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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

O quê vai mudar em 2022?

Ao picotar o tempo, os humanos criaram o futuro e inventaram a esperança.

Aos 25 anos, aportei em Brasília em março de 1967, para ser assistente do Prof. Aderson Moreira da Rocha, este incumbido pela UnB de implantar seus cursos de engenharia. A Universidade buscava excelência na implantação da nova faculdade, para superar crise política que sobre ela se abatera. Com a construção de Brasília em tempo recorde, a interiorização do desenvolvimento, o programa rodoviário cujo ícone era a Belém-Brasília, a industrialização, a construção de barragens para produzir a energia para o desenvolvimento a engenharia estava em alta. As escolas deveriam formar profissionais para a produção da riqueza, da economia real, aprendendo com quem sabia fazer isso. Aderson reuniu para orientar as diversas especialidades os melhores profissionais-professores existentes na época, tanto para a Engenharia Civil, quanto para a Mecânica e a Elétrica. Os que conheciam das ciências e dos canteiros de obras, dos laboratórios e do chão das fábricas. Esses convocavam jovens que julgavam talentosos para virem em caráter permanente.

Alinhavo tudo isso para falar da transição do ano de 1967 para 1968, minha primeira passagem de ano em Brasília.

Naquela época, após a segunda quinzena de dezembro, a cidade constituída de jovens esvaziava. Todos queriam passar as festas nas cidades de origem. Zélia e eu resolvemos ficar. A nossa gravidez ia pelo meio, com enjoos e indisposições. Sós, Zélia e eu, recebemos, de bom grado, o convite do colega engenheiro Miguel Zwi, para passarmos o festejo da transição de 67 para 68 com sua família. O saudoso amigo era naquela altura importante profissional da Hidroservice, conceituada empresa do Professor Theophilo Othoni, que o deslocou para atender aqui o programa da UnB e demandas empresariais.

Miguel esteve conosco por dois ou três anos e foi logo requisitado para atividades fora de Brasília.  Ao passar dos anos, seu nome ficou inscrito entre os melhores de sua especialidade no panteão dos grandes engenheiros brasileiros. Sempre professor e engenheiro de projetos e obras, uma atividade alimentando a outra, como deve ser. Um dia, os responsáveis pela educação dos engenheiros brasileiros vão entender essa obviedade.

Trago o contexto, para relatar o episódio que anualmente, durante todas essas décadas me faz lembrar aquela passagem de ano. Reunidos na sala ampla do apartamento da SQS 305, aguardávamos, degustando vinho e as maravilhas que Dona Mimi havia produzido, penso que da tradição judaica para ocasiões festivas. Janelas abertas ouvíamos músicas e conversas e risos dos apartamos vizinhos, clima de festa na espera da troca de ano. Os meninos mais velhos filhos do casal estavam agitados, a todo momento chegavam à janela, perscrutavam os céus, davam-se conta de foguetes esporádicos. Nos minutos que antecederam meia-noite, os garotos ocuparam a janela, atentos, aquela era a primeira vez que passavam acordados a transição. Vivas! Abraços! Os melhores desejos e pensamentos positivos para o bebê que na barriga de Zélia estava a crescer.

Acabadas as efusividades, observei a expressão de decepção do menino mais velho, então, com uns 7 anos. “Não vi nada, não mudou nada, não aconteceu nada. Está tudo igual”. Devido à expectativa criada pela mídia e por todos nós, a simplicidade do jovem esperava uma marcação cósmica, universal do evento, por exemplo, o aparecimento precoce do sol, ou a explosão de uma estrela, por pequena que fosse, mas nada, era muito sem graça e no seu entender, incompreensível.

Os humanos aprenderam a picotar o tempo para acompanhar a sazonalidade e se anteciparem aos cuidados necessários à própria proteção, mas ao criar o futuro, inventaram a esperança e a dizer “dias melhores virão”.

E daí, tornaram-se exímios em manipularem expectativas.

 “A era dos combustíveis fósseis está com os dias contados, daqui para a frente só energia limpa”. Os presidentes, afirmam que em 10 anos “só carros elétricos em nossas ruas”. Mas há coisas que não dizem, ou porque não sabem, ou porque sabem e não querem contar. Como vão produzir a eletricidade para essa demanda. O que se conhece como energia limpa hidroelétrica, eólica e fotovoltaica serão insuficientes, a primeira por ter suas fontes praticamente exauridas e as outras por limitações tecnológicas. Há então uma limitação a ser vencida. O que está na prancheta dos planejadores e ainda não largamente divulgado?

Com a tecnologia atualmente disponível como movimentar os grandes navios e seus containers, sem os combustíveis derivados do petróleo? E as aeronaves que ligam todos os pontos do planeta em horas?

Na segunda metade do século XX, admitia-se que a produção de energia elétrica se faria pelas grandes centrais nucleares. O problema então era o lixo radioativo gerado, que não se resolvia, mas que se empurrava para as gerações futuras. Acidentes de grandes proporções interromperam o entusiasmo dessa solução, que agora volta a pauta, com usinas de porte pequeno, mais baratas, mas que não eliminam os problemas de segurança e do destino dos rejeitos radioativos. Bill Gates é um dos promotores dessa solução e afirma: ”Seremos capazes de construir usinas a prova de erros de qualquer imbecil”, atribuindo os acidentes pretéritos a erros humanos. Engenheiros sabemos que não há obras com 100% de segurança. No caso de usinas nucleares, acidentes sempre serão grandes catástrofes.

Interesses poderosos pretendem classificar a energia nuclear como forma de energia limpa.

“Se correr, o bicho pega…”

Crônicas da Madrugada.

Autor:

Danilo Sili Borges, membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA. Brasília – Jan.2022
danilosiliborges@gmail.com

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