contemporânea. Se as temporadas da animação clássica dos anos 1990 cultivaram gerações inteiras de nerds e inquietos, apostando em tramas de exclusão social, política identitária e moralidade dúbia, a nova série reforça que os velhos dilemas dos mutantes servem perfeitamente ao cenário polarizado que vivemos hoje. A estética permanece fiel: trilha sonora eletrizante, desenhos que remetem ao traço da televisão aberta – só faltou o chão quadriculado e a dublagem escorregadia para o brasileiro se afogar em lembranças. Mas a magia de “X-Men 97” está longe de ser mero fetiche vintage; ela manifesta-se no modo como a produção atualiza o debate sobre intolerância, direitos civis e conflitos éticos, sem abrir mão de diálogos ácidos e histórias recheadas de ironias.
Os personagens são subversivos, mais densos e ao mesmo tempo mais vulneráveis, explorando traumas e dissidências internas que são o espelho da nossa geração fragmentada. Magneto é a síntese do líder que oscila entre radicalismo e pragmatismo, enquanto Xavier continua sendo o patrono ambíguo do discurso liberal, sempre tentado pelo autoritarismo mascarado de boas intenções. O resultado é uma narrativa afiada, capaz de criticar o status quo e simultaneamente dialogar com os anseios por justiça e reconhecimento. Se há um pecado na obra, é o risco de se perder nas próprias referências, apostando em fan service que pode deixar o público menos nostálgico de fora da festa dos mutantes. Ainda assim, “X-Men 97” faz valer a pena o retorno ao Instituto Xavier: ali, não há respostas fáceis, só dilemas cada vez mais urgentes. Os mutantes continuam sendo metáfora perfeita para o mundo real, onde os excluídos resistem, se organizam e, às vezes, até vencem.
Disponível no Disney+.
Nota: 9,0/10.

