A dor da partida

Doeu.

Doeu demais a partida.

Foi como se algo tivesse sido tirado de dentro da alma dela.

E doeu.

Ah, como foi dolorido…

Como ela gostaria que tivesse sido diferente. Como ela gostaria que tudo tivesse sido escrito à lápis para poder apagar todas as marcas deixadas para trás, mas não era possível; foi escrito à caneta tinteiro, a que borra e que mancha.

Possivelmente doeu no outro também, ou não, mas a dor que habitou o seu ser naquele instante foi o suficiente para saber que ela amou muito um dia e a partida foi a mais dolorosa possível.

No frigir dos ovos, ela teve consciência de que tudo tinha que ter acontecido daquela forma, mesmo que tenha sido de supetão. Foi necessária a partida para dar espaço para o seu autoconhecimento e se ver livre da codependência.

Ah, a codependência! Como ela é cruel! A fez esquecer de quem realmente era e viveu a vida do outro sem perceber que estava desfazendo do seu próprio eu. Desvencilhar desta cilada foi a tarefa mais árdua para ela, uma vez que ficou pendurada, um esperando pelo outro, como uma gangorra que depende do outro para manter o equilíbrio que nem sempre veio. Não havendo esse equilíbrio, que é primordial, só um lado conheceu o horizonte, enquanto o outro só sentiu a lama.

Mas, ela acreditava em um novo encontro nesta vida, quiçá em outras.

Ganhando tempo pensando desta forma e se reformulando para ser uma pessoa melhor para o amor que a vida haverá de lhe apresentar, desejou amar sempre aquele partiu, com nuances diferentes de tudo o que já viveram juntos.

Enquanto isso não acontecia, se certificou que tomou a decisão certa ao deixar para trás seu grande amor e chorou. Um choro sentido, com pesar e a sensação de ter fracassado. Essa sensação de fracasso logo foi dissolvida quando pensou no tanto que se doou e se entregou de corpo e alma para aquele relacionamento que mais parecia ser para sempre e não foi.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos