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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Cemitérios – segunda ou terceira onda??

Até a presente data, na cidade de São Paulo, já foram feitos aproximadamente 26.532 sepultamentos e devemos considerar, no mínimo, mais de 1.000.000 de litros de necrochorume que irá percolar pelo solo dos cemitérios até alcançar o aquífero freático.

Em situações como essa, onde vários corpos são sepultados ao mesmo tempo devemos ter o cuidado de tomar medidas mais efetivas afim de evitar esse escoamento continuo pois quanto maior a quantidade de corpos sepultados em um mesmo cemitério maior será essa quantidade de necrochorume. A partir do momento que todo esse contingente alcança o aquífero freático poderemos ter endemias oriundas da água não tratada e que serve de veículo para vários vírus e bactérias nocivas ao ser humano.

Mesmo que esse material não alcance o aquífero freático ainda teremos a problemática da quantidade enorme de metais potencialmente tóxicos que ficarão retidos no solo podendo, também, a médio e longo prazo causar malefícios para o meio ambiente. Vários trabalhos acadêmicos indicam que em condições normais de sepultamento a um acréscimo de metais chegando até a ultrapassar os valores permitidos por lei. Como estamos em uma situação epidêmica, esses valores com certeza irão aumentar consideravelmente podendo tornar o solo improprio para o manuseio convencional.

A cidade de São Paulo possui 22 cemitérios públicos, sendo que parte deles não possuem sepultamento por inumação (sepultamento direto no solo), fato esse que limita mais ainda os locais onde podem ser sepultados os cadáveres que morem abruptamente, portanto com essa problemática passamos a ter também um colapso nos cemitérios restantes.

Fazendo uma visita a um cemitério em São Paulo notei que haviam vários caixões empilhados aguardando sua vez para ser sepultado, na minha humilde visão essa já era uma tragédia anunciada: aumento do número de casos de covid, aumento de internações(colapso), aumento de mortes e aumento de sepultamentos (colapso).

Retornando a nossa poluição e/ou contaminação um dos caminhos mais viáveis seria tratar o cemitério como um aterro sanitário ou seja impermeabilizar o solo com um sistema de direcionamento do necrochorume produzido assim ele não alcançaria o aquífero freático e poderíamos tratar esse material.

Quanto aos metais, considerando que os corpos demoram de 3 a 4 anos para se decompor em condições normais, poderíamos trabalhar com fitorremediação que consiste em plantar arvores com características específicas para retirar a maior parte dos metais potencialmente tóxicos do solo.

Esses não são processos que não demandam muito tempo, nem tão pouco dinheiro e são processos que podem ser executados em todos os cemitérios do pais desde que sejam feitos sepultamentos por inumação. Seguindo protocolos simples como esse teremos ganhos  em termos ambientais a médio e longo prazo.

Autor:

Francisco Carlos da Silva é Químico e professor das Secretarias Estadual e Municipal da Educação de São Paulo, mestre em Análise Geoambiental pela Universidade de Guarulhos e doutor em Ciências Ambientais pela Unesp-Sorocaba.

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