A Administração Pública não pode mais operar sem dados. Hoje, a governança eficaz exige tecnologia, pois a gestão manual e processos analógicos se tornaram obsoletos.
O Brasil, hoje, se destaca no cenário mundial como referência digital, especialmente por iniciativas como a plataforma Gov.br, que consolidou o acesso digital a serviços governamentais federais. No entanto, quando se trata do nível subnacional, como Estados e Municípios, a realidade ainda é muito distinta.
Apesar da presença da tecnologia nas Administrações Municipais e Estaduais, muitas vezes as ferramentas utilizadas são obsoletas. Desde 2002, com a criação da primeira Lei do Pregão, houve um impulso na contratação de sistemas para a gestão pública, já que o procedimento se tornou mais simples. Contudo, a falta de capacitação técnica na elaboração de especificações adequadas fez com que governos locais permanecessem presos a sistemas antigos.
Por isso, o cenário mais comum é de Prefeituras que utilizam soluções tecnológicas desatualizadas, dificultando a modernização dos serviços. Essas ferramentas obsoletas, em regra, não são compatíveis com sistemas mais atualizados, impedindo integrações e eficiência na gestão. Servidores públicos que precisam viajar, por exemplo, enfrentam dificuldades em acessar informações remotamente, pois estão vinculados a computadores fixos. Isso gera lentidão na execução de tarefas e limita a produtividade do setor público.
Consequências da falta de atualização tecnológica
A defasagem tecnológica na gestão pública tem efeitos significativos na qualidade dos serviços prestados aos cidadãos. Entre as principais consequências estão:
- Demora na resposta aos cidadãos: um dos maiores impactos é o tempo que o cidadão precisa aguardar para obter serviços essenciais. Por exemplo, para solicitar um alvará é necessário comparecer fisicamente à Prefeitura, muitas vezes enfrentando filas, preenchendo formulários em papel e aguardando a tramitação manual do processo. Tal lentidão é inaceitável em tempos de digitalização, onde a automatização poderia reduzir significativamente o tempo de resposta.
- Riscos de extravio e na manipulação de documentos: o uso de documentos físicos aumenta o risco de perda, extravio ou manipulação indevida. Processos administrativos que ainda dependem de papel estão sujeitos a atrasos, além de problemas de segurança e integridade das informações.
- Baixa eficiência operacional: sem sistemas modernos e integrados, as prefeituras enfrentam dificuldades em otimizar processos. A falta de plataformas em nuvem, por exemplo, obriga servidores a estarem fisicamente nas repartições para acessar sistemas, impossibilitando uma gestão ágil e flexível.
- Falta de transparência: a burocracia e os processos manuais dificultam a rastreabilidade de informações e a prestação de contas à sociedade. Com sistemas desatualizados, fica mais difícil garantir transparência e controle sobre os serviços públicos.
Digitalização na gestão pública
A adoção de tecnologias modernas na Administração Pública pode transformar a experiência do cidadão e a eficiência dos serviços governamentais. Algumas das melhorias incluem:
- Atendimento digital e agilidade: sistemas integrados permitem que os cidadãos realizem solicitações online, sem a necessidade de deslocamento. Isso garante atendimento 24 horas por dia, eliminando a necessidade de folgas no trabalho, por exemplo, para resolver questões burocráticas.
- Automatização de processos: a tecnologia elimina etapas desnecessárias, reduzindo custos e melhorando a eficiência operacional.
- Acesso em qualquer lugar: com soluções baseadas em nuvem, servidores podem trabalhar remotamente, conferindo maior flexibilidade para a gestão pública.
- Maior transparência e controle: sistemas modernos permitem auditorias em tempo real, reduzindo a corrupção e garantindo a prestação de contas à sociedade.
- Soluções inteligentes: plataformas intuitivas simplificam o acesso aos serviços, guiando o usuário com base em suas necessidades, sem exigir que ele conheça a estrutura administrativa.
Desse modo, a modernização tecnológica na gestão pública não é mais uma opção, mas uma ação necessária para garantir uma gestão eficiente e transparente. Além disso, é comum que a economia gerada pelo uso da tecnologia supere o investimento necessário para a sua implementação, como é o caso da grande economia de recursos públicos quando se elimina o papel para a tramitação de processos administrativos.
Municípios e Estados que adotam soluções digitais conseguem otimizar seus processos, melhorar a experiência do cidadão e fortalecer a governança pública. Portanto, a modernização não deve ser encarada apenas como um desafio tecnológico, mas também como uma revolução na forma como o setor público pensa e age. O sucesso da transformação digital na gestão pública dependerá menos da tecnologia em si e mais da disposição dos gestores em reformular processos, quebrar paradigmas e colocar o cidadão no centro das decisões
Autora:
Delza Assis é especialista em Relações Institucionais e Governamentais da 1Doc, empresa especializada em soluções digitais para gestão pública. – E-mail: 1doc@nbpress.com.br