Ao contrário do que muitos pensam, a indústria da moda não é um setor um setor frívolo, vão ou efêmero. Pessoalmente, as roupas traduzem uma personalidade e, historicamente, até mesmo informações sociais e espirituais. Para a economia, é um pilar na geração de empregos e renda.
No mundo todo, o setor é avaliado em US$ 3 trilhões. No Reino Unido, a moda vale £ 26 bilhões para a economia. É a segunda maior atividade econômica mundial com relação à intensidade de comércio, empregando mais de 57 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, 80% das quais são mulheres.
Durante a pandemia, com restrições rígidas de contato presencial, o segmento impulsionou as vendas online no Brasil. Apesar dos fechamentos de lojas físicas, muitas dessas empresas puderam encontrar uma segunda chance em manter ou expandir o faturamento no e-commerce.
O isolamento social acabou sendo um acelerador para diversas tendências e movimentos de mercado, pois a moda precisou praticar em um curto período as mudanças e estratégias que, em um cenário normal e seguro sem pandemia, demorariam anos para serem realizadas pela maior parte das marcas.
Com o retorno progressivo da vida normal, este ano o setor apresenta um menor crescimento se comparado ao boom de 2020 e 2021. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) estima que o faturamento em moda nos primeiros seis meses deste ano tenha sido de R$ 6,5 bilhões, o que representa cerca de 2% de crescimento. Um aumento tímido se comparado com o de 2021 para 2020, que foi de quase 20%.
Alguns fatores explicam esses dados, como: o menor crescimento geral do e-commerce em 2022, que foi de cerca de 5% no primeiro semestre, quando se esperava mais de 6%; o aumento do preço dos combustíveis, que subiu o preço do frete, e, se pensarmos que a categoria de moda e acessórios tem ticket médio abaixo dos R$ 200 reais, o frete pode representar de 5% a 10% do valor da entrega do produto.
Outro fator foi o preço da matéria-prima, nesse caso o algodão, que teve alta de 41% em 2021. Se já não bastasse, existe a previsão de crescimento do PIB de apenas 1,5% para 2022, o que ainda não é suficiente para a recuperação da categoria no pré-pandemia.
Segundo as associações do setor, o crescimento deste ano pode ficar em torno de 1,1%, considerando o varejo tradicional mais o online. Estima-se que o e-commerce possa representar algo em torno de 6% do share de vendas de moda e acessórios.
Em termos de qualidade de serviços, o segmento tem investido muito na segurança da compra, resolvendo problemas de troca com aumento do prazo, acima do que é determinado pelo Código do Consumidor, além de permitir que muitos produtos sejam trocados em lojas físicas.
Podemos observar no Reclame Aqui, por exemplo, que os grandes varejistas do segmento procuram resolver todos os problemas e têm avaliações acima de 8, numa escala de 10, o que demonstra compromisso com os clientes.
A moda é um setor totalmente atrelado à criatividade e é por meio dela que o mercado mira seu aquecimento.
As mídias sociais sempre desempenharam um papel muito importante nas estratégias de marketing e branding para as marcas do setor de moda. Durante a pandemia, não foi diferente, principalmente com a popularização do Tiktok no Brasil. Hoje, há um forte movimento de moda na rede social do momento com as famosas “trends”. Influenciadores digitais promovem os produtos experimentando roupas e acessórios, sem falar nas promoções oferecidas aos seguidores das marcas.
A utilização de marketplaces também vem impulsionando as vendas, já que as lojas podem utilizar toda a estrutura montada pelos grandes players para oferecer seus produtos, pagando uma taxa de comissão sobre as vendas.
Além da venda de produtos novos, o setor também cresce na economia circular. Empresas como Arezzo, Renner, C&A, estão fazendo investimentos em empresas que revendem produtos usados, com o objetivo de atender o público que está interessado na economia sustentável. Esse mercado pode representar já cerca de R$ 1 bilhão no Brasil.
É se reinventado, ressignificando metas e estratégias e utilizando sua essência criativa que o setor de moda busca apoiar sua retomada e, além disso, seu papel fundamental na economia do Brasil e do mundo.
Autor:
Alexandre Crivellaro é diretor de inteligência de mercado da ABComm, entidade que fomenta o e-commerce com conhecimentos relevantes e auxilia na criação de políticas públicas para o setor – e-mail: abcomm@nbpress.com