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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Pra quê Teologia? – Parte II

No final de 2014, graduei-me Bacharel em Teologia. De lá pra cá, todas as vezes que me perguntam sobre minha graduação e respondo, acham, no mínimo, esquisito.

Bengt Hägglund, teólogo sueco em seu livro intitulado ‘História da Teologia’ responde a essa questão. Analisando os períodos antigos, medieval e moderno da história da igreja cristã no mundo, o autor aponta para uma teologia transformadora, questionadora e libertadora. Não uma regra que deixa o ser humano limitado, mas um conjunto de conhecimentos que analisa o surgimento, desenvolvimento e por vezes apagamento das mais diversas doutrinas religiosas, cristãs ou não cristãs.

Assim, a Teologia estudará a fé, as mais diversas linguagens religiosas, a defesa dessa posição, a história da religião cristã, de outras religiões e também da igreja, por um ponto de vista histórico, sociológico, filosófico, cultural e linguístico. Dessa forma, apoiada em outras áreas do conhecimento, a Teologia surgirá na intenção de explicar o mundo: os fatos, as coisas, as interpretações, os porquês.

No campo dos estudos teológicos, algumas áreas específicas surgirão, como a hermenêutica, que ajudará na interpretação dos textos religiosos a partir de um ponto de vista filosófico (questionador), a apologética, que é um conjunto de ensinos e discursos voltados à defesa da fé cristã, a arqueologia bíblica, que remete a uma investigação científica dos fatos bíblicos e todo seu contexto histórico, o campo da linguística, que estudará línguas como aramaico, hebraico e outras que fizeram parte da história religiosa dos povos antigos, enfim.

Em um determinado período histórico, a teologia era limitada ao conceito de ciência que estuda dogmas. Isso foi, entretanto, um limitar ao potencial desse campo investigativo. A necessidade de compreender não apenas a religião cristã, mas também outras formas religiosas, pontos de vista, cosmologia e cruzamentos de ideias, fatos esses aliados também à inclusão das mais diversas religiões e credos, levou a criação de outro campo de conhecimento: a Ciência das Religiões.

Por vezes confunde-se a teologia com a ciência das religiões. Precisamos, entretanto, deixar claro cada uma. A Teologia concentrará seu foco na religião cristã, também chamada de evangélica e bíblica. As vezes que beber de fontes religiosas outras, ou analisar fatos históricos e sociais relacionados, terá a intenção de compreender com mais afinco os fatos do cristianismo e da igreja. A ciência das religiões concentrará sua investigação em como uma religião é formada, questionará o porquê de uma determinada religião, as formas de impacto em um indivíduo e em um determinado grupo social, o contexto histórico e social, enfim. Ela falará também da Teologia, mas de muitas outras. A intenção da ciência das religiões é questionar, provocar o indivíduo a refletir sobre questões pertinentes voltadas ao ato religioso.

No Brasil essas duas graduações (licenciaturas) permitem o ensino religioso nas escolas. Essa é uma grande questão a ser debatida e não cabe aqui nesse momento entrar com muitos detalhes. O ensino dessa disciplina é opcional, e quando em exercício, deve-se manter a ética e respeito às mais diversas formas plurais de pontos de vista religiosos, ou mesmo a ausência desses. É importante mencionar que a atuação desse profissional, o professor de religião, deve-se pautar em apresentar as mais diversas formas religiosas sempre com o viés de promover o respeito à diversidade religiosa, o diálogo de pessoas com pontos de vista diferentes e a inclusão dos mais diferentes grupos sociais.

Por fim, é muito importante mencionar que o Bacharel em Teologia não se limita à vocação religiosa. O Bacharel, campo de ensino desenvolvido na intenção de formar pesquisadores científico/acadêmicos, volta seus olhares ao contínuo ato de estudar, pesquisar e analisar fatos e saberes, apontando à pós-graduação e mesmo ao ato de ensinar. Assim, os campos de atuação desse profissional são os mais variados: vocacional religioso (pastoreio, bispos, apóstolos), professores nos mais diferentes níveis de ensino, setor privado, terceiro setor, capelania militar (ou outras formas de capelania), enfim. Esse profissional deve, entretanto, não ser exclusivamente confessional em seu discurso, de modo a limitar a abordagem de seu exercício profissional, mas o mais inclusivo possível, sempre respeitando os valores e os pontos de vista diversos.

A Teologia é, então, um olhar feito para o caminho. Analisando o caminho, criam-se outros, desbravando um conhecimento que aí está para ser questionado, debatido e entendido. Nadar nas águas desse conhecimento é aventurar-se por terras estrangeiras, sentindo-se como um forasteiro que chega em um ambiente e experimenta novas sensações. Finalizo com uma frase do Teólogo C. S. Lewis, conhecido pela criação da saga literária ‘As Crônicas de Nárnia’, quando diz que: ‘[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho’.

Autor:

Josué Carlos Souza dos Santos. Doutorando em Educação. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo

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