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terça-feira, 28 de outubro de 2025

Dica de Série: Mutantes do Passado, Anseios do Presente – “X-Men 97” e a Nostalgia Revoltada

No turbilhão de entretenimento nostálgico que domina as plataformas em 2025, “X-Men 97” não é só mais um reboot disfarçado de homenagem. Ela é, ao mesmo tempo, uma carta de amor aos seus fãs originais e uma audaciosa provocação às ideias que permeiam nossa sociedade contemporânea. Se as temporadas da animação clássica dos anos 1990 cultivaram gerações inteiras de nerds e inquietos, apostando em tramas de exclusão social, política identitária e moralidade dúbia, a nova série reforça que os velhos dilemas dos mutantes servem perfeitamente ao cenário polarizado que vivemos hoje. A estética permanece fiel: trilha sonora eletrizante, desenhos que remetem ao traço da televisão aberta – só faltou o chão quadriculado e a dublagem escorregadia para o brasileiro se afogar em lembranças. Mas a magia de “X-Men 97” está longe de ser mero fetiche vintage; ela manifesta-se no modo como a produção atualiza o debate sobre intolerância, direitos civis e conflitos éticos, sem abrir mão de diálogos ácidos e histórias recheadas de ironias.

Os personagens são subversivos, mais densos e ao mesmo tempo mais vulneráveis, explorando traumas e dissidências internas que são o espelho da nossa geração fragmentada. Magneto é a síntese do líder que oscila entre radicalismo e pragmatismo, enquanto Xavier continua sendo o patrono ambíguo do discurso liberal, sempre tentado pelo autoritarismo mascarado de boas intenções. O resultado é uma narrativa afiada, capaz de criticar o status quo e simultaneamente dialogar com os anseios por justiça e reconhecimento. Se há um pecado na obra, é o risco de se perder nas próprias referências, apostando em fan service que pode deixar o público menos nostálgico de fora da festa dos mutantes. Ainda assim, “X-Men 97” faz valer a pena o retorno ao Instituto Xavier: ali, não há respostas fáceis, só dilemas cada vez mais urgentes. Os mutantes continuam sendo metáfora perfeita para o mundo real, onde os excluídos resistem, se organizam e, às vezes, até vencem.

Disponível no Disney+.
Nota: 9,0/10.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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