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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Empreendedorismo feminino: 19 de novembro celebra a inclusão das mulheres em cargos de liderança, porém, apenas 29% conseguiram

Casos de assédio, machismo e diferença salarial ainda são comuns no mercado de trabalho. Líderes comentam os desafios de ser uma mulher num ambiente ainda dominado pelos homens

São Paulo, novembro de 2023 – Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 19 de novembro como o Dia do Empreendedorismo Feminino. Mais de 150 países aderiram ao calendário alinhado ao quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que busca alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres em todo o mundo, porém, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Instituto FSB, as mulheres ocupam apenas 29% dos cargos de liderança na indústria brasileira contra 71% das posições de decisão ocupadas por homens. Outro dado mostra ainda que só 14% das empresas têm áreas específicas dedicadas à promoção de igualdade de gênero no local de trabalho. A pesquisa foi divulgada em março deste ano.

Apesar de sua participação minoritária em posições gerenciais, muitas análises apontam que as mulheres apresentam desempenho superior e até mesmo melhores resultados financeiros do que os homens, além de impulsionarem a performance de uma empresa em relação aos princípios socioambientais e de ESG (Environmental, Social e Governance em português, Ambiental, Social e Governança). É o que indica um trabalho realizado pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

Em geral, das empresas com mulheres líderes, 52% apresentam notas ESG elevadas (acima de 97,23 pontos no Arabesque S-Ray). Esse percentual cai para 48% entre as empresas totalmente masculinas. Quando a liderança feminina já chegou ao nível de conselho, a diferença é ainda maior: 72% a 24%.

Segundo a mesma pesquisa, os instrumentos mais usados pelas empresas para diminuir a desigualdade entre homens e mulheres na indústria são:

Paridade salarial (77%);

Política que proíbe discriminação em função de gênero (70%);

Programas de qualificação de mulheres (56%);

Programas de liderança para estimular a ocupação de cargos de chefia por mulheres (42%);

Licença maternidade de seis meses (38%).

Embora ainda exista uma grande desigualdade de gênero no mundo todo, muitas companhias estão trabalhando para mudar esse cenário. Por isso, elencamos a seguir, uma lista com dez mulheres líderes em diferentes áreas de atuação. 

  1. Bella&Co 

A maior fabricante de cortinas da América Latina possui um grande time de mulheres em diversos cargos de liderança. Tatiana Hoffmann é Gerente de Produtos e está na empresa há 17 anos. A especialista desenvolve e pesquisa novidades no setor para o lançamento de novos produtos. “É muito prazeroso iniciar como assistente e com o decorrer dos anos ir conquistando o espaço e a confiança do time, principalmente da equipe externa que é na sua maioria masculina, mas com muita resiliência e entrega de um bom resultado conquistei a Gerência de Produto”, diz.

Conforme Erica Stolaruk, Gerente de DHO – Desenvolvimento Humano e Organizacional -, ser uma líder mulher no mercado hoje ainda tem seus desafios, porém ela percebe que houve muita evolução neste tema no mercado. “Sinto que estamos em um processo de desenvolvimento que ora dá passos para frente, ora para trás, porém o balanço final, em minha opinião, é positivo. Em meu contexto de trabalho hoje não percebo entraves no processo por ser mulher, porém sabemos que essa realidade existe no mercado, e muitas vezes ainda nos pensamentos das pessoas, ainda que não em comportamentos”. 

Para Raquel De Souza Teodoro Machadodiretora industrial, todos têm desafios na vida independentemente dos gêneros e daquilo que desejam conquistar. “Uns almejam mais e outros querem apenas viver ou sobreviver. O mercado de trabalho é bastante carente em relação a bons profissionais que estejam dispostos a realizar grandes projetos e trazer bons resultados. O que percebo é que muitos querem os bônus e status que o cargo possa oferecer, mas não fazem ideia da trajetória necessária para alcançar esses altos cargos que exigem muitos resultados”. 

Ela também comenta que se para os homens que têm uma história muito mais longa e que até hoje são maioria na alta gestão já é desafiador, imagina para as mulheres que ainda estão há pouco tempo nesse universo. “Nós sofremos todo tipo de preconceito, temos que escutar piadinhas, somos muitas vezes ignoradas e ainda assim somos extremamente exigidas por resultados e competências muito mais do que homens na mesma posição”.

Segundo ela, embora, por um lado, seja desafiador para as mulheres chegarem à alta liderança, por outro, é gratificante demais quando alcançam essas posições e podem inspirar outras mulheres a entender que é possível. “Eu venho de uma família desfavorecida financeiramente onde a minha mãe foi a provedora do lar, criando seis filhos sozinha. Sempre admirei a minha mãe por ser uma mulher guerreira, forte, decidida e muito justa e apesar de trabalhar muito para trazer o nosso sustento, ela sempre colaborou com a nossa educação e nos incentivou estudar para que tivéssemos uma boa formação”.

Desde muito cedo, Raquel teve que assumir a responsabilidade dos cuidados da casa e dos seus irmãos por ser a filha mais velha. “Com 14 anos, ingressei no mercado de trabalho como menor aprendiz. Desde então nunca fiquei desempregada e amo trabalhar! Para mim o trabalho dignifica e nos fortalece. Todas as minhas conquistas profissionais foram a base de muita dedicação, coloco todos os meus esforços para obter os melhores resultados”. Apesar de enfrentar preconceitos por ocupar um cargo especialmente masculino, ela diz que procura não dar muita importância para certos estereótipos. “Sou obstinada pelas entregas e me sinto realizada quando visualizo os resultados alcançados por meio do crescimento do negócio”.

  1. Bling

Daniella Doyle é head de Marketing do Bling, sistema de gestão da Locaweb Company. A especialista está à frente de toda a estratégia de marketing e comunicação, além da gestão de desempenho da empresa. Com vasta experiência em cargos de gerência ao longo da carreira, a executiva ajuda a promover a proposta de dar mais liberdade às empresas que querem crescer rapidamente, focando exclusivamente nos seus negócios. Daniella possui graduação em Jornalismo e também em Publicidade e Propaganda, além de especialização em Gestão de Mídias Digitais e Inteligência de Negócios, Processos Criativos em Palavra e Imagem, Comunicação Interna para Relacionamentos Estratégicos e Gestão Estratégica de Marketing na mesma universidade.

Para a executiva, a presença feminina em cargos de liderança está aumentando, porém, ainda há arestas a serem aparadas. “Entre os fatores que acredito serem fundamentais para que continuemos avançando no quesito diversidade de gênero nas empresas é justamente assegurarmos um espaço corporativo seguro para que tais discussões possam ser trazidas sem represálias e desdém”, comenta.

  1. Logan 

O Grupo Logan, líder em marketing móvel na América Latina, também conta com líderes femininas em seu time. Silmara Reis Salles é uma delas. Formada em Publicidade e Propaganda e pós-graduada em Comunicação Corporativa pela Anhembi Morumbi, possui 14 anos de experiência no mercado. Seu currículo integra empresas como: Editora Símbolo, o Portal MINHA VIDA, Editora Globo, Smartclip e Teads. Iniciou no time Logan em 2017 e atualmente ocupa o cargo de General Manager Brasil & Portugal.  “As mulheres vêm ganhando espaço no mundo corporativo de alguns anos para cá, mas ainda enfrentamos muitos obstáculos, tendo sempre que provarmos nossa capacidade dia após dia para nos mantermos em alta no mundo corporativo. Muitas empresas estão mudando esse cenário e melhorando seu quadro de mulheres em cargos de liderança nos últimos anos, essa mudança traz vários benefícios às companhias. Torço para que esse movimento continue crescendo para sairmos desse cenário de liderança corporativa cheia de testosterona, precisamos de mais emoção, empatia e jeitinho feminino”. 

Ela conta que já passou por experiências ruins ao longo da carreira, onde sua capacidade foi julgada por ser mulher, e define esse ato como aterrorizante e desrespeitoso. “Desde que me tornei líder, foco sempre em ajudar as mulheres e fazer esses trabalhos de empoderamento entre mulheres, sem competições, pois no machismo estrutural que a sociedade vive, as mulheres têm que competir não somente com os homens, mas entre elas também. Além disso, me sinto no dever de influenciar as pessoas para ter um ambiente de trabalho agradável, onde as pessoas se respeitam, e tem admiração entre elas. Já passamos da época de trabalhar com pessoas que puxam o tapete da outra, ou vivem em uma competição para tirar vantagem. Temos que ter empatia pelos colegas de trabalho independente de sexo, idade ou gênero. O mercado de trabalho tem espaço para todos os bons profissionais”, conta.

Jéssica Campos, também faz parte deste time. Formada em Administração de Empresas pela FGV, atua há 13 anos no ramo publicitário com passagens em empresas como Navegg, YContet e Batanga Media. No Grupo Logan desde 2018, hoje Jessica é Client Service Director Latam. “Ser uma líder mulher no mercado de trabalho é uma jornada desafiadora e recompensadora. O que mais me encanta nessa posição é a oportunidade de inspirar e capacitar outras mulheres”.

Atualmente, Jéssica lidera um time composto por 11 pessoas, das quais 70% são mulheres. “Consigo acompanhar de perto o crescimento e desenvolvimento de cada uma delas e isso é muito gratificante. Há cinco anos, surgiu a oportunidade de construir uma equipe na Logan. Graças a uma liderança totalmente horizontal e a um ambiente de trabalho de alta qualidade, consigo trabalhar e aprimorar minha liderança em conjunto com meu time. Acredito que, com determinação e apoio, podemos alcançar o sucesso e romper barreiras na busca da igualdade de gênero no mundo corporativo”.

Para Ana Matoso, ainda há muito o que fazer, mas com certeza, muito já foi feito. “No Brasil, vemos grandes líderes mulheres que nos inspiram muito, mas para mim – Ana – mulher precisa de apoio próximo e de suas ‘inspiradoras do dia a dia'”, diz a publicitária com mais de 23 anos de experiência em publicidade e vendas, que iniciou sua carreira como atendimento em agências, atuando na área comercial em grandes empresas como LatinAmérica, Grupo RBS, Boo-Box, Azul, Outdoor Social BR, Banco 24horas. Hoje, o desafio inclui o foco em todos os outros mercados do país. No cargo de Backbone Services, a especialista é responsável pelas parcerias de grandes veículos na Logan.

“Sabe aquela gestora que conversa, entende e sabe ser firme e imponente, sem borrar as unhas? Sabe aquelas “amigas PJ” que são donas de seus pequenos negócios (barra empregos), que tem que suar e se organizar todos os dias para se manter? Para ajudar financeiramente a família? Para criar filhos? Ou ainda aquela que precisa gerir uma empresa (mais todos os seus 359 mil papéis) e consegue “puxar” todo mundo pra cima, chegando ao resultado de grandes metas sem nenhum tipo de agressão ou desrespeito? É dessas ’empoderadas’ do dia a dia que falo. Porque são elas que formam novas gestoras e novas empreendedoras. São empoderadas e empoderadoras. E são elas que contribuem muito com a melhoria (ainda bem tímida), mas já real e palpável do cenário do empreendedorismo feminino”.

Outro ponto importante que Ana cita são as redes de apoio para mulheres que estão se expandindo muito. Grupos, eventos e mentoria voltados 100% para mulheres estão se tornando bem comuns. Isso cria uma comunidade vital para aquelas que desejam criar seus próprios negócios, independente do setor e do tamanho. E quando uma rede de mulheres se forma, uma força se cria, um incentivo, um encorajamento real. “Tenho muito orgulho da minha construção como mulher gestora. Empoderei muitas (e muitos) e fiz eles acreditarem e fazerem muito mais do que pensavam que poderiam”.

Ela diz seguir em frente em busca de um cenário cada vez mais justo, “onde não teremos mais que enfrentar de forma desigual uma oportunidade de trabalho ou de negócio, de salário ou de posturas que diferenciam profissionais pelo seu gênero”.

  1. Mombora

Kazumi Kawasaki Ramos é cofundadora e responsável pela área de P&D e Operações da Mombora, marca de alimentos com ingredientes 100% naturais e nativos do biomas brasileiros, fundada com o intuito de inovar e conectar a experiência com consciência. Para isso, a empresa oferece alimentos livres de conservantes e qualquer ingrediente artificial. 

A engenheira de alimentos formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutora em Tecnologia de Alimentos pela mesma instituição conta que sua jornada como empreendedora tem sido incrivelmente gratificante. “Com a minha participação na construção da Mombora, vivencio um aprendizado constante, onde tenho muita liberdade de criação. É realmente algo que me motiva a cada dia, mas também é uma jornada com muitos desafios que, muitas vezes, foram potencializados pelo simples fato de ser mulher”. 

A cofundadora da empresa ressalta que, infelizmente, até os dias de hoje, nas negociações e relações no mundo corporativo, ainda tem que lidar com situações de abuso psicológico, questionamento de capacidade e menosprezo. 

“Aqui na Mombora buscamos fazer diferente. Acreditamos muito no potencial e empoderamento das mulheres, somos mais de 70% e, como empreendedora, espero inspirar outras mulheres a seguirem seus sonhos”, diz.

  1. Tecnofit

A Tecnofit, principal plataforma de gestão fitness do Brasil, conta com algumas lideranças femininas, como é o caso de Ana Galvão, formada em Administração e com pós-graduação em Marketing Digital e Liderança de Equipes. A executiva ocupa o cargo de Coordenadora de Suporte na Tecnofit.

Para Ana, estar em um cargo de liderança faz com que ela sempre busque entregar sua melhor versão para a equipe. “A ansiedade em assumir um cargo de liderança é forte, mas é ele que me faz querer ser minha melhor versão todos os dias, sempre buscando apoiar meu time e ser a inspiração positiva que eles precisam para que, assim como eu, tenham coragem para chegar onde quiserem”, destaca.

A área de produtos da empresa também tem uma líder capacitada. Elisa Morgenstern tem mais de seis anos de atuação na área, ocupando o cargo de coordenadora de produto (PLG). Elisa é formada em Administração, com pós-graduação em Gestão de Marketing. 

Devido a qualidade da executiva, a ascensão dela dentro da empresa foi alcançada de maneira natural. “Essa minha jornada até a liderança dentro da Tecnofit ocorreu pois a empresa enxergou uma oportunidade de negócio junto com minha capacidade de liderar e, com isso, construímos essa nova posição em que atuo hoje. É uma relação de confiança e parceria, buscando tanto o crescimento da empresa quanto do colaborador”, comenta.

A Tecnofit também conta com Thays MohrHead de People da empresa, que lidera há mais de dez anos as áreas de Recursos Humanos. Thays é psicóloga e possui MBA em Gestão Estratégica de Negócios e pós-graduação em Gestão de Pessoas.

“Gerir pessoas é um papel desafiador, mas muito gratificante, principalmente quando você tem a oportunidade de plantar e colher. Ver pessoas que desenvolveu indo cada vez mais longe, e saber que você de alguma forma fez parte desta conquista é o que mais motiva um líder”, ressalta Thays.

Autor:

Ygor Jegorov

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