O filme “Deu Zebra” (título original “Racing Stripes”) é um exemplar de como a fantasia pode ser utilizada para abordar temas universais de identidade, exclusão, persistência e sonhos. Lançado em 2005 sob direção de Frederik Du Chau, conta a história de Stripes (no Brasil, Listrado), uma zebra que, abandonada por um circo numa tempestade, é acolhida por um fazendeiro e sua filha, Channing, e acaba criando a inusitada ambição de se tornar um cavalo de corrida. O filme, ambientado numa fazenda vizinha a um hipódromo, brinca com o absurdo da premissa e constrói um universo onde animais conversam e compartilham sentimentos e inseguranças de maneira notavelmente humana, inclusive na versão brasileira, com vozes conhecidas da cultura pop nacional.
A estética do longa se sustenta em efeitos especiais suaves e uma coreografia curiosa entre bichos dublados e humanos resignados, entre a comédia de situações e o drama pessoal das personagens. Cada animal secundário — seja a cabra, o galo ou o pônei — entra com pitadas de humor tipicamente infantil, pontuando ensinamentos e cutucadas no mundo das corridas de cavalos, onde a barreira de entrada é quase tão arbitrária quanto as linhas de uma zebra. O filme oscila entre o clichê do “acreditar em si mesmo” e o sarcasmo de desafiar as convenções do entorno: afinal, quem disse que alguém precisa caber no molde alheio para ser campeão?
“Deu Zebra” é também sobre a coragem de assumir para si um sonho improvável em um ambiente onde todos apostam que você não vai sequer largar na pista; é sobre desafiar arquétipos (o cavalo puro-sangue, o treinador amargurado, a vilã vaidosa) com ingenuidade, trabalho coletivo e uma saudável dose de desobediência. A narrativa revela a fragilidade e a força da diferença: Stripes não é cavalo, mas tampouco desiste sem correr. O roteiro costura, ainda, questões de luto e recomeço, pincelando conflitos familiares junto à comédia leve que mantém o público jovem entretido.
Quem espera uma obra-prima da sétima arte talvez dê de cara com um cavalo turrão no caminho, mas quem aceita o convite ao improvável pode se surpreender com a atualidade das metáforas. É uma fábula, mas também uma piscadela para todos que já se sentiram deslocados no próprio curral.
No momento, o filme não está disponível nas principais plataformas de streaming no Brasil, mas é encontrado em DVD e, ocasionalmente, pode surgir em catálogos digitais e TV a cabo nacional.
Nota: 6,5/10

