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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O bloco do libera geral

É com grande alívio que a população está recebendo a orientação de que pode deixar de usar a máscara protetora do contágio da Covid em locais abertos. Justifica-se essa medida, que vai sendo rápida e progressivamente tomada pelas autoridades administrativas, em presença dos altos índices de vacinação alcançados no país, que se deve a fatos históricos, que é oportuno serem relembrados, até por ilustrarem situações atuais. O perigo está em haver o entendimento apressado de que o inimigo foi posto a nocaute definitivo e irrecuperável e abandonarmos, de vez, os cuidados recomendáveis, por excesso de confiança e de alegria extremada. Máscaras ao fogo! Aí reside o perigo.

País tropical, o Brasil esteve desde os primórdios de sua colonização sujeito a ter que lidar com endemias de causas diversas, principalmente de origem hídrica. O Rio de Janeiro, sua capital desde 1763, era evitado por visitantes por ser considerado cidade doentia. Com o surgimento das vacinas e as maciças campanhas públicas de vacinação no final do século 19, a situação se foi alterando. A salubridade da região se completou com o saneamento da Baixada Fluminense nos anos 30 do século passado, que erradicou diversas viroses transmitidas por mosquitos.

Nas campanhas pela saúde pública, notabilizou-se o médico Dr. Oswaldo Cruz – que dá nome ao conceituado Instituto Fiocruz, do Rio de Janeiro. Mais que ninguém, sabedor do poder de contágio das doenças, com o aval do Presidente Rodrigues Alves, o médico implantou a vacinação contra a varíola, em caráter obrigatório, o que gerou forte reação na população. Instalou-se o que ficou conhecido como a Guerra da Vacina, na qual Oswaldo Cruz – e o governo – foi vencido. O tomar ou não vacinas era decisão voluntária e estava decidido. Data, 1904.

Os problemas são recorrentes. Esta semana, o Dr. Oswaldo Cruz, 117 depois, outra vez, perdeu a Guerra da Vacina, agora para o Ministro Onyx Lorenzoni, que baixou a Portaria MTP 620, de 1º de novembro, que não permite às empresas exigirem dos empregados sua vacinação contra a Covid.

A vacina confere proteção não apenas ao indivíduo isoladamente, mas principalmente à comunidade à qual ele frequenta, daí a necessidade de sua obrigatoriedade. É por isso que não pode ser uma decisão pessoal vacinar-se para estar no ambiente de trabalho. Garantida a liberdade individual, põe-se em risco todos os outros colegas do que não quer se vacinar. O limite de toda liberdade é o direito do próximo. Neste caso, o direito à vida.

Um exemplo simples pode esclarecer: Suponha que seu vizinho do apartamento do andar superior resolva guardar 500 litros de gasolina em seu apartamento para se proteger dos atuais aumentos frequentes. É óbvio que isto põe em risco todo o bloco e essa situação deverá ser levada às autoridades pelo síndico e proibida. O processo civilizatório acaba por alcançar até os mais recalcitrantes. Pode levar tempo, causar dores e mortes, porém acaba por se impor.

Com o passar dos anos a vitória foi da civilização, muitas doenças estão controladas. A varíola completamente erradicada, a poliomielite com as vacinas Sabin e Salk, em vias de erradicação, com notável contribuição do Rotary International. O ponto alto na Saúde Pública brasileira é seu sistema de vacinação, que mostrou neste episódio da Covid-19 toda sua competência. Nesta data, 56% dos brasileiros estão imunizados com vacinação completa, um outro parâmetro numérico, no entanto, preocupa e deve merecer atenção.

A Taxa de Transmissão (Rt) mede a capacidade de contágio na população. O Imperial College de Londres faz sistematicamente essa medição a partir dos dados oficiais do país. Na semana passada, o valor para o Brasil era de 0,68, isto é, cada 100 contaminados, transmitiam o vírus para 68 novos infectados, podendo-se inferir o decréscimo da pandemia. Nesta semana, o índice passou a 1,04, sinalizando 104 novos doentes para cada 100 infectados, portanto, pandemia em alta, entre nós.

A primeira constatação que faço é a rápida alteração deste índice. A liberação do uso das máscaras em locais abertos, como que sinalizou o fim da pandemia, o que é reforçado pela liberação do número de torcedores nos estádios de futebol e em outras manifestações públicas. Aglomerações ainda que em locais abertos são fontes de contaminação.

Notícias recentes dão conta do aumento de casos em países europeus nos quais medidas de proteção tinham sido abrandadas, tendo em vista bons resultados dos processos de vacinação, que os fazem pensar em voltar a eles.

A sensação de liberdade, do “já passou”, que vai tomando conta de todos nós pode ser perigosa. Começam agora as comemorações de fim de ano, na escola, no trabalho, na família. Logo estaremos envolvidos com as promoções carnavalescas depois de um ano em que foliões mantiveram presos na garganta seus gritos, requebros e pandeiros guardados. Temo que os cuidados sejam esquecidos e que venhamos a ter uma recidiva do mal.

Forte campanha de esclarecimento deve ser desencadeada pela mídia para que se evite um retrocesso.

Crônicas da Madrugada.

Autor:

Danilo Sili Borges, membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA. Brasília – Nov.2021
danilosiliborges@gmail.com

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