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sábado, 23 de novembro de 2024

Falando de economia

Plinio Reis de Cantanhede e Almeida foi engenheiro, mas como muitos de nós dedicou-se às ciências econômicas e à administração e participou de realizações interessantes para o desenvolvimento do país, além de ter, como docente de economia, mostrado o entrelaçamento das teorias econômicas e a profissão do fazer, do transformar programas, projetos e algumas vezes até de sonhos em realidades concretas pela força da vontade e da lógica aplicada ao possível e ao exequível.

Plínio nasceu em 1910, em sua vida ocupou diversos cargos no Estado e lutou por importantes causas da nossa soberania. Foi Presidente do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, antes que os institutos de seguridade social fossem reunidos no INSS. Em 1950  assumiu a presidência do Conselho Nacional do Petróleo e integrou as comissões de construção das refinarias de Mataripe, na Bahia, e a de Cubatão, no estado de São Paulo. Atuou fortemente na campanha “O Petróleo é Nosso”, como diretor do Jornal Debate, do Rio de Janeiro, um dos principais veículos na defesa dos interesses nacionais.

Teve participação na implantação da CSN e foi seu presidente de 1974 a 1979. Como prefeito de Brasília (1964-1967) procurou humanizar a cidade pela arborização e plantio de gramados, o que lhe valeu o título de Prefeito Jardineiro.

Foi por muitos anos presidente do Clube de Engenharia do RJ.

Fui aluno do Prof. Plínio no último ano do curso de engenharia. Economia era matéria do final do curso para que tivéssemos maturidade técnica e pudéssemos perceber que a engenharia era o coroamento da economia, era a via para a materialização dos projetos e intenções.

Um ano inteiro, aulas aos sábados das 7h às 12h. Formal, elegantemente trajado, falar pausado e claro. Para suas aulas, a turma estava sempre completa. Os encontros se constituíam em palestras eruditas, estado-da-arte em economia e administração, tudo emoldurado na história econômica e na conjuntura nacional, que ele vivia no cotidiano. Inesquecível!

Terminada a aula, a melhor parte, explorávamos sua vivência, ao que ele nunca se furtava. Penso que a informalidade que se estabelecia era do seu agrado. As perguntas e respostas sobre tudo: petróleo, aço, figuras do governo – atuais e passadas –, oportunidades para o futuro. Como um colega mais velho, o homem elegante, de aparência até sofisticada, se transformava em um de nós, e sentíamos nele o entusiasmo de nos orientar para a vida profissional que se estava iniciando.  

No início dos anos 80, tive a oportunidade, como Diretor da Faculdade de Tecnologia da UnB, de recepcioná-lo para a formatura, cujos concluintes o homenageavam por seus serviços a Brasília e à Engenharia. Na cerimônia de formatura pude publicamente lhe dizer das muitas verdades que aprendi com ele.

O tema desta crônica surgiu quando me recordei, de ao lhe perguntarmos num fim de aula:

 – Prof. Plínio, qual é o principal fator que deve existir para que um grande projeto alcance o êxito para o qual foi pensado?

De pronto, veio sua resposta:  – Admitindo-se a proficiência técnica do projeto, os aspectos humanos e psicológicos é que ditarão o sucesso ou fracasso. Os condutores do projeto têm que internamente buscar a coesão da equipe. Em um grande empreendimento há muito que se dar de pessoal, de sacrifício. Mas em nenhum momento pode-se perder a confiança de quem encomendou o serviço. Se isso ocorre, é como o tirar o tapete debaixo dos pés da equipe. Esse compromisso deve ser bem ajustado antes do empreendimento sair da prancheta!

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Depois de um longo suspense, o ministro Haddad apesentou o Arcabouço de sua Reforma Fiscal, conjunto articulado de ideias que, se tornado em providências, pretende conduzir o país ao equilíbrio das contas públicas e como consequência ao retorno do crescimento econômico sem choques e sem truques. É essa a proposta.

Pelo que me foi dado observar e pelo que ouvi de especialistas isentos, o plano é sensato e não abre espaço para aventuras de tentativas de crescimento acelerado da economia, via gastos sem compromissos com o futuro, na base do “Diz que Deus dará, Não vou duvidar, ô nega E se Deus não dá …..”

– Bem, aí, a gente usa aquela ideia de que ao invés de procurar solucionar o problema que a irresponsabilidade criou, arranja-se um culpado, isso é mais fácil.

A montagem da proposta foi delicada procurando não criar grandes choques entre os diversos setores da economia, numa espécie de trabalho de artesanato econômico. Certamente que a execução exigirá os mesmos cuidados para o leite não derramar.

A maior oposição ao Plano Haddad virá do seu próprio partido, da sua ala radical, que não se sente compromissada com os acordos que Lula fez com outras correntes políticas para vencer as eleições.

O grande problema de Haddad nos próximos dias será o fogo amigo. Os que como eu, apenas analisamos fatos, vemos boas probabilidades de o plano conduzir a resultados positivos, mesmo que modestos. Essa é uma ótima oportunidade de o país sair da paralisia que o acomete há anos.

É preciso dar um rumo à sociedade brasileira e não dar ouvidos aos que pretendem desconstruir a estrutura socioeconômica nacional para reeditá-la nos moldes existentes em Cuba, Nicarágua, Venezuela, Argentina.

O bom senso, dentro das circunstâncias, é o Plano Haddad, melhor será apoiá-lo e torcer por ele.

Crônicas da Madrugada.

Brasília, abril de 2023

Autor:

Danilo Sili Borges
danilosiliborges@gmail.com
Membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Diretor de Ciências do Clube de Engenharia de Brasília

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