Quando criança, Lívia ia passar os finais de semana no trabalho de seu pai.
Aquele ambiente cinzento, rodeado de ferros para tudo que era lado e a falta de amabilidade no tratamento que o pai dispensava à ela, a deixava entristecida porque não estava na companhia de sua amada mãe naqueles dois dias.
Tentando não demonstrar sua tristeza, ela vagava por entre os ferros, procurando algo com que se ocupar. Observava com atenção tudo o que acontecia naquela metalúrgica, mas o que mais chamava a sua atenção era uma prancheta que havia no escritório de seu pai onde ele fazia seus inúmeros projetos. Lívia adorava ficar olhando os desenhos feitos pelo pai e perdia a noção do tempo quando ficava sozinha na sala dele olhando cada um.
Ela também observava com cuidado cada espaço daquela metalúrgica. Era um lugar cheio de trabalhadores braçais que eram muito atenciosos com ela, mas, com seus sete anos de idade, se sentia perdida no meio deles.
Muitos anos se passaram e seu pai partiu desta para uma melhor.
Quando se deu conta, Lívia estava na faculdade cursando Arquitetura e apesar de ver aquela prancheta à sua frente, em nenhum momento fez conexão com os finais de semana que vivera ao lado do pai porque não foram momentos memoráveis, pois naquela época ela era obrigada a estar na companhia daquele homem que era praticamente um estranho para ela.
Em contato com tantos projetos, ela achou que fizera a escolha errada, mas concluiu seu curso de graduação e seguiu em frente. O curso foi promissor em sua vida e ela, com seu capacete de segurança, fazia as visitas técnicas em cada obra que era contratada, mas, na maioria do tempo, pensava que não nascera para aquela profissão. A insegurança tomava conta dela por não se achar uma boa profissional, mas ela não desistia.
Quando ficou desempregada, Livia enveredou para um ramo mais glamouroso, e começou a trabalhar como designer de móveis, mas não ficou por muito tempo.
O tempo passou e ela foi contratada para trabalhar num galpão que a fez relembrar todo seu passado. Novamente ela se viu voltando às suas origens e tudo o que vivera ao lado do seu pai veio à tona, principalmente ao se deparar com aquela prancheta com projeto de uma estrutura metálica à sua frente.
O que ela não percebia era que aquele lugar cinzento de sua infância corria em suas veias, mas ela não se dava conta disso. Mas, ao invés dela sofrer pelo cinzento que insistia em estar em sua vida, ela coloriu sua história quando compreendeu que estava predestinada a estar naquele ambiente e que realmente nascera para aquela profissão.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos