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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Evacuem a cidade, preparem as defesas e deem um microfone para esse homem.

Acho que não cabe aqui explicar a referência ao filme Vingadores, Guerra Infinita. Explicar a coisa toda levaria tempo, e como todos já bem sabem, explicar a piada faz perder toda a graça. Mas resolvi usá-la no título desse texto mesmo assim.
Acontece que ultimamente, venho percebendo que o Brasil possui dois personagens quase quadrinísticos e que só precisam de um microfone para descarregar suas rajadas supersônicas de destruição. Estou falando, é claro, de Lula e Bolsonaro.
Esse início de fevereiro de 2024 foi particularmente proveitoso para quem gosta de acompanhar a tragédia política. No caso de Lula, pelas bobagens ditas ao microfone nos eventos que participou, e no caso de Bolsonaro, pelo amplo rastro de provas que deixou contra si mesmo e que desencadeou a operação Tempus Veratis.
Bolsonaro, aliás, enfrentou uma grande dose de resistência em seu governo justamente por conta de sua língua solta, ao ponto de que provavelmente o mandatário evitaria metade dos problemas se tão somente tivesse falado o mínimo possível. Mas aí Bolsonaro não seria Bolsonaro.
Acontece que nesse ponto Lula não se sai melhor. Embora conte com mais simpatia dos formadores de opinião, parece que Luiz Inácio não está adaptado aos tempos de internet, tempos em que cada palavra sua é ouvida em tempo real, atraindo reações imprevisíveis na velocidade da luz.
Essa constatação sequer chega a ser impressionante, pois afinal, Lula governou pela última vez no ano de 2010, em um momento em que a internet era uma novidade para a ampla maioria no Brasil, e numa realidade em que as próprias redes sociais apenas engatinhavam.
Não caberia discorrer sobre cada absurdo que integrou os discursos políticos nos últimos anos, seja de Lula, Bolsonaro, ou outro fanfarrão de mesma estirpe. Mas podemos ao menos tecer alguns comentários sobre as notícias mais quentes dos últimos dias.
Nessa semana, Lula disse em alto e bom tom que nenhuma mulher quer namorar um ajudante geral. Essa fala veio poucos dias de distância de outra fala do presidente, dizendo que uma moça que participava no evento deveria estar ali para performar alguma música, pois afrodescendente gosta de um batuque.
Antes de mais nada, fica o registro de que eu já li todas as declarações de gente apaixonada pelo mandatário querendo minimizar o teor dos seus comentários, e mesmo assim, permanece a percepção de que qualquer outro seria linchado em praça pública se tivesse usado tal vocabulário, a exceção, é claro, do próprio Lula, o deus sol.
Em qualquer outro contexto, associar a etnia de uma pessoa com um gosto musical específico seria visto como adesão a um estereótipo grosseiro, isso sem falar dos milhares de ajudantes gerais que votaram em Lula e que ouviram dele a profecia de que permanecerão solteiros enquanto permanecerem ajudantes gerais. O mito do herói humilde da classe trabalhadora certamente saiu arranhado.
Mesmo assim, quero dizer que não estou aqui para pedir para que Lula ou Bolsonaro parem de dizer suas patacoadas. Na verdade, estou muito satisfeito de que vivamos na era da internet, e que os mandatários não tenham o poder inconteste de decidir qual história deve ser contada. Por sorte, as redes sociais já lhes subtraíram tal artifício.
Portanto, na próxima vez em que tipos como Lula ou Bolsonaro quiserem fazer graça para a manada, que alguém diga:
Evacuem a cidade. Preparem as defesas e deem um microfone para esse homem…

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