Continuando a série de matérias sobre a franquia “Mortal Kombat Legends”, em meio ao mar de adaptações duvidosas que assolam franquias clássicas, “Mortal Kombat Legends – A Vingança de Scorpion” emerge como uma espécie de fatality cinematográfico: direto, cruel, estiloso e feito para os convertidos que respiram finish him e se deleitam na violência estilizada. Lançado em 2020, o longa animado da Warner Bros. Animation não pede licença para revisitar a mitologia de Mortal Kombat – invade, decapita, e constrói sua narrativa sobre a pilha de cadáveres que é a expectativa de fãs frustrados.
Aqui não existe pudor visual, nem hesitação temática: Scorpion, o espectro amarelado movido por vingança e dor, vive uma jornada que é tão sanguinolenta quanto existencial. A direção de Ethan Spaulding entende perfeitamente que Mortal Kombat é sinônimo de exagero, de músculos e monstros, de mortes mirabolantes e rivalidades eternas. Da primeira cena, o filme exibe uma animação caprichada e uma trilha sonora pulsante, mergulhando o espectador numa orgia de cores, golpes e gritos – tudo com aquela aura de nostalgia oitocentista de fliperama e joystick torto.
O roteiro? Não é Shakespeare, mas também não precisa ser. A trama entrega o básico: Hanzo Hasashi, transformado no vingativo Scorpion, busca redimir sua honra através do torneio Mortal Kombat, enfrentando inimigos simbólicos e reais, enquanto outros personagens icônicos como Sub-Zero, Raiden e Liu Kang se digladiam para garantir o destino do Reino da Terra. É uma história de vingança pura, quase adolescente, envolta em dilemas que só fazem sentido para quem já gritou “Get over here!” na sala de casa.
A beleza do filme reside no plástico dos seus movimentos: cada golpe é uma coreografia violenta, cada fatality é desenhado com amor ao detalhe grotesto, cada explosão de sangue parece uma aquarela para adultos. Não há didatismo, porque Mortal Kombat nunca foi sobre lições de vida – é sobre revanche, e o longa entende isso perfeitamente. Ainda assim, por trás da carnificina, existe um substrato de reflexão sobre perda, destino e o ciclo eterno da violência que, se não ensina, ao menos diverte ao questionar.
Se a intenção era agradar ao público que cresceu nas sombras dos arcades e dos VHSs proibidos, “A Vingança de Scorpion” é praticamente um uppercut na memória afetiva. Para quem deseja assistir à animação hoje, a produção está disponível no catálogo digital da HBO Max no Brasil, além de opções para aluguel ou compra em plataformas como Google Play e Amazon Prime Video.
Nota? Solta o fatality: 8,5. É sangue, nostalgia, plasticidade e vingança na medida certa para um público que não teme a brutalidade, mas a ausência de respeito à essência do game.

