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terça-feira, 28 de outubro de 2025

Cinema: “Deu Zebra” – Quando Sonhar é Correr Fora da Raia

O filme “Deu Zebra” (título original “Racing Stripes”) é um exemplar de como a fantasia pode ser utilizada para abordar temas universais de identidade, exclusão, persistência e sonhos. Lançado em 2005 sob direção de Frederik Du Chau, conta a história de Stripes (no Brasil, Listrado), uma zebra que, abandonada por um circo numa tempestade, é acolhida por um fazendeiro e sua filha, Channing, e acaba criando a inusitada ambição de se tornar um cavalo de corrida. O filme, ambientado numa fazenda vizinha a um hipódromo, brinca com o absurdo da premissa e constrói um universo onde animais conversam e compartilham sentimentos e inseguranças de maneira notavelmente humana, inclusive na versão brasileira, com vozes conhecidas da cultura pop nacional.

A estética do longa se sustenta em efeitos especiais suaves e uma coreografia curiosa entre bichos dublados e humanos resignados, entre a comédia de situações e o drama pessoal das personagens. Cada animal secundário — seja a cabra, o galo ou o pônei — entra com pitadas de humor tipicamente infantil, pontuando ensinamentos e cutucadas no mundo das corridas de cavalos, onde a barreira de entrada é quase tão arbitrária quanto as linhas de uma zebra. O filme oscila entre o clichê do “acreditar em si mesmo” e o sarcasmo de desafiar as convenções do entorno: afinal, quem disse que alguém precisa caber no molde alheio para ser campeão?

“Deu Zebra” é também sobre a coragem de assumir para si um sonho improvável em um ambiente onde todos apostam que você não vai sequer largar na pista; é sobre desafiar arquétipos (o cavalo puro-sangue, o treinador amargurado, a vilã vaidosa) com ingenuidade, trabalho coletivo e uma saudável dose de desobediência. A narrativa revela a fragilidade e a força da diferença: Stripes não é cavalo, mas tampouco desiste sem correr. O roteiro costura, ainda, questões de luto e recomeço, pincelando conflitos familiares junto à comédia leve que mantém o público jovem entretido.

Quem espera uma obra-prima da sétima arte talvez dê de cara com um cavalo turrão no caminho, mas quem aceita o convite ao improvável pode se surpreender com a atualidade das metáforas. É uma fábula, mas também uma piscadela para todos que já se sentiram deslocados no próprio curral.

No momento, o filme não está disponível nas principais plataformas de streaming no Brasil, mas é encontrado em DVD e, ocasionalmente, pode surgir em catálogos digitais e TV a cabo nacional.

Nota: 6,5/10

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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