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sexta-feira, 26 de abril de 2024

A sucessão na PF II

A Delegacia de Polícia Federal em Santos tem nova chefia. Publicado no Diário Oficial desta semana, 31/08, a nomeação da Delegada Luciana Fuschini Nave homenageia a cidade e o porto de Santos, os santistas nascidos e moradores, distingue os funcionários da Polícia Federal, lotados na própria delegacia, retoma os valores internos do exercício da policia judiciária, da antiguidade e do reconhecimento de trajetórias individuais.

Operacional, foi a Delegada Luciana quem apreendeu os mais de 1.200 tabletes de cocaína embalados em sacos de carvão vegetal encontrados nos terminais Mesquita e Rodrimar no porto de Santos/SP em agosto de 2005. A maior apreensão de drogas no porto, até então. Assumiu o Plantão da Delegacia, ainda na praça da República, sozinha, em meio à greve de Policiais Federais e aos ataques contra alvos policiais do grupo criminoso paulista, em 2006, primeiro semestre.

Atuante, era daquelas policiais federais, mulher e mãe, que podia ser encontrada nos vôos (o jato ERJ 145 da PF), para os quais eram convocados policiais federais sem destino revelado instruídos a portar apenas uma muda de roupa para pernoite em algum quartel do exército. De repente, Goiânia/GO, por exemplo. Perspicaz, presidiu o inquérito que apurou o furto de equipamentos de informática reservados para inauguração da nova sede na delegacia na rua Riachuelo. Recuperou os equipamentos, encontrou o responsável e o encaminhou à justiça.

Destemida, defendia a importância estratégica da delegacia dentro do organograma do órgão e como peça chave para a implementação de qualquer plano de segurança pública frente aos muitos projetos de esvaziamento da repartição local, orquestrados por sucessivas gestões desinteressadas pela atividade fim da PF e descomprometidas com a região e suas demandas.

 Companheira e desprendida assumia a defesa dos colegas policiais perseguidos por opinião, em substituição aos omissos órgãos classistas que não cumpriam sua missão. Este perfil essencialmente marcado pela presidência de investigações e postura crítica da condição vivenciada pelo delegado, nos últimos anos, dentro da instituição, paralisou a carreira da Delegada Luciana Fuschini e de tantos outros.

Esta nomeação sinaliza uma verdadeira revolução na política de escolha de policiais para os cargos de comando da PF. Enfim, mais um Delegado (no caso, Delegada) que não pertence à irmandade que dirigiu a polícia federal nos últimos anos, trocando comandos entre si como na brincadeira de “Escravos de Jó”. As sucessões na PF e a carreira de Delegado de Polícia Federal destravaram positivamente com o sacudir de árvores promovido pelo governo Bolsonaro.

A Delegacia de Polícia federal em Santos/SP foi criada para exercer todas as atribuições legais e constitucionais que a Polícia Federal recebeu, nas regiões da Baixada Santista e Vale do Ribeira, de Bertioga ao sul até a divisa do Estado de São Paulo até a divisa com Estado do Paraná. Uma descentralizada da Polícia Federal e não da Superintendência em São Paulo, capital. Inclua-se nesta responsabilidade o maior porto do país, o Polo Industrial de Cubatão/SP, o pré-sal, áreas de preservação ambiental e até algumas aldeias indígenas existentes em nosso litoral.

Para missões de tanta envergadura e importância econômica para o pais, a Delegacia recebera efetivo suficiente, equipamentos, tais como o mais equipado Núcleo de Polícia Marítima (NEPOM) do pais, lugar de destaque nas consultas e formulações de planos nacionais e estaduais de Segurança Pública, área para construção de sede adequada com afetação para uso exclusivo inscrito em cartório registro de imóveis, localizado no bairro do Jabaquara aos fundos da Santa Casa de Santos/SP e, sobretudo  orçamento próprio como unidade gestora 200362.

Com efeito, a relevância da região para o PIB e o desenvolvimento nacionais fez com que a União instalasse entre nós representações de órgãos federais com o mesmo porte ou maior que muitas capitais. A Policia Federal, no entanto, em movimento contrário aos interesses regionais e ao combate ao narcotráfico e contrabando desenvolveu um processo de enfraquecimento institucional da delegacia e de desdouro aos servidores locais que passou pela devolução à União da área destinada para nova sede e terminou com Portaria n° 5410-DG/DPF, de 01 de junho de 2015 que cassou a autonomia administrativa e financeira da Delegacia de Policia Federal em Santos/SP.

A dinâmica silenciosa de desvigorar a Delegacia Federal de Santos que não mereceu, à época, a atenção da sociedade organizada e das autoridades locais e nem da imprensa, pode agora estar com os dias contados. Com a Delegada Luciana encontraremos comprometimento com a região. Isto já foi demonstrado, por exemplo, quando da mudança de sede na Pça da República para um prédio reformado na rua Riachuelo (onde está até hoje) conseguindo arrastar para a cerimônia de “inauguração” que ela organizou o Ministro da Justiça Tomas Bastos e as respectivas autorizações para e a utilização das instalações do CONCAIS, em zona primária.

 A Delegada Luciana, nasceu e construiu sua história pessoal e profissional na cidade de Santos. Ativa, voluntariosa e capaz, acumulou nos últimos dois anos as funções de polícia Judiciária, a Chefia do núcleo de imigração em Santos/SP com a coordenação da Cesportos – A Comissão Estadual de Segurança Pública nos Portos, Terminais e Vias Navegáveis,

A missão será difícil. Ela precisará dos esforços de todos na Delegacia e de toda a comunidade envolvida. Não é simples recuperar o ambiente interno de entusiasmo e nem superar a comoção nacional causada pela luta contra a pandemia.

Reunir pessoas em torno de uma causa é sua outra característica, no entanto. Ninguém pode duvidar de quem conseguiu a adesão de todo efetivo policial para campanha de doação de medula óssea, em outro momento difícil para a Delegacia.

Autor:

Jose Roberto Sagrado da Hora

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