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terça-feira, 19 de novembro de 2024

TODOS OS VERÕES QUE GUARDEI PRA VOCÊ

Um dia eu olhei nos seus olhos, confiei meus segredos, dediquei meus poemas, me despi das minhas inseguranças. O meu erro foi ter me despido mais do que das minhas inseguranças, também deixei de lado meus gostos, meus trejeitos, minhas cores que nunca voltarão. Me deixei lá atrás onde o sinal estava vermelho. Como um motorista que dirige embriagado, eu fui imprudente e continuei o caminho direto até você. Nele achei buracos, nele não tinha iluminação, nem sinalização. Eu só segui na promessa de chegar até o litoral. Guardei todos os meus verões pra você, me neguei a viver qualquer instante de calor se não fosse com você. Cheguei até o litoral e encontrei um inverno abrupto, qualquer promessa de brisa de esperança tinha ido embora ali. Passei noites frias, onde tudo o que você me deu foi ausência e descaso, noites escuras onde não conseguia enxergar meu valor. Em tardes melancólicas eu vi meu reflexo no mar, e lá estava uma imagem que você moldou, eu era produto das suas inseguranças e metas que não alcançou. Quando percebeu que eu já não era quem cruzou o sinal vermelho procurou várias outras versões de mim que talvez pudessem dar certo. Foi difícil encontrar o caminho de volta até mim quando tudo que eu fui foram versões que você idealizou. Eu encontrei você diversas vezes no meio do caminho porque você adorava dizer como eu não supria suas expectativas. Eu fui sua paixão de verão que morreu no inverno, mas ainda bem que várias outras estações e ciclos aguardavam por mim.

Daniel Willian
Daniel Willianhttps://odanwill.com
24 anos, paraense, comunicador e fotógrafo

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