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segunda-feira, 17 de junho de 2024

A Elaboração e a Organização Técnica de Um Texto

Como Definir a Habilidade de Produção e de Leitura de Um Texto? Como Obter Coesão Textual? Quais São os Elementos Estruturais de Um Texto? Como Elaborar Um Parágrafo? Quais São as Três Modalidades de Coerência Textual?

Para que um texto seja bem elaborado e compreensível pelo leitor, é necessário que ele apresente uma estruturação adequada ao tipo e ao gênero apresentado. Assim, seu sentido será dado por sua organização interna, valendo-se de elementos contextuais que darão suporte às ideias nele contidas.

Nesse artigo, nossa intenção é que você analise a estrutura de um texto dissertativo, além de compreender a organização de um parágrafo-modelo para que sua produção textual cumpra o papel proposto. Além disso, aplicará os conceitos de coesão e coerência, compreendendo que o sentido do texto se dá em uma organização coesa e coerente de seus elementos.

O sentido de um texto não é dado somente por seu vocabulário, pois ele também é construído por fatores externos. Ou seja, informações que não estão contidas no texto, mas que o leitor deverá lançar mão para compreensão da leitura. A habilidade de produção e de leitura de um texto verbal escrito é definida pelo contexto que envolve o texto. Uma mesma sentença poderá ter interpretações diferentes, se produzida em contextos distintos. Observe as sentenças a seguir:

  • (1) A Mata Atlântica está sendo destruída pouco a pouco.
  • (2) Essa água pura, vinda direto da fonte, mata minha sede

A palavra “mata” foi usada em duas situações diferentes: (1) com o significado de floresta; (2) com o significado de saciar, satisfazer. Assim, dizemos que o contexto é uma unidade linguística maior em que uma unidade linguística menor está inserida. Ou seja, a palavra está inserida no contexto da frase que, por sua vez, insere-se no contexto parágrafo, dando contexto maior ao texto em sua totalidade.

No exemplo acima podemos dizer que, a partir da leitura das sentenças, não houve necessidade de buscar entendimento fora delas. A esse tipo de contexto denominamos de “contexto explícito”; ou seja, a explicação está no próprio texto. Já o “contexto implícito” diz respeito a algo externo ao texto. Exemplo: “Vila passa sem luxo, mas com samba no pé”. Para entendermos o que o título da reportagem sugere, são necessárias algumas inferências:

  • “Vila” é o apelido carinhoso dado à escola de samba Unidos de Vila Isabel, do Rio de Janeiro
  • “Sem luxo” faz referência ao uso de fantasias e alegorias simples, singelas, sem ostentação
  • “Com samba no pé” remete ao objetivo maior dos desfiles carnavalescos, quer seja, o de sambar na avenida

Lembrando que essas são possíveis interpretações desenhadas a partir somente da leitura do título da reportagem. Com a leitura aprofundada do texto é que poderemos saber se a interpretação está de acordo com o que o repórter quis expressar ou não. Em relação ao texto, o contexto diz respeito ao que está fora, ou seja, informações que não estão explícitas no texto, mas que devem ser acessadas para sua compreensão.

Vejamos o seguinte exemplo: “Para Mercadante, fala de Temer estava fora do contexto”. A “fala” mencionada no título da reportagem foi enunciada pelo vice-presidente (da época) Michel Temer, sobre a presidente, Dilma Roussef, não resistir até o final do mandato e, a resposta, foi do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

Situações como essa são comuns na mídia e, um recorte mal feito de uma fala ou de uma escrita, resultará numa interpretação equivocada. No exemplo dado, o que se percebe é o contexto sendo usado como argumento, como recurso para explicar uma fala que produziu um desconforto para o governo, à época.

Elementos Estruturais do Texto

O texto é tido como um todo estruturado de forma coesa, una e coerente. Para isso deve haver uma ligação entre as frases que, por sua vez, devem estar em acordo com o parágrafo, demonstrando um sentido único a ser dado quando de sua leitura e sua interpretação. Para que um texto seja considerado como tal, deve apresentar três qualidades essenciais: unidade, coerência e coesão. Desse modo, o texto deve apresentar cinco elementos essenciais, conhecidos como “elementos estruturais”. São eles:

  • Saber Partilhado: Conhecimento compartilhado com os indivíduos
  • Informação Nova: Dado novo apresentado pelo texto; nova maneira de ver o mesmo fato
  • Provas: Fundamentação das afirmações feitas pelo autor
  • Referência: Assunto do texto, sobre o que o texto trata
  • Tema: Perspectiva sobre a qual o texto foi construído

Estrutura do Texto

Um texto deve seguir uma sequência lógica, ordenado de modo a estabelecer uma estrutura que delimite seu início e seu final. Uma dissertação, tipo textual que tem recebido um foco maior em nossa disciplina, está assim estruturada:

  • Introdução – chama o leitor para o assunto do texto. É um convite para a leitura, uma apresentação daquilo que será exposto no texto
  • Desenvolvimento – exposição progressiva do tema, com apresentação de argumentos e ideias que darão sentido ao texto
  • Conclusão – momento em que se faz uma retomada das ideias abordadas ao longo do texto, convergindo em seu fechamento

Essa é a estrutura mais adotada em textos do tipo dissertativo e, para que haja perfeita sincronia entre os elementos que compõem o texto, mantendo sua estrutura, é necessário que seus parágrafos também sigam uma ordenação sistematizada.

Elaboração de Parágrafo

Parágrafo significa a divisão de um texto em partes conectadas e coesas, as quais são responsáveis por dar o formato de texto. Vamos analisar um parágrafo para compreendermos como sua estrutura está estabelecida e qual sua função:

(1) A alimentação balanceada é a chave para uma vida saudável. (2) Para que isso ocorra, é preciso comer bem e na hora certa, com atenção à qualidade nutricional dos alimentos ingeridos. Além disso, combinar os alimentos e prepará-los de modo a retirar deles os nutrientes essenciais e adequados também trarão resultados eficazes ao comportamento alimentar. (3) Essas atitudes certamente irão auxiliar na busca por uma vida mais saudável e com alimentação adequada

Dividindo o parágrafo em partes, temos o seguinte: 1) Introdução:  A alimentação balanceada é a chave para uma vida saudável; 2) Desenvolvimento: Para que isso ocorra, é preciso comer bem e na hora certa, com atenção à qualidade nutricional dos alimentos ingeridos. Além disso, combinar os alimentos e prepará-los de modo a retirar deles os nutrientes essenciais e adequados também trarão resultados eficazes ao comportamento alimentar; 3) Conclusão: Essas atitudes certamente irão auxiliar na busca por uma vida mais saudável e com alimentação adequada

A Introdução (1) apresenta a ideia principal que dominar o parágrafo. Essa ideia chama-se tópico frasal que, nesse caso, refere-se à alimentação saudável. No Desenvolvimento (2), o tópico frasal é desdobrado em ideias secundárias, apresentadas de forma esclarecedora do tema abordado. Ou seja, o que é necessário fazer para se alimentar de forma saudável.

O encerramento da ideia central do parágrafo é dado na Conclusão (3), momento em que se retoma o tópico frasal e, caso o texto tenha continuidade, encaminha-se para o parágrafo seguinte. Em nosso exemplo, temos um fechamento com o termo “essas”, remetendo ao que foi exposto anteriormente.

Coesão Textual

A coesão é fator indispensável para produzir sentido em um texto. Por meio dos elementos de ligação, forma-se um texto coeso e com sentido próprio, proporcionando ao leitor a interpretação necessária em certas situações de comunicação. O estudo dessa modalidade de coesão textual se dá por dois tipos de conectivos:

  • Os Anafóricos – termos que servem para retomar outros termos esboçados no texto
  • Os Catafóricos – termos que antecipam outros que serão mencionados na sequência textual

A coesão se dá pelo uso dos conectores, também chamados operadores discursivos. Exemplos de Conectores: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas assim, daí, dessa forma, isto é. Cada um desses termos estabelece relação semântica clara, indicando causa, finalidade, conclusão, contradição, entre outras possibilidades. Por isso, ao escrever, é necessário utilizar o conector adequado para produzir a relação desejada.

Exemplo: “Vila passa sem luxo, mas com samba no pé”. Para o texto apresentar o sentido desejado, o conectivo “mas” foi fundamental. Ele definiu a ideia de que, mesmo sem luxo, a escola de samba mostrou que é possível apresentar um espetáculo de cultura carnavalesca com o samba no pé. A coesão pode ocorrer de três maneiras:

  • Por Referência – utilizando-se pronomes, advérbios, artigos definidos, quedarão o sentido de fazer referência a algo que já foi ou será dito. Exemplo: Elisa saiu e esqueceu-se de sua bolsa
  • Por Elipse – omissão de algo que já foi referido. Exemplo: Às quintas, Joana faz dança e (Joana faz) aula de piano
  • Por Escolha Lexical – uso de palavras ou expressões com significados próximos para evitar a repetição. Exemplo: O Rio de Janeiro é um lugar extraordinário, com paisagens belíssimas. Mas a cidade maravilhosa está perdendo seu encanto em meio a tanta violência
  • Por Substituição – retoma o que foi dito por meio de um conectivo ou expressão. Exemplo: Choveu muito ontem à noite. Por isso, não haverá jogo hoje à tarde

Já na coesão por “Justaposição” é realizado o sequenciamento das ideias. Esse sequenciamento pode ser temporal, de ordenação, para introduzir uma nova ideia etc. Exemplo:

  • Sequência Temporal: Depois, meses depois, uma semana antes, um pouco mais cedo
  • Ordenação: Primeiramente, em seguida, a seguir, finalmente
  • Introdução de Novo Tema ou Assunto: À propósito, por falar nisso, mas voltando ao assunto, fazendo um parêntese

Coerência Textual

É algo que se estabelece na interação, na interlocução e numa situação comunicativa entre dois usuários. A coerência segue o princípio de interpretabilidade do texto e, a fundamentação da coerência, dependerá do estabelecimento de fatores como elementos linguísticos, conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, inferências, relevância e intertextualidade.

Basicamente, existem três modalidades de coerência textual:

1) Coerência Narrativa: Deve apresentar uma sequência lógica de fatos a fim de contextualizar a situação narrada. Exemplo: A fábrica estava repleta de preguiçosos. Nada ia para frente. Solange, a supervisora de produção, foi até a gerência comunicar a situação. Passou 2 horas por lá. Quando voltou, já tínhamos terminado todo o lote.

Qual a incoerência desse relato? Ora, se todos eram preguiçosos, como o lote todo poderia ter sido terminado durante a conversa da supervisora com a gerência? Só fará sentido se esclarecermos o contexto, pontuando que, por receio de serem demitidos, os funcionários resolveram trabalhar.

2) Coerência Argumentativa: Em um texto, devemos desenvolver um assunto atentando para alguns desdobramentos ao longo da argumentação: dados, analogias, conclusões. Tem-se um pressuposto e, a partir dele, são realizadas as considerações. Se as conclusões não estão amparadas pelos dados apresentados, então se comete a “Incoerência Argumentativa”.

Exemplo: “O cigarro e a bebida alcoólica fazem parte das drogas ilícitas que o jovem maior de idade consome em nosso país. O poder de liberdade dado a esse público faz com que comecem a usar esses produtos cada vez mais tarde”

Analisando o exemplo acima, observa-se duas incoerências: (1) A exposição do cigarro e da bebida alcoólica como drogas ilícitas no Brasil, o que não é verdade. (2) Está na 2ª sentença, pois se os jovens têm liberdade, poderiam começar a usar bebida alcoólica e cigarro cada vez mais cedo, e não cada vez mais tarde. As afirmações não têm suporte de verdade, ficando  desamparadas e incoerentes.

3) Coerência Descritiva: Neste caso, a coerência diz respeito à determinada descrição

Exemplo: em um relatório de estágio, o estudante descreve a seguinte situação: “Fui contratado para trabalhar no turno matutino. Meu trabalho no escritório consistia em checar os e-mails do setor de atendimento ao cliente, sempre antes das 14h”. A incoerência está na descrição temporal: se o estagiário foi contratado para trabalhar no turno matutino, não poderia realizar qualquer tipo de serviço na parte da tarde.

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Julio Cesar S Santos
Professor JULIOhttps://profigestaoblog.wordpress.com/
Professor, Jornalista e Palestrante. Articulista de importantes Jornais no RJ, autor de vários livros sobre Estratégias de Marketing, Promoção, Merchandising, Recursos Humanos, Qualidade no Atendimento ao Cliente e Liderança. Por mais de 30 anos treinou equipes de Atendentes, Supervisores e Gerentes de Vendas, Marketing e Administração em empresas multinacionais de bens de consumo e de serviços. Elaborou o curso de Pós-Graduação em “Gestão Empresarial” e atualmente é Diretor Acadêmico do Polo Educacional do Méier e da Associação Brasileira de Jornalismo e Comunicação (ABRICOM). Mestre em Gestão Empresarial, especialista em Marketing Estratégico

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