Enquanto dirigia, as lágrimas no seu rosto lhe traziam lembranças de quando o conhecera.
Era ainda uma adolescente quando a vida lhe presenteou com aquela doce paixão. Um homem cheio de bagagem a conquistou logo que foram apresentados.
Grisalho, alto, intelectual e muito bem resolvido, ele não se esforçou muito para ganhar o coração dela.
Apesar de sua pouca idade, ela se esforçava para mostrar a ele que era uma “menina” de atitude e sabia onde queria chegar.
Não demorou muito para ele fazer um convite inusitado à ela: largar tudo e começar uma nova vida na capital federal.
Nascida no interior, tinha raízes profundas naquele lugar, mas não pensou duas vezes em aceitar aquele pedido que mais parecia uma declaração de amor.
Abandonou tudo e não olhou para trás. Se permitiu viver com toda intensidade aquela paixão que lhe renderia vinte e sete anos de convivência.
Apesar da diferença de idade entre eles ser gritante, aquilo nunca foi um obstáculo para eles, pelo contrário, as ideias se somavam e eles se completavam.
Estando ao lado dele, tinha certeza de que nada nem ninguém poderia separá-los até que ele pôs fim àquele relacionamento que parecia ser indestrutível.
Mesmo estando separados, não tinha um só dia que ela não pensasse no quanto havia crescido e amadurecido ao lado dele e no tanto que ele representou em sua vida. Ele foi um marido que fez a vida dela ter mais sentido e ela lamentou estar ali, em frente ao hospital para visitá-lo na UTI.
Ao estacionar o carro, enxugou as lágrimas que jorravam em seu rosto e se deu conta de que não era apenas ele que estava na UTI, mas ela também se sentia lá. Ao constatar isso, reuniu todas as forças que haviam dentro de si e buscou as melhores lembranças daqueles anos que vivera ao lado dele afirmando para si mesma que aquela visita não seria o seu último adeus ao homem que ela tanto amou e que, de certa forma, foi responsável pela mulher que se tornara.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos
