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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Magia e memórias que desafiaram as chamas

A lua crescente avisava que a cheia estava chegando e com ela Ana sentiria novamente aquela sensação de redescobrimento e renascimento do seu próprio eu.

Quando havia mudanças nas estações, Ana sentia o frenesi em suas entranhas, mostrando que seu poder mais oculto se sobressairia. O poder de sedução.

Em frente ao espelho, observava com cuidado as inúmeras rugas que desenhavam seu rosto, trazendo-a à realidade de que aquele ano completaria duzentos e oitenta anos. Mas aquilo para ela não importava, era apenas um número como outro qualquer, pois com a chegada da lua cheia, aquelas linhas de expressões sumiriam por alguns dias e ela poderia gozar daqueles momentos como sempre o fizera.

Ao tirar sua vestimenta surrada do tempo, abriu a gaveta daquele armário velho e retirou de lá um vestido que há muito tempo não usava: decotado, na cor turmalina, com uma fenda muito generosa e costas nua.

Ao se vestir, sentiu-se uma jovem de vinte e dois anos, cheia de vida e a energia era gritante dentro de si.

Como num passe de mágica, seus olhos cansados a deixaram em paz e deram uma trégua para que seus olhos esverdeados resplandecesse novamente e todas as suas expressões a transformaram em uma mulher extremamente desejável. Nem parecia aquela bruxa de duzentos e oitenta anos que há segundos estava à sua frente.

O sino da igreja em frente à sua casa tocou avisando-a que mais alguns dias ela teria a frente para desfrutar daquela imagem que via à sua frente.

Ana estava tão perfeita que qualquer tipo de maquiagem era dispensável. Seus traços germânicos e sua pele alva, davam todo o deslumbre naquela mulher que mais parecia ter saído de uma fantasia.

A alegria de Ana irradiava o ambiente, transformando tudo ao seu redor. Aquele casebre, caindo aos pedaços se transformava pouco a pouco em uma casa ornamentada por obras raríssimas e cheias de mistérios. O espelho velho que Ana se olhava, transformou em um espelho mágico que mostrava as melhores versões dela.

Inebriada por aquela sensação, Ana sabia que aquilo tudo era fugaz, mas ela vivia o momento presente como se fosse o último dia de sua vida.

De repente ela virou-se para a lareira. O crepitar da lenha trouxe lembranças doloridas de quando fora perseguida, mas, que felizmente conseguira fugir, o que não foi a mesma sorte de seus familiares, mas ela preferiu viver o agora. Agora ela estava linda, plena e exalava pura sensualidade em seu vestido turmalina e estava disposta a viver aquele momento sem pensar no que havia vivido. Não importava mais. Ela não tinha o poder de mudar o que havia acontecido, mas tinha o poder de mudar o agora. Pensando nisso, abriu uma garrafa de um vinho tinto seco e degustou aquela bebida pensando em como usar o tempo a seu favor.

Foi para o quintal de sua casa e fez questão de atear fogo naquelas madeiras e começou a dançar ao redor daquela fogueira que a lembrava a todo momento que ela vencera mais um ano de vida e mais um ano seria promissor para ela, como ela sentia que seria e foi.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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